Valor Econômico
O cenário de bloqueios em estradas nos últimos dias no país levou instituições empresariais do setor de óleo e gás a lançarem alertas a respeito de possível falta de combustíveis em algumas localidades do país.
Para o Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), há uma “grande preocupação” com o “risco real de desabastecimento” em algumas regiões. A Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Bicombustíveis (Brasilcom) ressaltou “o potencial risco de desabastecimento” e pediu às autoridades “o urgente desbloqueio das estradas e, onde necessário, proteger e acompanhar o deslocamento do transporte de combustíveis”.
Para o IBP, é “fundamental” que os agentes do setor evitem lançar medidas que, ainda que com a expectativas positivas, possam desorganizar a cadeia em um momento crítico, sem causar impactos relevantes no abastecimento. Nesse sentido, fez algumas críticas a medidas tomadas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) ainda na noite de terça-feira.
Na ocasião, a diretoria da agência aprovou medidas preventivas para garantir a continuidade do abastecimento de combustíveis. Entre as medidas, o órgão regulador determinou a suspensão das obrigações de manutenção de estoques semanais médios mínimos pelas distribuidoras; liberou as revendas de gás liquefeito de petróleo (GLP) para comercialização de produto em vasilhames de outras marcas além daquela para a qual estão autorizadas; autorizou que transportadoresrevendedores-retalhistas (TRRs) comercializem gasolina C e diesel diretamente com postos de revendedores; e liberou a cessão de espaço para armazenagem, entre diferentes agentes econômicos, independentemente de homologação da ANP.
Na visão do IBP, foram corretas as decisões de liberar os estoques mínimos e de flexibilizar o espaço entre distribuidores, de forma a agilizar e otimizar a gestão dos estoques. “Por outro lado, nos preocupam a liberação de marcas no GLP e flexibilização de venda direta de gasolina e diesel aos postos, medidas já testadas e que pouco contribuíram em situações anteriores”, disse o IBP em nota.
O instituto frisou ainda que tais medidas “geram ineficiência operacional, insegurança nas relações entre os agentes da cadeia e criam espaço para eventuais abusos e distorções difíceis de fiscalizar”.
O IBP reforçou a necessidade de se avaliar “com urgência e profundidade” a flexibilização do percentual de biodiesel no diesel a ser comercializado devido à dificuldade de fazer chegar esses produtos nas bases de mistura das distribuidoras. O fornecimento a todo o país de biocombustíveis para as misturas obrigatórias ao diesel e biodiesel é um dos pontos de atenção desde o início das manifestações, pois os Estados com os maiores bloqueios concentram grandes usinas de biodiesel e etanol.
Os problemas de abastecimento decorrentes dos inúmeros bloqueios nas estradas acontecem desde terça-feira, principalmente nos Estados que concentraram a maior parte das paralisações, caso de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Segundo a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), na terça-feira a situação mais crítica ocorreu em Santa Catarina, com falta de combustíveis em parte do Estado.
Na terça, postos de combustíveis catarinenses chegaram a ficar sem gasolina e etanol, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo de Santa Catarina (Sindipetro-SC). No Paraná, as paralisações causaram problemas na distribuição em todas as regiões, mas não ocorreu falta generalizada, de acordo com o sindicato local (Paranapetro). Postos do entorno do Distrito Federal, que recebem combustível de Goiânia (GO), também ficaram sem produto.
Houve ainda registros de problemas no fornecimento de etanol anidro e biodiesel em pontos de entrega de combustíveis em polos de distribuição que dependem de entregas por rodovias, como Paulínia (SP), Betim (MG), Araucária (PR) e Itajaí (SC), disseram fontes. Segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Derivados do Petróleo do Estado de Minas Gerais (Minaspetro), postos de algumas regiões apresentaram falta de produtos.
No Rio de Janeiro, os postos recebiam, na terça-feira, menos combustíveis das bases de distribuição, o que motivou contingenciamentos, disse o sindicato local (Sindicomb-Rio). Distribuidoras de combustíveis no Distrito Federal limitaram a partir de segunda à noite a quota diária de combustível para entrega por causa de bloqueio total ou parcial de vias de acesso à capital da República, informou Paulo Tavares, presidente do Sindicombustíveis-DF.
Valéria Lima, diretora de downstream do IBP, afirmou que o instituto olha com atenção também para as refinarias. Petrobras e Acelen, que operam a maior parte das refinarias no país, disseram na terça que ainda não havia impactos nas unidades de refino, pois o fluxo de combustíveis é realizado majoritariamente por dutos.