Valor Online
As eleições presidenciais de domingo devem ter efeitos na venda de ativos da Petrobras no setor de refino e também tendem a impactar políticas de incentivo ao escoamento de gás natural até a costa, segundo especialistas da indústria de petróleo. Na produção de petróleo e gás, entretanto, não são esperadas grandes alterações, a despeito de uma vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou de Jair Bolsonaro (PL), apontam analistas.
“Os projetos de produção são de médio a longo prazos. A maioria dos projetos que vão começar a produzir até 2026 já está contratada. Independentemente do resultado eleitoral, a produção deve seguir a mesma”, diz o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e sócio consultor do escritório Schmidt Valois Advogados, Aurélio Amaral.
Em relatório divulgado nesta semana, a consultoria S&P Global Commodity Insights afirma que ambos os candidatos presidiram o país em momentos de aumento da produção.
No governo Lula, entre 2003 e 2010, a produção nacional de petróleo cresceu 45%, um incremento de 700 mil barris por dia, com o estímulo ao desenvolvimento de áreas em águas profundas. Nos últimos quatro anos, no governo Bolsonaro, a consultoria também indica um crescimento “notável” na extração de petróleo, com alta de 15%, equivalente a 400 mil barris/dia.
Os dados mais recentes da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que a produção brasileira de petróleo deve sair de cerca de 3 milhões de barris/dia em média em 2022 para 4,5 milhões de barris/dia em 2026, ao fim do próximo mandato presidencial.
A analista da S&P Rene Santos diz, entretanto, que pode haver menor participação de empresas estrangeiras na exploração e produção em um eventual governo Lula, caso haja um novo endurecimento das regras de conteúdo local. “Uma menor participação estrangeira poderia desacelerar o crescimento da produção no médio prazo. No entanto, a Petrobras deve compensar potenciais reduções. Capacidade para isso não seria um problema, pois [a companhia] é considerada uma das empresas de águas profundas mais proeminentes do mundo”, diz em relatório.
Santos afirma ainda que, sob um novo governo Lula, a Petrobras pode ter uma ampliação do endividamento. “É provável que Lula amplie os investimentos em refino, energias renováveis e as operações da Petrobras no exterior”, diz.
Amaral concorda que uma mudança no governo pode impactar o setor de refino, com uma possível mudança no ritmo de venda das refinarias da Petrobras, caso Lula seja eleito. O candidato do PT critica os desinvestimentos da Petrobras, que avançaram no governo Bolsonaro.
O consultor diz também que um dos principais temas na pauta do setor nos próximos anos deve ser o escoamento de gás natural dos campos marítimos até a costa, qualquer que seja a orientação do governo brasileiro. “É preciso criar uma solução para o escoamento de gás, para haver um novo processo de revitalização industrial. Não podemos continuar a reinjetar o gás natural nos reservatórios no nível que fazemos atualmente. De alguma forma, qualquer que seja o governo, vai ser necessário enfrentar essa questão”, diz.