O Estado de São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira, 13, que parte do ganho da Petrobras tem que ser revertido em “benefício”, inclusive voltado para o desenvolvimento nacional. O chefe do Executivo federal disse que a companhia não serve “só para lucrar” e que quer transformar a instituição “na grande empresa de energia do planeta Terra”.
“Uma empresa pública como a Petrobras serve não apenas para lucrar, mas para prestar serviços ao conjunto da população, e uma parte da possibilidade de seu ganho tem que ser revertido em benefício, inclusive do desenvolvimento nacional”, afirmou em evento de inauguração do Complexo de Energias Boaventura, antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), depois nomeado de Gaslub, em Itaboraí (RJ). Na avaliação do petista, o Brasil não pode ser um “mero importador de tudo”.
O antigo Comperj iniciou a operação de processamento de gás natural vindo do pré-sal apenas na quarta-feira, 11, 18 anos após o lançamento de sua pedra fundamental pelo próprio presidente Lula, e 16 anos após o início das obras. A comercialização só começa em outubro.
Quando as obras foram iniciadas em 2008, no segundo mandato do petista, o Comperj tinha previsão para entrar em operação em 2012. O complexo chegou a ser um dos símbolos da corrupção que originou a Operação Lava Jato na Petrobras, em 2014. Ao ser lançado, o investimento girava em torno dos US$ 6 bilhões, valor que foi sendo escalonado até cerca de US$ 14 bilhões, apesar do projeto não ter saído do papel.
Inicialmente, o projeto foi idealizado com objetivo de atrair o setor petroquímico para Itaboraí, um município pobre do Estado do Rio de Janeiro. Após interromper as obras por suspeitas de corrupção, o empreendimento ficou resumido à Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), e agora ganha uma nova configuração com unidades de produção de combustíveis e lubrificantes, além de duas térmicas que aguardam o leilão de reserva de capacidade do governo.
Nesta sexta, Lula rebateu críticas que a companhia já recebeu. Parte delas, inclusive, defende a privatização da empresa. Segundo o presidente, há ainda um “complexo de vira-lata” que perdura na cabeça de parte da população.
“Quantas vezes já tentaram privatizar a Petrobras? Quantas vezes tentaram mudar de nome da Petrobras? Quantas vezes disseram: ‘Temos que vender a Petrobras porque o petróleo vai acabar e vamos ficar com uma empresa que não presta para nada’? Isso é um bando de imbecil quem fala isso, é um bando de imbecil”, rebateu.
“Porque no dia em que acabar o petróleo, a Petrobras será a maior produtora de biocombustível deste País, maior produtora de etanol, de hidrogênio verde deste País. A Petrobras é mais do que uma indústria de óleo e de petróleo, é uma indústria de energia e vai produzir o que for necessário.”
Lula afirmou querer transformar a Petrobras na “grande empresa de energia do planeta Terra, da América Latina, da América do Sul e do Brasil”, complementou.
Ele disse que planeja formar mais profissionais para fazer com que a Petrobras continue sendo “a empresa motivo de orgulho do País”. “Àqueles que não gostam que eu fale isso, podem não gostar, porque eu não me importo. O que eu gosto é de saber que estou com a verdade quando defendo as empresas públicas brasileiras”, comentou.
O presidente também aproveitou o discurso para falar sobre a Operação Lava Jato. Segundo ele, “a tentativa” das investigações não era “prender corrupto”, mas “desmoralizar a Petrobras aos olhos da sociedade brasileira para depois falar: ‘Vamos vender’”.
“Mas, como eles sabem que o Congresso Nacional, mesmo sendo um Congresso conservador, ia criar confusão para não deixar vender a Petrobras, eles resolveram vender ativos da Petrobras”, disse. Segundo o presidente, o ato desta sexta-feira é uma “reparação ao que muita gente honesta sofreu” na Petrobras com as denúncias da Lava Jato.
No discurso, o chefe do Executivo também fez acenos à presidente da estatal, Magda Chambriard, e ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. “Queria dizer da minha satisfação com Silveira e Magda”, afirmou.
Investimento total
No mesmo evento, Magda disse que as obras de finalização e ampliação do complexo em Itaboraí e investimentos na refinaria Duque de Caxias (Reduc) somarão investimentos de R$ 20 bilhões.
Segundo a executiva, serão R$ 13 bilhões só para aumentar a produção de derivados local em 120 mil barris de petróleo por dia (bpd), fazendo a capacidade instalada saltar de 240 mil bpd para 360 mil barris bpd. Já para a ampliação da Refinaria de Duque de Caxias, disse Magda, serão R$ 7 bilhões em investimentos. O montante de R$ 20 bilhões não inclui obras já concluídas no Boaventura e nem outros projetos de expansão, como uma possível planta petroquímica no local.
“O Complexo Boaventura vai aumentar a produção de derivados do Estado do Rio em 50%”, afirmou.
Magda fez as afirmações durante o evento de inauguração do complexo, marcada pelo lançamento da unidade de processamento de gás natural (UPGN 1), que vai responder por metade da capacidade do projeto.
Serão, a princípio, 10,5 milhões de m³ de gás natural por dia, processados a partir do insumo que vai chegar do pré-sal da Bacia de Santos via gasoduto da Rota 3. A UPGN 2, já informou a Petrobras, entrará em operação com a mesma capacidade em um mês.
“Vamos trazer 21 milhões de metros cúbicos de gás por dia para a costa. Vamos construir duas termelétricas e diversas unidades de processamento. Isso tudo é muito grandioso”, disse Magda a um público formado majoritariamente por funcionários da Petrobras.
Segundo ela, trata-se de uma resposta às reclamações sobre reinjeção de gás em campos de petróleo a fim de aumentar sua produtividade. O novo gás a ser colocado como insumo energético no mercado, sugeriu, contribuirá para a expansão da indústria no País.
Segundo a executiva, o aumento da capacidade de produção do Boaventura vai diminuir a importação de diesel, GLP (gás de cozinha) e QAV feitas pela Petrobras e, portanto, pelo País. E isso, disse Magda, com o benefício de um baixo teor de enxofre e com combustíveis de última geração, cuja fabricação será viabilizada por obras a serem iniciadas em 2025.
Segundo a presidente da Petrobras, as obras do Boaventura vão gerar 10 mil postos de trabalho diretos e indiretos. E, depois de concluídas, serão outros 3 mil empregos permanentes na unidade.