EPBR
A Petrobras mudou o discurso e passou a defender a participação do seu diesel coprocessado, também chamado de diesel R, no mandato que será criado para o diesel verde no PL do Combustível do Futuro.
O texto do deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP) aprovado na Câmara em março deixou de fora a rota que processa óleos vegetais junto com o fóssil para ter um percentual renovável na mistura final.
Durante as discussões na Câmara, a Petrobras articulou para que o produto fosse incluído no mandato de biodiesel, que hoje é obrigatoriamente adicionado ao diesel na proporção de 14% e deve chegar a 15% em março de 2025.
Após a derrota na Câmara, a petroleira tenta agora um espaço no Senado em uma nova estratégia: embarcar no mercado que será criado para o diesel verde (HVO) – um combustível drop-in, produzido a partir de matérias-primas 100% renováveis.
Durante audiência pública na Comissão de Infraestrutura do Senado desta terça (16/4), o gerente-executivo de Gestão Integrada de Transição Energética da Petrobras, Cristiano de Oliveira, deixou claro que a nova estratégia é reconhecer a parcela renovável do diesel R no cálculo de mistura de 3% de HVO prevista no PL.
A Petrobras nunca vai discutir a entrada do diesel coprocessado no mandato. O que nós discutimos é a renovação do diesel coprocessado”, disse Oliveira.
Segundo Oliveira, o diesel coprocessado da empresa tem composição de 95% fóssil e 5% de origem renovável. Sendo que a parcela renovável é produzida com a mesma tecnologia e matérias-primas que o HVO. Logo, na sua avaliação, estaria apta para ser incluída na mistura de até 3% de HVO.
“Qual a nossa contribuição? Ao invés de ser 3% de diesel verde, ser diesel verde ou a parcela renovável do coprocessado”, defendeu.
Para a Petrobras, essa possibilidade de inclusão ajudaria o país a antecipar a descarbonização dos transportes, uma vez que ainda não há plantas de HVO no Brasil, enquanto o diesel R já é produzido.
A mudança no discurso da Petrobras é recente. No mês passado, o presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse à epbr, que o diesel coprocessado deveria ser tratado como biodiesel, e entrar na mistura obrigatória que pode chegar a 20% no longo prazo.
O governo é contra. Também em março, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, saiu em defesa do biodiesel, e, mais recentemente, o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, disse que o governo deveria trabalhar para manter o texto aprovado na Câmara.
A inclusão do coprocessado no mandato do diesel verde tem apoio do Ministério da Fazenda.
Ainda durante a audiência desta terça, o diretor na Secretaria de Reformas Econômicas da pasta, Gustavo Ferreira, disse que o ministério vê com preocupação a restrição a rotas tecnológicas para descarbonização do ciclo diesel e seu impacto no custo final para o consumidor.
“Quanto mais forem integradas essas políticas e esses mandatos, tanto melhor, porque eles conseguem fazer com que a gente consiga avançar na descarbonização, na inserção de biocombustíveis em geral no ciclo diesel, que talvez seja o mais difícil de descarbonizar”.
Ferreira afirma que a prioridade da equipe econômica é manter o equilíbrio fiscal e avançar com a reforma tributária, para criar um ambiente propício de desenvolvimento econômico baseado no Plano de transição Ecológica.
Na avaliação do diretor, as duas primeiras condições são habilitadoras do desenvolvimento, com o controle da inflação e uma taxa de juros que não afaste os investimentos.
“A transição energética hoje é um processo economicamente inflacionário. Ele provoca inflação (…) Precisamos de novas políticas para transição energética, que são aquelas que vão incentivar o consumo de produtos que são naturalmente mais caros, porque se mais baratos fossem, já seriam consumidos”.
A Fazenda não está isolada. Há, em diferentes setores do governo, apoio à abertura das políticas para diferentes rotas tecnológicas que levem à redução da queima do diesel fóssil no transporte pesado.
A decisão, mediada pela Casa Civil, contudo, foi manter o novo mandato destinado ao diesel verde na edição do texto enviado à Câmara. E, ao cabo, apoiar o relatório de Arnaldo Jardim, aprovado em março, sem a inclusão do coprocessado.