O Globo
Com o represamento dos preços dos combustíveis e a disparada do valor do petróleo no mercado internacional, a Ipiranga enviou um comunicado a seus revendedores avisando que a empresa irá analisar cada pedido antes de entregar o óleo diesel. O objetivo, diz a empresa, é “garantir o suprimento competitivo”.
A empresa atribui o gargalo ao fornecimento internacional. “Os pedidos do dia para o mesmo dia e a antecipação de pedidos serão submetidos a análise antes da liberação”, diz o comunicado enviado aos clientes da Ipiranga nesta terça-feira.
Normalmente, as distribuidoras não fazem essa análise antes de liberar as entregas dos combustíveis. Com uma análise sendo feita previamente, a empresa avalia seus estoques e a distribuição do produto, garantindo uma distribuição mais uniforme do óleo diesel.
No comunicado, a empresa — uma das maiores distribuidoras do país — afirma que está priorizando o atendimento dos pedidos na sua rede própria de revendedores.
Por meio da assessoria de imprensa, a Ipiranga disse que está “ciente do cenário de suprimentos amplamente divulgado pela mídia”. “A Ipiranga segue trabalhando de forma diligente para manter a regularidade do abastecimento da rede de postos Ipiranga e clientes empresariais”, diz o texto.
A situação da Ipiranga é o primeiro reflexo do represamento do preço dos combustíveis. Como o GLOBO mostrou nesta terça-feira, executivos do setor de petróleo e técnicos do Ministério de Minas e Energia (MME) temem desabastecimento de gasolina, diesel e gás de cozinha.
O principal temor hoje observado no mercado é com relação ao óleo diesel, combustível mais importado.
Distribuidoras, inclusive, já começaram a traçar um plano para um cenário de falta de diesel. Nesse caso, as empresas iriam privilegiar o abastecimento a forças de segurança, transporte público e serviços de saúde.
Executivos do setor afirmam que a importação está bastante pressionada, por conta do cenário externo. Além disso, aplicações que normalmente usam gás natural, passaram usar diesel, já que o primeiro ficou mais caro.
Hoje, a Petrobras pratica o que é chamado de paridade de preço internacional, que leva em consideração os valores do barril de petróleo e do dólar para definir os valores dos combustíveis no mercado interno. Essa política é alvo agora do governo Bolsonaro e do Congresso Nacional.
A estatal, porém, não reajusta os preços há mais de 55 dias. No último reajuste, o barril de petróleo era cotado a US$ 80. Agora, está na casa de US$ 120. Os valores subiram por conta das sanções ocidentais à Rússia causada pela invasão na Ucrânia.
Atualmente, a Petrobras é responsável por cerca de 80% do mercado nacional de combustíveis e praticamente não importa o produto.
O restante é importado, seja pelas grandes distribuidoras de combustíveis (responsáveis por metade do mercado) ou por importadores que abastecem os pequenos postos. Ou seja, a Petrobras, sozinha, não garante o abastecimento do país.
Com valores diferentes (entre o mercado interno e o mercado internacional), os importadores então teriam prejuízos, cenário em que simplesmente parariam de comprar o produto no mercado internacional. O resultado é que a demanda interna pode não ser atendida em sua totalidade, levando a um risco de desabastecimento, de acordo com diversas fontes do setor.