Folha de São Paulo
O consumidor que está optando pelo etanol neste final de ano tem grande vantagem em relação aos que utilizam gasolina. Nos cálculos da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o preço médio nacional do etanol valia, na semana de 10 a 16 deste mês, 62,6% do da gasolina.
Esses cálculos, no entanto, dependem muito da região. Em Mato Grosso, estado que vem ampliando em muito a produção de etanol de milho, o litro do combustível de cereal ou de cana-de-açúcar valia apenas 56,8% do provindo de petróleo.
Em São Paulo, principal produtor de etanol de cana-de-açúcar, a paridade é de 61,6%, tornando também o etanol uma boa opção para o consumidor. Na capital paulista, o preço do etanol vale 61% do da gasolina, o melhor patamar de preços dos últimos 62 meses, conforme acompanhamento semanal da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Uma tabela indica que toda vez que o etanol tiver uma paridade de 70% ou inferior, em relação ao valor da gasolina, é vantajosa a utilização do combustível derivado da cana ou do milho.
Acima desse percentual, a vantagem vai para a gasolina. Essa tabela indicativa, no entanto, é bastante discutível, uma vez que estaria defasada devido à evolução dos carros. Com o avanço da tecnologia, há indicações de que a paridade a favor do etanol possa chegar ou até superar os 75% nos novos modelos de carros.
O Distrito Federal e oito estados estão com uma paridade igual ou inferior a 70%. Outros nove têm uma taxa que supera 70% e vai até 75%.
Com base em dados da ANP, a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia) estima que, ao rodar 300 km, o consumidor de etanol poderá economizar R$ 25, em Mato Grosso, e R$ 15, em São Paulo, em relação aos que usam gasolina. O ganho leva em consideração os preços atuais dos dois combustíveis. Na média do Brasil, o ganho é de R$ 14.
Evandro Gussi, presidente da Unica, diz que, enquanto o mundo paga caro com suas políticas de redução de emissões de poluentes, os brasileiros têm a chance de proteger o meio ambiente economizando.
“O consumo de etanol tem atributos ambientais, não polui e ajuda no combate ao aquecimento”, afirma o executivo. Dependendo do volume de combustível consumido, o proprietário do veículo poderá economizar a pizza da semana, afirma.
O Brasil avança também na produção de etanol provindo do milho. Hoje, 20% do etanol produzido vêm desse cereal, que é semeado logo após a colheita de soja. Assim como o combustível derivado da cana, o proveniente do milho também é sustentável, afirma Gussi.
O Congresso deverá discutir no início do próximo ano o aumento da mistura de etanol anidro na gasolina para 30%. A medida vai melhorar a performance da gasolina, e a demanda maior pelo etanol não causará nenhuma dificuldade ao setor produtivo, na avaliação do presidente da Unica.
O país tem potencial para duplicar a produtividade da cana nos próximos anos. Estão chegando novas variedades com produtividade que supera de 30% a 40% as atuais, segundo ele.
Além disso, o novo sistema de plantio da cana, por meio de sementes, vai elevar a produtividade e liberar mais áreas para a produção. Atualmente, 8% das áreas dos canaviais são destinadas a viveiros de mudas.
Do lado do milho, a industrialização do produto no mercado interno permite ganhos com a agregação de valor, tanto na produção do combustível como na de derivados do cereal. O país deverá optar por menos exportação e mais valor agregado, diz o executivo.
A produção de cana-de-açúcar, conforme os dados mais recentes da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), atingirá o recorde de 678 milhões de toneladas nesta safra, 11% acima do volume da anterior.
Essa evolução da produção ocorre mesmo com uma redução da área de plantio para 8,35 milhões de hectares. Clima favorável e investimentos na produção levaram a esse patamar recorde, segundo a Conab.
O rendimento médio nacional das lavouras sobe para 81,1 toneladas por hectare. Na região Sudeste, atingirá 85 toneladas, permitindo uma produção 12% superior à de 2022/23.
Na avaliação da Conab, os preços do mercado externo estão favoráveis para o açúcar, cuja produção subirá para 46,9 milhões de toneladas, 27% a mais do que na safra anterior.
Já a produção de etanol de cana vai a 28 bilhões de litros, 5,5% a mais do que no período anterior. A de milho sobe 36%, atingindo 6,1 bilhões de litros, nos cálculos do órgão federal.
A safra de milho vem mostrando um ritmo crescente nos últimos anos. Os produtores destinam o verão para a soja e o inverno para o milho. A safra 2023/24, no entanto, está cercada de muitas incertezas. Houve atraso e replantio na cultura da soja, e as condições climáticas podem não ser favoráveis para o milho. O produtor ainda tem incertezas sobre o quanto plantar.