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EPBR

A Petrobras deu uma resposta aos concorrentes, este mês, ao anunciar uma nova política de preços que promete baratear o gás natural para distribuidoras e oferecer produtos mais customizados – e competitivos – no mercado livre.
Concessionárias de gás canalizado e clientes industriais ainda aguardam as propostas formais, para entenderem melhor as novas condições – e os seus reais impactos.
Para o consumidor:
No mercado cativo, onde a maior parte dos volumes já está contratada a longo prazo, não são esperadas grandes mudanças, e sim uma reacomodação dos preços da estatal frente a um cenário de maior concorrência.
A Petrobras promete reduzir em até 10% o preço da molécula nos contratos vigentes. Esse desconto, contudo, pode ser limitado em alguns estados.
No mercado livre, por sua vez, as novas condições comerciais ainda não estão claras, mas fontes relatam que já houve uma mudança pelo menos na postura da petroleira — que, se antes mirava essencialmente os grandes consumidores, agora está abrindo mais o leque.
O preço da estatal ainda é uma incógnita, mas já mexe nas expectativas — e, por isso mesmo, concorrentes temem que as promessas da Petrobras freiem as negociações.
A Petrobras fez uma primeira rodada de apresentação das novas condições comerciais às distribuidoras. No encontro, deu algumas sinalizações:
• o desconto será dado apenas para uma parcela do volume contratado: 60% da quantidade diária contratada seguirá atrelada às condições vigentes e os outros 40% à nova precificação (fontes relatam algo da ordem de 11% do preço do Brent).
O impacto no preço vai variar, portanto, de concessão para concessão. Distribuidoras que têm contratos mais competitivos com a Petrobras, com fator Brent de 11,6% a 11,9%, por exemplo, sentirão menos os efeitos.
Há distribuidora, por exemplo, que já simula uma redução de 3% no custo de aquisição da molécula da Petrobras.
Realidade diferente da Naturgy, no Rio, que e tem contratos a 13,5% do Brent em 2024 e que pode ter uma economia mais perceptível.
• o desconto valerá até o fim de 2025 e para todos os contratos;
• mas dependerá de algumas pré-condicionantes associadas à performance.
Os detalhes dessas condicionantes só serão conhecidos nas negociações bilaterais, mas a expectativa é que o respeito às cláusulas de retirada mínima seja um dos itens incluídos nessa equação.
As condições dos novos contratos de suprimento ainda não são conhecidas. Tendem a ser apresentadas somente nas chamadas públicas das concessionárias, por uma questão concorrencial.
Não há uma clareza ainda se a nova gestão da estatal mudará a nova precificação – anunciada dias antes da demissão de Jean Paul Prates.
O vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse esta semana que pretendia conversar diretamente com Magda Chambriard sobre a necessidade de redução do custo do gás para a indústria.
O contato com as distribuidoras, no entanto, tem acontecido no meio da transição do comando da petroleira — cuja troca foi efetivada na sexta.
A expectativa das distribuidoras é que os aditivos aos contratos existentes, com as novas condições, sejam assinados nas próximas semanas.
Na avaliação do diretor de Estratégia e Mercado da Abegás, Marcelo Mendonça, a redução de preços ainda está aquém, mas bem-vinda. Segundo ele, a iniciativa deve pressionar os demais supridores privados a ajustarem seus preços para baixo nas próximas negociações.
“A sinalização de novo preço ainda não é o que gostaríamos, mas dá uma nova orientação para mercado, de que precisamos de gás mais competitivo” avalia.
No mercado livre, dois grandes clientes industriais consultados pela agência epbr relataram que têm mantido conversas com a estatal, mas que as propostas formais ainda não chegaram.
Existe uma expectativa entre os consumidores, pelas sinalizações da Petrobras de que haverá espaço para negociação da flexibilização de penalidades.
TIMING
Esta é a segunda reacomodação da Petrobras frente aos concorrentes, após a abertura do mercado.
Há um ano, a companhia já tinha lançado novos produtos no mercado. Reduziu os preços, flexibilizou cláusulas para diminuir os riscos das distribuidoras em caso de migração de clientes para o mercado livre e diversificou a combinação de prazos contratuais e indexações.
A interpretação, entre os concorrentes, é que a petroleira começou a enxergar um risco maior de perda de mercado e decidiu se reposicionar.
Fato é que os dois principais centros consumidores de gás do país começam a ensaiar os primeiros movimentos no mercado livre.
Em SP, a Edge estreou no mercado livre. Já assinou contratos com ao menos três empresas do setor de cerâmica: Delta Porcelanato, Grupo Cecafi e Grupo Lef. No Rio, a CSN negocia a migração.
Traders que operam no mercado relatam que a tendência é que aqueles potenciais consumidores livres que estavam fazendo suas contas, para viabilizar uma migração para o mercado livre, segurem mais um pouco a tomada de decisão.
OLHO NO GNL
O movimento da Petrobras acontece num momento de mudança na lógica concorrencial, com a chegada de novos players.
O próprio diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da estatal, Maurício Tolmasquim, admitiu recentemente que a nova política de preços da Petrobras é uma resposta ao aumento da competição, sobretudo com terminais privados de importação de GNL; à queda nos preços globais do gás; e à migração de consumidores para o mercado livre.
Em março, a New Fortress Energy inaugurou o TGS, conectado ao Gasbol, em Santa Catarina.
Já a planta de regás da Eneva, em Sergipe, deve ser conectada à malha de transporte no segundo semestre. A empresa lançou uma mesa de comercialização e já firmou seus primeiros contratos de suprimento.
A Edge também aguarda o desfecho do imbróglio com a ANP, para começar a comercializar as cargas de GNL do Terminal de Regaseificação de São Paulo (TRSP). Enquanto isso, vai fazendo suas primeiras entregas com base na importação de gás boliviano e compra de gás de produtores do pré-sal.
Hoje, o preço interno do gás no Brasil está alinhado ao custo marginal de importação do GNL.
No mercado, a análise de concorrentes da Petrobras é que a previsão de entrada em operação do Rota 3 nos próximos meses também contribui – já que significa mais oferta de gás e, embora ainda concentrado na Petrobras, também tende a puxar gás privado para o mercado.
Também existe uma percepção de que o corte de preços da companhia afeta, primeiramente, justamente, os players que importam GNL. Produtores onshore, por sua vez, têm mais margem para reacomodação.
O diretor de Comercialização e Novos Negócios da PetroReconcavo, João Vitor Moreira, disse que o movimento da estatal é natural e que a abertura do mercado, sobretudo no Nordeste, onde a Petrobras tem menos de um terço do market share, é irreversível.
“É um movimento natural, faz parte de uma oferta maior que traz mais competitividade e por outro lado isso traz uma maior demanda”
“Somos otimistas de que movimento está acontecendo vai gerar mais demanda, produtores vão incrementar oferta e gás vai continuar sendo competitivo nas duas pontas: desenvolvendo reservas e o consumidor que pode aproveitar essa matriz também”, comentou Moreira, em entrevista ao estúdio epbr, na Bahia Oil & Gas Energy 2024.
Fontes do mercado relatam também que veem limites na capacidade da Petrobras de massificar sua abordagem comercial para pequenas e médias indústrias.
Por mais que a petroleira busque hoje abrir o universo de potenciais clientes livres, para além das grandes indústrias, falta à companhia a agilidade comercial de players mais voltados para essa abordagem.
A BR Distribuidora, o grande elo da estatal com o B2B, vale lembrar, foi privatizada.
Procurada, a Petrobras não respondeu até o fechamento desta edição.

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