Valor Econômico
Com o pico dos preços do petróleo nos últimos dias, a defasagem da Petrobras para a paridade internacional se acentuou e, segundo estimativas de mercado, já atinge o R$ 1 no diesel – o maior patamar desde que a empresa começou, em 2016, a vender combustíveis com preços alinhados à paridade de importação. A estatal está há 49 dias sem mexer nos preços nas refinarias e um novo reajuste é questão de tempo, à medida que o agravamento da guerra na Ucrânia pressiona a cotação da commodity, de acordo com analistas.
Ontem, o barril do tipo Brent, referência global, fechou o dia com valorização de 7,58%, cotado a US$ 112,93 – nível mais alto desde 2014. Além da escalada da guerra na Ucrânia e das dificuldades de tradings de comprar óleo russo, contribuíram para a alta da commodity a queda dos estoques dos EUA e a decisão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de manter o aumento da produção em 400 mil barris/dia para abril, como esperado, mesmo diante do aperto da oferta.
A consultoria Stonex estima que a Petrobras vende o litro do diesel S-10 com uma defasagem 30%, ou R$ 1,10, em relação à paridade de importação (PPI), enquanto na gasolina a diferença é de 25%, ou R$ 0,80 por litro. A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) reclama que a estatal está segurando reajustes sistematicamente e que as janelas de oportunidade para as tradings privadas estão fechadas no país. A entidade calcula que a defasagem da petroleira em relação aos preços internacionais chegou, ontem, aos 25% – o equivalente a R$ 1,22 no diesel e de R$ 1,10 na gasolina.
Stonex e Abicom estimam que está é a maior defasagem de preços da Petrobras para a paridade internacional desde 2016.
Na avaliação do consultor em gerenciamento de riscos da Stonex, Pedro Shinzato, este é “um teste de estresse bem intenso” para a política de combustíveis da estatal. Ele destaca que a companhia vem segurando reajustes desde janeiro e que a defasagem atual é tão alta que dificulta um completo alinhamento aos preços internacionais.
Shinzato acredita que a petroleira fará, diante disso, um reajuste parcial, sem repassar toda a alta das últimas semanas. Ele cita, no entanto, que a defasagem da empresa já cria distorções no mercado. Vale lembrar que, desde o fim de 2021, a Petrobras concorre com a Acelen (do Mubadala), dona da Refinaria de Mataripe (BA).
O Goldman Sachs destacou que a defasagem dos preços da Petrobras está acima dos patamares de 2021, quando a estatal praticou, na média, preços 9% abaixo da paridade no diesel e 15% abaixo da referência internacional na gasolina. O banco aponta, no entanto, que os ganhos do segmento de exploração e produção com a valorização do óleo compensam as margens menores no refino.
Diante da alta do petróleo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD/MG), sinalizou para a retomada, na semana que vem, das discussões sobre os dois projetos de lei que tramitam na Casa e que propõem soluções para frear os preços dos combustíveis no país.
No Brasil, o preço médio da gasolina vem de cinco semanas consecutivas de queda, nas bombas, de acordo com a Agência Nacional de Petróleo (ANP), mas novos ajustes da Petrobras tendem a reverter a curva. O derivado foi negociado, em média, a R$ 6,56 o litro nos postos na semana passada, patamar 1,5% abaixo da semana entre 16 e 22 de janeiro, quando o preço médio nas bombas subiu pela última vez. Já o diesel tem se mantido estável no período.
Na semana passada, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Petrobras sinalizou que observaria o comportamento do petróleo antes de decidir sobre eventuais reajustes. O diretor de comercialização e logística da estatal, Claudio Mastella, afirmou, no dia 24, que a desvalorização do dólar ante o real ajudou a compensar parte do aumento do barril e permitiu manter os preços inalterados desde janeiro até então. Ele reforçou que a companhia evita repassar as volatilidades conjunturais.
A Petrobras vem sendo pressionada pelo presidente da República em relação ao tema. Na semana passada, Jair Bolsonaro disse que o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, ganha “mais de R$ 200 mil por mês” e “tem que trabalhar e apresentar a solução”.
Para a Ativa Investimentos, o atual ritmo de alta da oferta da Opep manterá os preços altos e lança expectativas para a próxima reunião do bloco, no fim de março. A corretora acredita que, mantida a escalada do conflito no Leste Europeu, a Arábia Saudita e aliados terão dificuldades em lidar com os interesses conflitantes entre os EUA – que pedem por um crescimento mais rápido da oferta – e a Rússia, aliada do bloco e contrária a uma alta rápida da produção.
Já o gestor da Atlas One, Subhojit Daripa, sustenta a tese de que os níveis atuais de preço podem não durar. “Com o barril a US$ 120, podemos ter uma situação que leve à destruição da demanda. Isso pode fazer com que haja uma queda precipitada do preço.”. Procurada, a Petrobras não respondeu até o fechamento da edição.