Valor Econômico
Os preços dos combustíveis vendidos pelas refinarias da Petrobras estão mais caros do que os praticados no mercado internacional, apontam especialistas. E essa melhoria expressiva do cenário externo verificada nos últimos dias abre espaço para que a estatal possa reduzir os preços domésticos, o que seria o primeiro reajuste da gestão de Jean Paul Prates à frente da companhia. Há expectativas sobre qual será a condução da política de preços da empresa e a composição do conselho de administração, com a contratação, pela Petrobras, de empresa para assessorar na escolha de possíveis indicados.
O litro do óleo diesel vendido nas refinarias da Petrobras está R$ 0,76 acima das cotações internacionais, o que indica espaço para redução de 16,8% no preço da estatal brasileira, segundo dados da consultoria StoneX, que levam em consideração as cotações da manhã da segunda-feira (6). No caso da gasolina, a StoneX também estima espaço para corte, pois a gasolina vendida pela Petrobras está R$ 0,38 mais cara do que a vendida no mercado internacional e, por isso, poderia sofrer redução de 11,6%.
Outras consultorias também apontam que os preços da Petrobras estão acima do preço de paridade internacional (PPI). A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estimava na manhã de segunda-feira que o diesel da Petrobras estava 18% acima da paridade, com necessidade de corte de R$ 0,68 por litro, em média. Para a gasolina, a Abicom vê espaço para redução de 10% nas refinarias da Petrobras, o que equivale ao corte de R$ 0,29 por litro.
O Centro Brasileiro de Infraestrutura e Energia (Cbie) calcula que o diesel da Petrobras está 14,14% acima da paridade, enquanto a gasolina está sendo vendida no mercado interno com um prêmio de 8,86% em relação ao mercado internacional. O último reajuste de preços pela Petrobras foi no dia 25 de janeiro, quando a companhia aplicou aumento de R$ 0,23 no litro gasolina, que passou a ser vendida às distribuidoras em média por R$ 3,31. A alta foi de 7,47%. O preço do diesel vendido nas refinarias da estatal está sem reajustes desde 7 de dezembro, quando o litro passou a R$ 4,49, depois de corte de 8,91%.
Os preços dos combustíveis vendidos pela Petrobras são decididos pelo presidente da companhia, junto com o diretor de comercialização e logística e com o diretor financeiro e de relacionamento com investidores, além de passarem pela supervisão do conselho de administração. Ainda não houve alterações nos preços desde que Prates assumiu a presidência da Petrobras, em 27 de janeiro. Favorável à adoção de alternativas à atual política de preços, atrelada ao PPI, ele indicou nomes de cinco novos diretores na semana passada, mas os executivos ainda estão passando por aprovações internas antes de assumirem.
Em paralelo, o mercado aguarda a indicação dos novos integrantes do conselho de administração da companhia. A Petrobras contratou uma empresa de consultoria, a Odgers Berndtson, para realizar a seleção de conselheiros independentes do conselho de administração da estatal. O Valor apurou que o Ministério de Minas e Energia (MME) pediu duas listas compostas por três nomes cada, das quais podem sair os indicados. A notícia foi divulgada primeiramente pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”.
A expectativa era de que as indicações para o conselho da estatal fossem divulgadas na semana passada. Entre os cotados, estão a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum; o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes; e o fundador da Genial Investimentos, Eduardo Moreira, além do coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, e da presidente do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn, segundo fontes. Os nomes foram sugeridos ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas ainda não há confirmação de que estejam na lista final de indicações da União para o conselho, dizem fontes.
A União deve anunciar oito nomes para o conselho de administração da Petrobras, que tem onze integrantes, sendo seis indicados pelo acionista controlador, que é a União. Segundo fontes, porém, os acionistas minoritários da Petrobras devem convocar o mecanismo do voto múltiplo na próxima assembleia. Pelo sistema, os acionistas podem concentrar votos nos candidatos e aumentam as chances de ocupar mais cadeiras. Com isso, mesmo que a União indique oito nomes para o conselho da Petrobras, como costuma ocorrer, é possível que consiga eleger apenas seis deles, o que deve manter a configuração atual do colegiado.
As demais vagas são distribuídas entre a representante dos empregados, Rosângela Buzanelli, e os indicados dos acionistas minoritários, Marcelo Gasparino, José João Abdalla Filho, Marcelo Mesquita e Francisco Petros. Os últimos dois foram eleitos pelo voto em separado da União em abril de 2022. Já Gasparino e Abdalla Filho foram escolhidos pelo mecanismo de voto múltiplo em agosto do ano passado. A eleição deve ocorrer em assembleia geral extraordinária (AGE), que será convocada após checagens internas de adequação dos nomes. A convocação da reunião precisa ocorrer com, no mínimo, 30 dias de antecedência.