Represar preço da gasolina terá custo enorme, diz economista

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Valor Econômico

Diante do debate sobre se a Petrobras deve ou não manter os preços dos combustíveis nas refinarias para aliviar o impacto da inflação, o economista-chefe do banco Original, Marco Caruso, disse que não repassar a alta pode ajudar momentaneamente, mas geraria consequências graves no longo prazo.

“Nós já experimentamos que represar preços tem custos enormes. Acaba entrando em situações sui generis, em que uma empresa de óleo e gás tem que torcer para o preço externo não subir”, disse Caruso na Live do Valor.
Para o economista-chefe do Original, represar os preços é como tentar controlar a febre quebrando o termômetro. “O preço é só um termômetro de algo que está desregulado”, disse, ressaltando que prefere a manutenção da política de preços da Petrobras que respeita o mercado internacional.

Caruso comentou ainda que faz sentido ter uma janela de tempo para os repasses porque o mercado de petróleo está muito volátil, mas reiterou que prefere que o preço internacional seja respeitado.
Na segunda-feira, o governo anunciou a demissão do general da reserva Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras a pedido do presidente Jair Bolsonaro. A decisão foi incentivada pelos reajustes recentes nos preços dos combustíveis. Para ocupar o cargo, o governo indicou o economista Adriano Pires.

Sobre a inflação, Caruso observou que a alta dos preços tem desafiado o mundo todo, com exceção de poucos países, como o Japão. “A grande história do mundo hoje é a inflação e ela tem que ser controlada. E tem que ser do modo clássico, com juros mais altos”, disse. “A inflação é resistente e não é só mais uma história de pandemia”, acrescentou, incluindo a guerra entre Rússia e Ucrânia como mais um fator inflacionário.
Diante do cenário externo “desafiador”, o economista disse que o Brasil se tornou mais atrativo para os investidores estrangeiros após a guerra, mas em sua análise trata-se de um movimento temporário.

“Essa visão positiva que o mercado passou a ter olhando para o Brasil não é estrutural. É momentânea. O Brasil não transaciona muito com a região em conflito e tem uma pauta de exportação que é concorrente. Assim, sendo é um lugar que usufrui economicamente deste momento via commodities”, comentou, lembrando que 70% do índice Ibovespa é composto por commodities, que estão se beneficiando da inflação, e bancos, favorecidos pelos juros mais altos.

“Veio um fluxo pra cá, mas eu não vejo esse fluxo mirando melhora de fundamentos. As commodities estão mais altas por questão de oferta, o que geralmente é temporário. Não é estrutural”, analisou Caruso.

O economista ainda argumentou que, embora a valorização do real venha surpreendendo desde o início da guerra, favorecido pelo aumento das commodities, os fundamentos não são tão positivos para a moeda brasileira no médio prazo. “Quando eu olho numa janela maior de tempo, há preocupações externas que me desenham um câmbio [dólar] pra cima. Em algum momento a gente vai ter uma normalização dos preços das commodities conforme o conflito se acalme”, disse, em referência à guerra entre Rússia e Ucrânia.

Caruso também vê um aumento maior do que o esperado na taxa de juros dos EUA, que neste mês foi elevada para o intervalo entre 0,25% e 0,50%. Ele observa que o juro americano terá que aumentar bem mais do que isso para controlar a inflação do país, que atualmente está no nível de 7,9% no acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro. Para ler esta notícia, clique aqui.

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