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Preço do combustível vendido pela Petrobras está 24% abaixo das cotações internacionais; diferença pressiona estatal a fazer reajuste
A alta do dólar fez o preço da gasolina vendida pela Petrobras alcançar defasagem recorde em 2024 na comparação com o mercado internacional. Nesta 4ª feira (17.abr.2024), o valor do combustível da estatal está R$ 0,85 inferior ao do PPI (Preço de Paridade de Importação), uma diferença média de 24%.
O percentual de defasagem superou o do dia anterior, de 21%, que já tinha sido o maior do ano. No caso do óleo diesel, a diferença chegou a 13%. Os dados são do relatório diário de monitoramento da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis). Eis a íntegra do levantamento (PDF – 733 kB).
A defasagem tem ampliado com a valorização do dólar frente ao real. Na 3ª feira (16.abr), a moeda norte-americana fechou em R$ 5,27, o maior valor desde março de 2023. A alta reflete o temor dos investidores com o cenário externo, diante do conflito no Oriente Médio, e a preocupação com o ambiente fiscal no Brasil.
Ao mesmo tempo, o petróleo tem operado estável, mas num nível elevado. Na 3ª feira (16.abr), fechou em US$ 90, patamar que tem mantido nas duas últimas semanas. Há um temor de que uma escalada no conflito entre Israel e Irã faça o preço da commodity disparar por causa das possíveis restrições de oferta global.
A Petrobras ainda não fez nenhum reajuste nos combustíveis em 2024. A valorização contínua do petróleo, que já subiu 20% neste ano, pressiona um aumento. Caso se confirme uma disparada do barril e o dólar continue a subir, um repasse aos preços internos de ao menos parte disso será inevitável.
A visão do mercado é que a petroleira vinha tentando segurar os repasses em 2024, mesmo com a defasagem, diante da função delicada de Jean Paul Prates na presidência. Desgastado no cargo e sendo fritado por integrantes do governo, ele esteve perto de ser demitido na semana passada. Agora, aparentemente, os ânimos serenaram.
Um reajuste, porém, pode colocar Prates numa situação ainda mais delicada. Analisando pelo lado político, é improvável uma decisão deste tipo agora. No aspecto econômico, ao pesar o caixa da estatal, será necessário fazer uma recomposição nos valores para evitar perdas.
Embora a Petrobras tenha abandonado o PPI como política de precificação, passando a dar mais peso aos custos internos, a cotação do petróleo e o câmbio ainda têm influência sobre os preços. Isso porque 25% do diesel consumido no Brasil é importado, assim como 15% da gasolina. Essa compra no exterior é feita pelo preço do PPI.
O último reajuste nos combustíveis da Petrobras foi há mais de 3 meses, em dezembro de 2023, quando reduziu o preço do diesel em R$ 0,30 por litro para as distribuidoras e o valor passou para R$ 3,48. No caso da gasolina, a última mudança foi em 21 de outubro, quando houve redução de R$ 0,12 por litro.
No final de 2023, os preços da Petrobras estavam abaixo das cotações internacionais em função das quedas no preço do barril de petróleo. O cenário começou a mudar em meados de dezembro e se intensificou em 2024. O barril do tipo brent começou o ano na casa de US$ 75. Agora, está em US$ 90 em função dos riscos geopolíticos.
O PPI foi adotado como política de preços da Petrobras na gestão Michel Temer (MDB) e vigorou durante todo o governo Jair Bolsonaro (PL). A metodologia trazia flutuações constantes aos preços internos, repassando as variações do dólar e do petróleo.
Quando foi eleito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cobrou um “abrasileiramento” da política de preços como forma de reduzir os valores. Prates cumpriu a demanda. Com o novo método, quando o barril de petróleo tem altas expressivas, a Petrobras não repassa os aumentos imediatamente, provocando as defasagens.
Por Geraldo Campos Jr.
Fonte: Poder 360