O Estado de São Paulo
A perspectiva de aumento das exportações de petróleo pelo Brasil nos próximos anos fez a Vast, empresa que faz transbordo de petróleo no Porto do Açu, no Rio de Janeiro, assinar memorandos de entendimentos com quatro grandes petroleiras para construção de um inédito polo de armazenamento de petróleo para exportações futuras, informou ao Estadão/Broadcast o presidente da Vast, Victor Bomfim.
Os memorandos reforçam a relevância do projeto Spot, já lançado pela companhia, e que será o primeiro parque privado de estocagem de petróleo no Brasil. O empreendimento prevê investimento de R$ 2,5 bilhões e consiste na construção de 12 tanques com capacidade total de 5,7 milhões de barris de petróleo e dois oleodutos, que vão conectar o Terminal da Vast, no Porto do Açu, à malha de dutos de petróleo da região Sudeste. Segundo Bomfim, o projeto deve estar finalizado e operando em 2026.
“Com os memorandos vamos poder saber o que cada empresa requer. Estamos falando de volumes cada vez maiores. Os chineses, por exemplo, tem nos buscado muito para demonstrar interesse no projeto Spot. A China tem uma necessidade premente, consome muito óleo, e por isso tem mais interesse que os demais”, disse Bomfim.
A Galp e as chinesas Petrochina e CNOOC saíram na frente e assinaram com a Vast, assim como uma quarta empresa que não quer ter o nome divulgado. Os memorandos de entendimento são para estudos conjuntos de oportunidades de armazenagem, e outras empresas podem aderir ao projeto ao longo do tempo.
“Inclusive a Petrobras”, destacou Bomfim, já que, segundo ele, a estatal vem trabalhando no limite de sua capacidade. “Se ela (Petrobras) não consegue atender a própria demanda, quiçá de terceiros, foi aí que surgiu o nosso projeto”, informou.
Bomfim ressaltou que hoje o Brasil produz cerca de 3 milhões barris de petróleo por dia (bpd) e vai crescer para 5 milhões de barris por dia até 2030. Uma consequência natural disso, “mas que não é tão comentado”, ressaltou, é o crescimento das exportações brasileiras.
“O petróleo é a commodity mais importante na pauta de exportações do País e a cada quatro, cinco anos dobra a produção brasileira, o que é muito significativo”, avaliou.
Segundo o executivo, há dez anos o País exportava 400 mil bpd, e quatro anos depois chegava aos 800 mil bpd. Em 2021, dobrou mais uma vez o volume, para 1,6 milhão de bpd, e atualmente já vende para fora 1,8 milhão de bpd. Bomfim avalia que a limitação interna dada pelo parque de refino, mesmo com os planos de expansão do segmento pela Petrobras, vão garantir exportações ainda mais volumosas a partir de 2029/2030.
A Shell, por exemplo, que exporta a produção, atingiu em setembro deste ano a marca de 530 mil barris produzidos por dia. A terceira colocada em produção do País, a TotalEnergies, registrou produção de 185 mil bpd, e a Petrogral, 141 mil bpd. A chinesa CNOOC ainda ensaia chegar aos 100 mil bpd, totalizando média de 97 mil bpd em setembro.
“A importância desses memorandos é que, quando (o Brasil) estiver produzindo cinco milhões de bpd, a Petrobras será responsável por três milhões de bpd, e os outros dois quintos (da produção), quase a metade, já serão baseados na produção de empresas que não a Petrobras”, disse Bomfim.
Empresa predominante no País nas áreas de produção e refino de petróleo, a Petrobras possui terminais próprios para exportação da commodity, mas Bomfim avalia que, com o aumento da produção, a própria estatal poderá ser uma de suas clientes. Atualmente, a estatal é cliente da Vast nos serviços de transbordo, assim como a CNOOC, Equinor, Galp, PetroChina, Petronas, Prio, Shell e TotalEnergies.
Há três anos, a participação da Vast nas exportações de petróleo brasileiro era de 20% e hoje a empresa já é responsável por 40% de toda exportação de petróleo nacional, informou Bomfim. “Acreditamos que o crescimento (das exportações) continuará no mesmo ritmo daqui para frente”, afirmou, mesmo considerando a transição energética.