Agência Estado
O poder de compra do brasileiro no segmento de combustíveis é o pior nos últimos dez anos, refletindo o congelamento do salário mínimo frente à inflação trazida pela alta do petróleo no mercado internacional, revela estudo exclusivo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Em 2012, com um salário mínimo, era possível comprar 16 botijões de gás de 13 quilos, ou gás de cozinha, que hoje seriam apenas 11 botijões, com a perda do poder aquisitivo. Atualmente é possível comprar, em média, 167 litros de gasolina com um salário mínimo, volume inferior aos 227 litros que eram comprados dez anos antes. No diesel, os atuais 180 litros estão muito aquém dos quase 300 litros que se comprava em 2012, avaliou o Dieese.
“O encolhimento do salário mínimo, sem aumento real pelo terceiro ano seguido em 2022, soma-se ao cenário de alta dos combustíveis e escalada da inflação, o que afeta o orçamento das famílias”, destaca o economista do Dieese, Cloviomar Cararine.
Nesta quarta-feira, 27, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), revelando que a gasolina foi a maior pressão para a alta da inflação de 1,73% de abril, contra 0,95% em março.
“Por trás desse péssimo desempenho está a política de preço de paridade de importação (PPI) implantada pela Petrobras em outubro de 2016, com reajustes dos combustíveis com base nas cotações internacionais do petróleo, variação cambial e custos de importação de derivados, mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.
Acumulado
Bacelar ressalta que, de outubro de 2016 a março de 2022, nas refinarias, a gasolina acumulou reajustes de 157,3%; o diesel, de 157,6%; e o gás de cozinha, de 349,3%, segundo dados da Petrobras elaborados pelo Dieese. No mesmo período, o salário mínimo subiu apenas 37,7%.
“É o resultado da política de empobrecimento galopante do brasileiro executada pelo governo federal”, completa.
Em uma comparação do poder de compra de combustíveis em diferentes países, o estudo revela que o brasileiro precisa empenhar 21% do salário mínimo para adquirir 35 litros de gasolina, um dos porcentuais mais elevados do mundo, segundo o Dieese.
O estudo ressalta que o Brasil, embora grande produtor mundial de petróleo e derivados, é o quarto pior colocado (atrás da Venezuela, Ucrânia e África do Sul), em um ranking de 40 países classificados de acordo com o poder de compra de combustíveis de seus salários mínimos, publicado em março último.
O estudo do Dieese mostra ainda que, por falta de investimentos no setor, a capacidade instalada de refino do Brasil está estacionada em 2,36 milhões de barris por dia desde 2016. Também o volume de produção de derivados se estabilizou na faixa de 1,8 milhão de barris por dia desde 2017, abaixo do patamar de 2 milhões de barris por dia registrado entre 2010 e 2016.