EPBR
A Highly Innovative Fuels Global (HIF Global) fechou este mês um acordo comercial com a Honeywell para o uso da tecnologia desenvolvida pela companhia norte-americana para a produção de eSAF, combustível sustentável de aviação (SAF) produzido a partir do metanol.
O eSAF faz parte do grupo dos eletrocombustíveis (eFuels), que são combustíveis sintéticos produzidos a partir de hidrogênio verde. Na prática, o hidrogênio verde é combinado ao dióxido de carbono (CO2) e convertido em eMetanol, usado para produzir combustíveis substitutos aos fósseis.
Essa rota de produção de SAF é uma alternativa à HEFA, que consiste no hidroprocessamento de óleos e gorduras.
Segundo a Honeywell, o produto pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 88% em comparação com o querosene de aviação convencional.
A HIF Global vai implantar a tecnologia no projeto HIF Matagorda eFuels Facility, no Texas (EUA). A construção da planta está prevista para começar em 2024 e a entrada em operação deve ocorrer até 2030, com uma capacidade total para produzir 11 mil barris por dia de eSAF, o que vai demandar a captura de 2 milhões de toneladas de CO2 no processo produtivo.
Esse será o segundo projeto de combustíveis sintéticos da HIF Global. Uma primeira unidade, o projeto Haru Oni Demonstration Facility, entrou em operação em dezembro de 2022, em Magallanes, no Chile.
O contrato com a HIF é o primeiro acordo comercial para o uso da tecnologia de produção de eSAF desenvolvida pela Honeywell, batizada como “UOP eFining”. A companhia integra o Fundo de Voo Sustentável da United Airlines Ventures, iniciativa criada para apoiar o desenvolvimento do uso de combustíveis sustentáveis no setor de aviação.
Segundo o presidente da United Airlines Ventures, Michael Leskinen, a solução pode acelerar a produção global de SAF.
“O uso de hidrogênio verde e CO2 para produzir combustível sustentável tem o potencial de aumentar drasticamente o volume de SAF necessário para permitir que a indústria da aviação atinja suas metas de descarbonização em tempo hábil”, diz.
Preço é desafio, mas mercado de carbono ajuda
Um desafio para o avanço da tecnologia do eSAF, no entanto, são os preços.
Se o SAF de óleo vegetal, em geral, já é duas a quatro vezes mais caro do que o querosene convencional, o eSAF é mais caro do que o produzido a partir da rota HEFA. Mas as regulações podem favorecer essa alternativa: na União Europeia, por exemplo, existe um mandato específico para eSAF, além de restrições para o uso de algumas matérias-primas na rota do HEFA.
Além disso, os preços finais do eSAF também vão depender de questões como o custo da energia renovável para a produção do hidrogênio e da disponibilidade de CO2 para a produção do metanol. É nesse ponto que o Brasil pode se beneficiar como supridor na cadeia.
“O Brasil tem uma função única no mundo de fornecimento de matérias-primas, tanto no que se refere à primeira geração de combustíveis avançados, quanto às outras gerações, como o metanol-to-jet e outras tecnologias mais modernas de produção de SAF”, diz o diretor de vendas na Honeywell UOP, Leon Melli.
Em entrevista à agência epbr, o executivo aponta que o alto percentual de renováveis na matriz elétrica brasileira favorece a participação do país na cadeia produtiva dos combustíveis avançados. Melli ressalta, no entanto, que é necessário avançar na regulação do mercado de carbono nacional para garantir a participação do país nessa cadeia.
“O que falta é a regulação para que se tenha o incentivo econômico necessário que estimule efetivamente o empresário a investir”, diz.
América Latina, África e Ásia ainda têm espaço para investimentos fósseis
Apesar do avanço no desenvolvimento de novas rotas de produção de combustíveis sustentáveis na Europa e Estados Unidos, outras regiões do mundo ainda devem demandar investimentos para ampliação do refino de combustíveis fósseis, acredita o diretor da Honeywell.
“O cenário não é o mesmo para América Latina, África e Ásia, onde, em função do aumento da qualidade de vida das populações, ainda há expectativa de um aumento na produção de derivados, gasolina, diesel, e, principalmente, de querosene de aviação”, afirma.
Segundo Melli, a demanda global por querosene de aviação deve crescer de 7 milhões de barris/dia para 10 milhões de barris/dia até 2040, alavancada sobretudo pelo Hemisfério Sul.
Para o executivo, isso indica que ainda existe espaço nessa região para projetos de novas refinarias, assim como expansões e revitalizações de refinarias de produção de combustíveis fósseis existentes, com o uso de tecnologias de redução de emissões no processo de produção.