Folha de São Paulo
Os primeiros modelos do grupo Stellantis que conciliam etanol, gasolina e eletricidade chegarão ao mercado em 2024. A tecnologia batizada como Bio-Hybrid estará disponível em novas versões dos modelos que já estão em linha.
A confirmação foi feita pela marca nesta segunda (31) em evento na fábrica de Betim (MG). Automóveis das marcas Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot serão eletrificados em diferentes níveis.
A primeira opção será considerada híbrida leve. A eletricidade ajuda a reduzir a queima de combustível nas partidas e fornece torque extra nas arrancadas, entre outros recursos.
João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios do grupo Stellantis para América do Sul, explica que 80% das emissões ocorrem entre o momento em que o motor é ligado e os dois primeiros minutos de uso do carro.
Essa função está presente no Kia Stonic, por exemplo. O recurso levou o SUV de origem sul-coreana ao melhor resultado em consumo urbano com gasolina no Ranking Folha-Mauá 2022.
Por se tratar de uma solução mais em conta, espera-se que seja a escolhida para compactos como o Peugeot 208 e o Fiat Argo.
Outra alternativa oferecida pela Stellantis será o Bio-Hybrid e-DCT, sistema mais complexo e sempre conciliado a um câmbio automático de dupla embreagem —que é a tradução da sigla DCT, “dual clutch transmission”.
Nesse caso, um motor elétrico é instalado junto à caixa de marchas e o “cérebro eletrônico” gerencia o sistema. Há ainda uma bateria que permite armazenar energia para rodar alguns poucos quilômetros sem queimar combustível.
A recarga ocorre em situações como desacelerações e descidas. No anda-e-para do trânsito pesado, espera-se um consumo próximo a 20 km/l quando o carro está abastecido com etanol.
Essa tecnologia deve estar presente em futuras versões do Jeep Renegade e da Fiat Toro, entre outros modelos.
O sistema Bio-Hybrid mais caro será o Plug-in. As características são semelhantes às do e-DCT, mas com a possibilidade de recarregar o carro na tomada.
As baterias terão maior capacidade e permitirão rodar por trechos maiores no modo 100% elétrico. O único modelo desse tipo oferecido hoje pelo grupo Stellantis é o Jeep Compass 4Xe, capaz de percorrer aproximadamente 40 quilômetros sem queimar gasolina.
O novo produto, entretanto, deverá ser mais evoluído. Além de usar etanol, espera-se um ganho de autonomia com eletricidade.
A montadora exibiu ainda uma plataforma compacta 100% elétrica, semelhante à usada hoje no Peugeot e-208 GT. Mas o foco da empresa está nos modelos híbridos, que serão feitos no Brasil.
A produção nacional ganha força com o bom momento da empresa. Segundo Antonio Filosa, presidente do grupo Stellantis na América do Sul, as vendas na região chegaram a 411 mil unidades no primeiro semestre, com 23,7% de participação no mercado.
Os futuros lançamentos fazem parte de um pacote de R$ 16 bilhões em investimentos que teve início em 2021 e será concluído em 2025.
Filosa calcula que, em 2030, 60% dos modelos vendidos pelo grupo Stellantis no Brasil serão dotados de alguma tecnologia híbrida flex.
A meta global da empresa é zerar as emissões de carbono de seus carros novos até 2038.
Mas para que a estratégia funcione no Brasil, é necessário que os carros híbridos flex sejam abastecidos com etanol. Esse foi um dos pontos discutidos durante a elaboração do plano de incentivo que vigorou no mês de junho.
O estímulo ao uso do combustível renovável, contudo, ainda não foi definido.
Segundo João Irineu, 85% da frota em circulação no Brasil é flex e, portanto, pode rodar com etanol. “Basta que existam incentivos para isso”, afirma o executivo.