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Adriano Pires*
O mundo todo fala sobre a transição energética promovida por grandes petroleiras. Enquanto isso, no Brasil muitos criticam a posição da Petrobras, alegando que a empresa estaria muito atrasada nos seus investimentos em energia renovável. Vamos aos fatos.
A Petrobras, em 2015, era uma empresa tecnicamente quebrada. Tinha uma dívida de mais de US$ 100 bilhões, uma alavancagem (relação entre a dívida liquida e o Ebitda) que chegou a quase 5 vezes, passando a ser a empresa com maior dívida e alavancagem, quando comparada às outras grandes petroleiras.
As razões para a Petrobras chegar a esses números, que levaram a empresa a uma situação caótica, foram uma total perda da disciplina de capital, em função principalmente de uma política de preço de combustíveis subsidiada e investimentos em ativos sem o menor cuidado de olhar as taxas de retorno.
Dentro desse contexto, a Petrobras criou uma empresa chamada Petrobras Biocombustíveis (Pbio) cujo pano de fundo era dar início ao processo de transição energética. O problema é que a Pbio passou a ser uma empresa constituída de ativos ruins, que foram comprados para atender a interesses políticos, sem se preocupar com o retorno desses investimentos para a empresa.
Algumas medidas foram tomadas para que a empresa voltasse a ter disciplina de capital, reduzindo a dívida pela metade e a alavancagem para algo em torno de 1,4 vez. A partir do governo Temer, com um aprofundamento no governo Bolsonaro, foram implantadas uma política de preços seguindo a paridade internacional (PPI), redução de custos, plano de desinvestimentos e investimentos onde existissem taxas de retorno adequadas a uma empresa de petróleo.
Portanto, o desafio que se colocava era fazer a Petrobras voltar a ter saúde financeira, recuperando o valor das suas ações e a sua imagem perante os seus acionistas e ao mercado. Esse desafio foi cumprido.
Hoje, a Petrobras é uma empresa com os melhores indicadores econômico-financeiros e um valor de mercado acima de R$ 520 bilhões, o maior da sua história. Portanto, pronta para iniciar um novo ciclo ou, melhor, apresentar um plano de negócios onde um dos eixos principais certamente será o seu posicionamento sobre como pretende investir na transição energética.
Quando olhamos o atual portifólio da Petrobras temos a certeza de que o valor da empresa pode ainda crescer muito. Basta olhar o potencial do pré-sal, que possui um diferencial importante nos tempos de transição energética. Se o petróleo do pré-sal de baixo teor de enxofre substituir o produzido por outros competidores, isso irá reduzir as emissões de carbono.
Um outro passo, já dado, foi a assinatura com o Cade de um compromisso que obriga a empresa a vender metade da sua capacidade de refino, que são ativos de alto risco ambiental. Isso permitirá que a Petrobras concentre nas refinarias do Rio e São Paulo investimentos em melhoria de eficiência energética e ambiental, transformando essas refinarias em biorrefinarias, produzindo produtos de maior valor agregado, como diesel verde, bioquerosene de aviação e lubrificantes do grupo 2 e 3.
A Petrobras não pode e nem deve renunciar à disciplina de capital e para isso não pode cair no erro de criar uma nova Pbio. Isso só levará à perda do valor da empresa conquistado nos últimos anos. Voltar a usar a Petrobras como instrumento político sob a justificativa de estar promovendo a transição energética será um retrocesso.