Alta dos combustíveis impacta inflação – gasolina e diesel estão entre os principais vilões

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No final de agosto, o litro da gasolina atingiu R$ 7 em quatro estados brasileiros. Neste mesmo mês, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que determina a inflação oficial do país, ficou em 0,87%, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse foi o maior percentual registrado em um mês de agosto desde o ano de 2000.
As taxas deste ano não foram baixas — julho teve a maior até agora, 0,96%. Entretanto, no mês passado, um dos principais responsáveis pela alta do índice foram os combustíveis. Segundo dados do IBGE, a maior variação (1,46%) provém dos gastos com transportes: a gasolina subiu 2,80% e responde pelo maior impacto individual na inflação do mês de agosto, que foi de 0,17 ponto percentual.
Os demais combustíveis também subiram: etanol (4,50%), gás veicular (2,06%) e óleo diesel (1,79%).
Como a gasolina impactou a inflação de agosto?
A inflação mede o aumento dos preços de bens e serviços e seu impacto no poder aquisitivo do comprador. André Braz, coordenador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica: “a gasolina chega a comprometer cerca de 5% do orçamento familiar, sendo uma das maiores despesas. Se a pessoa recebe mil reais, a gasolina consome, em média, R$ 50 da sua renda. Isso acontece porque a maioria das famílias usa carro flex e depende da gasolina para locomoção”.
Ou seja, quando a gasolina sobe, consequentemente a inflação irá subir. O especialista afirma que a cada 1% de aumento do combustível tem mais de 0,04 ponto percentual de impacto no índice de inflação. “Por exemplo, se o IPCA sobe 2%, cerca de 0,08 ponto percentual é por causa do combustível”, diz.
O preço da gasolina depende de vários fatores: dos tributos estaduais (ICMS) e federais (PIS/Pasep, Cofins e Cide), dos custos e despesas operacionais de cada empresa, dos biocombustíveis (como etanol) adicionados à gasolina, das margens de distribuição e de revenda e dos preços nas refinarias. Este último foi o que mais pesou no mês anterior, sendo equivalente a 35,6% do preço final, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Devido à alta da gasolina, os gastos com veículos próprios subiram 0,96% em julho, com aumento de 1,98% dos automóveis usados, 1,79% dos novos e 1,01% das motocicletas. Com isso, o peso da categoria Transportes (20,87%) superou o de Alimentação e Bebidas (20,83%) na composição do IPCA.
Na semana passada, a ANP divulgou que a gasolina havia subido pela sétima semana consecutiva, atingindo R$ 6,076 — uma alta de 0,28%. Hoje custa, em média, R$ 6,236, de acordo com dados da Ticket Log, empresa de gestão de frotas.

Diesel: vilão mascarado da inflação
A segunda maior variação no mês de agosto ocorreu no segmento de Alimentação e Bebidas (1,39%). E o encarecimento dos produtos da categoria também pode ter tido influência dos combustíveis, principalmente do diesel.
“Poucas famílias brasileiras têm carro a diesel, mas ele pode ser mais nocivo que a gasolina. É o combustível responsável por mover frotas de caminhões, que escoam a produção agrícola e transportam as mercadorias que o Brasil produz”, afirma Braz.
O especialista ressalta que o diesel acaba sendo um dos principais vilões da inflação. Porém, o peso que ele tem na inflação não fica claro, porque o custo dele está embutido no custo do produto. “Quando pagamos mais caro por uma fruta, não sabemos o quanto aquela fruta subiu por causa do diesel, da energia ou de uma quebra de safra, fica tudo misturado. Mas como o diesel está na estrutura de custo do transporte e subiu muito nos últimos 12 meses, acaba respondendo por boa parte da inflação que temos”, ressalta.
Segundo a Ticket Log, o preço médio do diesel em agosto nos postos do Brasil subiu 0,65% em relação a julho, chegando a R$ 4,759 o litro.
Se a gasolina não tivesse subido, a inflação poderia estar mais baixa?
“Se não fosse o preço da gasolina, a inflação estaria em aproximadamente 7%, seria em média 30% mais baixa. A gasolina pesou muito neste ano”, destaca Paulo Feldmann, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
Ele explica que, como nossa economia depende do transporte, que, por sua vez, depende da gasolina e do diesel, o impacto das altas dos preços do combustível foi muito grande.
Braz concorda com Feldmann e complementa: “É claro que a inflação atual está mais espalhada, é difícil achar um vilão, mas eu creio que os energéticos, que incluem gasolina, diesel, etanol e energia elétrica, respondem por metade da inflação dos últimos 12 meses”. De acordo com o IBGE, oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados tiveram alta em agosto.
A gasolina e, consequentemente, a inflação vão aumentar mais no futuro?
As perspectivas para a precificação dos combustíveis não são positivas: “Há muita incerteza, e a incerteza mexe com o câmbio. Um câmbio desvalorizado pode sugerir novos aumentos da gasolina. E como o mundo está aquecendo, porque tudo está voltando à normalidade mesmo com a pandemia de covid-19, isso tende a puxar o preço do petróleo. Eu diria que tanto pelo câmbio quanto pelo próprio preço do petróleo, a gasolina tende a aumentar ainda mais neste ano”, finaliza o especialista.
Autor/Veículo: Autoesporte

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