CNN
A abertura do mercado de gás no Brasil, por meio da Lei do Gás, em 2021, trouxe maior competitividade para o setor e a promessa de que os novos entrantes terão oportunidades que antes pareciam exclusivas da Petrobras, que dominava a indústria. Com os caminhos mais livres e a redução das incertezas na área, a Shell viu a oportunidade de trazer ao Brasil modelos de negócios que antes costumava operar somente nos Estados Unidos e na Europa.
A companhia anglo-holandesa foi a primeira a implementar o contrato “spot” de gás no Brasil, modalidade feita sob medida para cada cliente e que dá mais flexibilidade à negociação. Pode incluir, por exemplo, um tempo mais curto de fornecimento. “Com o novo tipo de contrato, que chamamos de master sales agreement, ou MSA [um acordo de vendas guarda-chuva, em livre tradução], ficam pré-acordados princípios comerciais e jurídicos para que não se passe muito tempo discutindo elementos que não são necessariamente core do acordo”, explica Carolina Bunting, gerente de vendas e originação da Shell Energy Brasil, divisão da Shell para gás natural, energia renovável e energia elétrica.
Estamos com participação ativa no mercado spot. Os MSA já são 10%”
— Carolina Bunting
Agora a expectativa da companhia é aumentar a implementação desse tipo de contrato no país, diz Bunting: “Estamos participando ativamente do mercado spot. Os MSA hoje compõem cerca de 10% do portfólio. Prevemos que com o desenvolvimento do mercado, este número deve aumentar à medida que crescer.”
A Shell foi a primeira companhia a operar esse tipo de contrato no Brasil, em 2021, e Bunting é quem está à frente desse tipo de negociação. O MSA, afirma a executiva, pode ser um contrato de uma só página que pode prever o começo do suprimento no dia seguinte ao acordo.
Entre os acordos feitos, a Shell cita parceria com a Gerdau. Nesse caso, a petroleira buscou fornecedores parceiros para fazer o transporte. O fornecimento durou apenas quatro dias e foi o primeiro em que apenas empresas privadas operaram em uma mostra do potencial e da flexibilidade do mercado aberto de gás, diz Bunting. A Gerdau confirmou a parceria com a Shell Energy nesse contrato.
Antes de 2021 os contratos no setor de gás costumavam ser feitos no modelo acordo de venda de gás (GSA, na sigla em inglês), que estipulava volume, preço e as demais condições comerciais, com uma duração de um ano ou mais. Segundo Bunting, as negociações duravam, em geral, seis a oito meses e era preciso fazer um novo contrato caso qualquer mudança fosse necessária. “Essa estrutura antiga fazia sentido para acordos que fossem diferentes, mais complexos ou com prazo maior. Já o MSA traz agilidade, inovação”, afirma.
Para começar a operar o MSA no Brasil, a Shell uniu a experiência que tinha nos mercados americano e europeu e a adaptou à realidade brasileira. “É um contrato robusto e muito focado na realidade do mercado local”.
Na visão de Bunting, o que tem dificultado o aumento da implementação tem sido as leis estaduais em relação ao mercado livre, o que, segundo ela, precisa ser simplificado. Com a perspectiva de que o mercado continue se abrindo, a executiva constata que a demanda é cada vez maior por esse tipo de acordo na companhia, o que também tem estimulado a entrada de players menores.
“A Shell tem 110 anos no Brasil e investimos bastante aqui. Acreditamos que esse tipo de acordo é algo que ajuda no desenvolvimento do país, trazendo mais segurança energética e flexibilidade. O mercado de gás ainda deve abrir muito mais, precisamos simplificar a migração para esses projetos”, diz Bunting.