Tribuna da Bahia
Motoristas que fazem uso frequente do carro saem em vantagem na aquisição do kit gás, tendo o investimento de volta em três meses
Com o preço dos combustíveis dando saltos incríveis durante a pandemia, a exemplo da gasolina (que chegou a custar mais de R$ 8 nos postos da Bahia), muita gente começou a considerar a conversão para o Gás Natural Veicular (GNV). E o interesse realmente aumentou: em todo o país, são 2,6 milhões de veículos que circulam com o kit gás instalado, de acordo com informações da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). Por aqui, a Companhia de Gás da Bahia (Bahiagás) registrou aumento de 22,34% nas vendas para o segmento automotivo em 2022: ao todo, foram 358.740 metros cúbicos de gás veicular por dia. É o segundo ano de alta na procura: em 2021, o volume diário foi de 293.220 m³, 21,31% a mais frente a 2020. Antes de adquirir seu kit gás e rodar com GNV, veja as vantagens e possíveis desvantagens para uma decisão acertada.
Vantagens
De acordo com a Associação Brasileira de Distribuidoras de Gás (Abegás), a economia nas bombas ao escolher o gás natural chega a 57%, se comparada com as outras alternativas vendidas pelos postos de combustíveis. Dentre outras vantagens de aderir ao GNV, estão o menor desgaste das partes e componentes do motor, menos trocas de óleo e lubrificante, e a possibilidade de maior vida útil e intervalo entre as manutenções periódicas.
Vale dizer que, embora o preço para aquisição do kit gás ainda seja um tanto proibitivo, ficando em torno de R$ 5 mil e R$ 7 mil (fora a inspeção anual do sistema, na faixa de R$ 300), é possível rodar mais quilômetros por metro cúbico após a conversão. Enquanto o veículo com etanol roda em torno de 7 km por litro e a gasolina 10 km, o GNV pode render até 16 km. O rendimento depende do modelo e dos hábitos de condução.
Em todo o país, são 2,6 milhões de veículos que circulam com o kit gás instalado | Foto: Romildo de Jesus
Preços
É importante saber que o gás natural atualmente tem uma tributação menor: dados divulgados pela Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis) mostram que o ICMS sobre o GNV é de 12%, frente aos 18% da gasolina comum e do diesel, o que deixa o valor mais atrativo para o consumidor. Em Salvador, o preço médio de revenda do GNV é de R$ 4,14 o metro cúbico, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP); entretanto, em alguns postos visitados pela reportagem da Tribuna nos bairros de Brotas, Calçada e Retiro, foi possível encontrar o GNV por menos de R$ 4. Em outras praças do Estado, como Feira de Santana, Alagoinhas e Camaçari, os valores oscilaram entre R$ 4,18 e R$ 4,30. Uma economia considerável, quando o litro da gasosa comum sai a R$ 5,40 e o diesel S-10 a R$ 6,54.
Vale a pena?
Alguns fatores devem ser levados em conta na hora de mudar a forma de abastecimento. É preciso ter em mente que o Código Brasileiro de Trânsito considera a conversão como modificação das características originais do veículo, que pode trazer consequências para seu funcionamento, passando pela redução de espaço no porta-malas para a colocação do cilindro, a perda da garantia do fabricante no caso de carros flex e o ressecamento da injeção do veículo. Do ponto de vista econômico, a reportagem apurou que é preciso avaliar qual é o uso feito do veículo para saber se realmente vale a pena: quem roda mais, como os motoristas de aplicativo e aqueles que viajam bastante por estradas planas (trechos íngremes exigem mais gasto de GNV), vão ter de volta o dinheiro do kit gás mais rápido, e desfrutam de um melhor custo-benefício por km rodado.
Por exemplo, quem faz o trajeto Salvador-Feira todos os dias (6,9 mil km/mês, ida e volta) vai levar pouco mais de 3 meses para recuperar o investimento da conversão, com uma economia de 39% ao ano em relação à gasolina comum (R$ 17,9 mil a menos). Enquanto isso, quem roda apenas 20 km diariamente também terá a vantagem de 39% (economizando R$ 1560 ao ano com a instalação), porém só conseguirá recuperar o dinheiro do seu kit gás em 38 meses. Assim, para o consumidor que faz distâncias curtas e tem o etanol como opção de abastecimento, a conversão para gás pode não compensar, uma vez que os preços do biocombustível e do GNV não estão muito distantes (a média do litro de etanol em Salvador, ainda de acordo com a tabela de preços da ANP, era de R$ 4,47).
*A assessoria da Bahiagás ficou de enviar um posicionamento relativo às expectativas para 2023, o que não ocorreu até o fechamento desta edição.