Petróleo deve ter exportação recorde em 2024 e rivalizar com a soja pelo topo da balança comercial

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O Estado de São Paulo

O Brasil pode colher um valor recorde com a exportação de petróleo bruto neste ano. Em um cenário de produção crescente, a expectativa é a de que o produto seguirá ainda mais relevante na balança comercial brasileira nos próximos anos, o que deve contribuir ― e muito ― para os números do setor externo do País.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta que, em 2024, as vendas do petróleo podem somar US$ 43,575 bilhões. Até então, o melhor desempenho obtido com a exportação de petróleo foi observado em 2022, quando o País vendeu US$ 42,553 bilhões. Em 2023, o resultado foi muito parecido: US$ 42,539 bilhões.
“A exportação de petróleo está crescendo em termos de quantidade. Há um aumento todo ano”, afirma José Augusto de Castro, presidente executivo da AEB. Nas projeções da associação, a exportação do produto atingirá 83 milhões de toneladas, acima das 81 milhões de toneladas apuradas em 2023.
As previsões da AEB foram feitas no fim do ano passado e, claro, podem ser alteradas ao longo de 2024. O preço do petróleo pode ser impactado, por exemplo, por alguma questão geopolítica que hoje nem sequer está no radar dos analistas e pelo desempenho da economia global.
O preço do barril de petróleo tipo Brent chegou a ser cotado por volta de US$ 95 logo após o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, no início de outubro. Mas recuou desde então: na sexta-feira, 19, o barril fechou cotado a US$ 78,73.
Nos últimos anos, a exportação de petróleo assumiu um papel relevante na balança comercial, rivalizando com a soja e o minério de ferro, dois dos principais itens da pauta brasileira. A expectativa é que esse protagonismo do petróleo se consolide nos próximos anos, diante da perspectiva de forte aumento da produção até 2030, quando a extração do pré-sal deve começar a perder força.
“Daqui até lá, o Brasil terá uma curva ascendente de produção de petróleo, o que significa que o petróleo vai ser sempre o item mais importante ou o segundo mais importante da balança comercial”, afirma Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
Os especialistas explicam que, como o Brasil tem uma produção em alta e uma capacidade de refino limitada, o excedente produzido acaba sendo exportado. “Nos últimos anos, falamos de uma taxa de 50% do que é produzido que acaba sendo escoado para o exterior”, diz Jankiel Santos, economista do banco Santander.
O desempenho da exportação de petróleo deve ajudar a mitigar a queda que pode ser observada com a venda de soja para o exterior, destaca o economista do Santander. A projeção do banco é de um saldo comercial de US$ 85 bilhões este ano, ainda alto para o padrão histórico do País, mas abaixo dos quase US$ 100 bilhões apurados em 2023.
“A exportação de petróleo vai contribuir para que tenhamos um montante de exportações importante. É um dos fatores que devem dar sustentação para um saldo comercial na casa dos US$ 85 bilhões”, afirma Santos. “No caso do petróleo, devemos observar um cenário de estabilidade ou de leve crescimento em 2024.”
Aumento de produção
Hoje, o Brasil produz cerca de 3,5 milhões de barris de petróleo por dia. Até o fim da década, esse número deve estar no patamar de 5 milhões de barris por dia. “Nos próximos anos, o Brasil tende a ser um dos cinco, seis maiores produtores de petróleo do mundo”, afirma Pires.
Em 2022, no último dado disponível consolidado, o Brasil estava na nona colocação entre os principais produtores, com pouco mais de 3,1 milhões.
No ano passado, a economia brasileira ganhou um reforço importante na sua capacidade de produção. Quatro plataformas entraram em operação. Em 2024, mais uma deve começar a funcionar, de acordo com um acompanhamento da consultoria Tendências. Juntas, têm capacidade para 660 mil barris por dia.
“Neste ano deve haver um aumento de produção em cima de um crescimento bastante forte no ano passado, que foi de 10%. A demanda doméstica não vai aumentar muito mais e você tem um excedente que vai ser exportado”, diz Walter De Vitto, analista da Tendências.
Em 2025, a expectativa é a de que mais cinco plataformas entrem em operação, aumentando a capacidade de produção em mais 905 mil barris por dia.
“Tem uma certa limitação no refino e um cenário econômico (interno) nada muito brilhante. Esses dois fatores tendem a gerar um excedente e uma balança mais superavitária”, afirma De Vitto.
Debate ambiental
A escalada de produção de petróleo prevista para durar até 2030 abriu uma discussão sobre o que vem depois, num momento em que o mundo discute a transição energética, para fontes mais limpas de energia.
Nesse debate, que divide até integrantes do governo Lula, a principal aposta é de que o novo foco de exploração se dê na Margem Equatorial, que fica entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, e é formada por cinco bacias — Foz do Amazonas, Potiguar, Pará-Maranhão, Barreirinhas e Ceará.
“No passado, a principal bacia produtora era Campos e, agora, é Santos. A próxima fronteira deveria ser a Margem Equatorial para o País não perder protagonismo”, afirma Pires.
Em dezembro, a Petrobras informou que iniciou a perfuração do poço de Pitu Oeste, no Rio Grande do Norte. O grande debate no governo é sobre a perfuração da Bacia da Foz do Amazonas. Ela segue vetada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a estatal recorre para reverter a decisão.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, tem sido um dos grandes defensores da exploração de novas fronteiras, incluindo a Margem Equatorial. Como um contraponto ao governo, em entrevista ao Financial Times, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que deveria haver limites à exploração de petróleo. “É um debate que não é fácil, mas que os países produtores de petróleo terão de enfrentar”, disse.
“O País tem reservas importantes e estamos num processo de implementação de novas plantas para fazer a extração. Por mais que se fale na transição energética, é um processo a longo prazo”, afirma o economista do Santander. “Não resta dúvida de que vamos nessa direção (da transição energética), mas, por ora, não vejo a perda do protagonismo do petróleo nos próximos dez anos.”

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