Etanol deve subir mas se manter competitivo

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Valor Econômico

A inexorável alta dos preços da gasolina que acontecerá nas bombas nos próximos dias, depois que a Petrobras decidiu repassar parte da alta do petróleo, vai também encarecer os preços do etanol hidratado. Porém, alguns analistas acreditam que o biocombustível deve manter ou até ganhar um pouco mais de competitividade e, assim, fornecer alternativa também mais econômica aos consumidores por algum tempo.

“A tendência é de a competitividade do etanol aumentar” afirmou Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro. Quanto? Ele diz ser difícil prever, já que o nível de repasse da alta da gasolina nas refinarias para as bombas também depende do que acontecerá com as margens de distribuidores e postos, da reação dos preços do etanol e do mercado de açúcar.

Nastari acredita ser possível que o etanol chegue nas bombas do Estado de São Paulo (maior consumidor do país, com cerca de metade do volume comercializado) a valer 68% do preço da gasolina daqui 15 a 30 dias – contra uma correlação de 69,5% atualmente. Historicamente, o etanol hidratado é considerado economicamente quando seu preço está abaixo de 70% do da gasolina.

Na hipótese, porém, da correlação observada no momento se manter pelas próximas semanas, o etanol hidratado pode subir até 6,9% nos postos paulistas, diante de uma valorização de R$ 0,433 o litro esperada para a gasolina, calcula a Datagro.

Em um segundo momento, isso impactaria o preço do etanol anidro (adicionado à gasolina em 27%), que oscila de acordo com os valores do hidratado de acordo com os contratos entre produtores e distribuidoras. Com isso, a gasolina vendida nos postos poderia acumular alta de R$ 0,504 o litro.

Diretor da SCA Trading, de etanol, Martinho Ono acredita que a correlação de preços deve continuar favorável ao renovável. Ele lembra que os preços do etanol tiveram que recuar nas últimas semanas para recuperar parte do consumo perdido no início do ano, quando as vendas caíram mais de 40%. “Estávamos em recuperação de clientes na bomba, não podemos perder isso”, defende.

Ono avalia que os estoques de etanol são volumosos e suficientes para dar conta ainda de um aumento das vendas, que ainda estão abaixo dos níveis de um ano atrás. “O etanol que temos disponível e que vamos precisar dá para [um consumo de] 1,4 bilhão a 1,5 bilhão de litros por mês. Ainda não alcançamos isso”, afirmou.

Em janeiro, as vendas ficaram em 1 bilhão de litros e, em fevereiro, devem ter alcançado 1,1 bilhão de litros, estima Ono. No último dia de fevereiro, o Centro-Sul tinha em estoque 2,3 bilhões de litros de etanol hidratado para garantir o abastecimento de março e início de abril – a moagem de cana da nova deve começar na segunda quinzena de abril, dizem analistas.

O diretor da SCA avalia, porém, que os preços do etanol devem subir menos, já que nos últimos dias já houve um aumento nas usinas, “antecipando” a alta da gasolina. Para Ono, a gasolina vendida nas bombas vai subir R$ 0,50 o litro.

Tarcilo Rodrigues, diretor da Bioagência, avalia que não há mais espaço para o biocombustível ganhar competitividade ante a gasolina e aposta que os preços do etanol vão acompanhar a alta do combustível fóssil nas bombas. Ele estima uma elevação de cerca de R$ 0,15 no litro do biocombustível e de R$ 0,25 no litro da gasolina.

O nível de repasse, porém, também dependerá da avaliação que as distribuidoras e postos fizerem do impacto no consumo. Em janeiro, a alta dos preços dos combustíveis acabou deprimindo a demanda, que retraiu 9%.

A alta dos combustíveis deve também interferir na formação de preços do açúcar no mercado internacional. A Datagro estima que, com a alta potencial do etanol caso seja preservada a correlação atual de 69,5% ante a gasolina, o etanol vai chegar ao equivalente em preços de açúcar a 20 a 21 centavos de dólar a libra-peso – acima do preço atual. Ontem, o açúcar demerara para maio fechou a 19,06 centavos de dólar a libra-peso.

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