Boas práticas para uso do diesel, complicado?

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Quem nunca se deparou com esta frase: “é fundamental adotar boas práticas”? Até parece um mantra! Qualquer documento oficial, acadêmico, de associações (as mais variadas, ligadas ao segmento diesel), publicações, artigos científicos, além de outras manifestações, terminam do mesmo jeito. Boas Práticas!
Muito bem. Onde estão essas orientações? Seguramente, os que apregoam isso, devem saber como encontrá-las. Mas contam o segredo? Quais boas práticas são essas? Onde estão escondidas para permitirem que tantos problemas atribuíveis à sua inobservância permaneçam espalhados pelo Brasil?
É importante que se diga: o diesel, assim como tudo, sofre alterações contínuas para ser adaptado às novas demandas. O diesel de 20 anos atrás era muito diferente do que temos hoje. Tanto os motores passaram a requerer um produto de maior qualidade, como, também, aspectos ambientais motivaram mudanças em sua composição. Muitas características físico-químicas foram aprimoradas, o biodiesel foi incluído em sua composição e o enxofre teve de ser drasticamente reduzido por ser elemento bastante poluidor quando expelido por meio dos gases de escape. Como resultado, temos hoje um produto excelente para uso, muito mais amigável à saúde humana e à natureza. Porém, bem mais sensível a maus tratos.
Existem alguns locais clássicos onde manuais ou cartilhas de boas práticas podem ser encontradas, como os sites da ANP e da AEA. Este último, por exemplo, é de uma associação de engenharia automotiva, ou seja, não é normalmente frequentado pelos principais afetados: donos de postos de combustíveis, frotistas, produtores rurais, polos de mineração, TRRs e tantos outros grandes consumidores.
Sendo assim, se você já teve problemas com o diesel e nunca teve um guia de boas práticas, vou passar algumas dicas que fazem toda a diferença.
Em primeiro lugar, faz quanto tempo que seu tanque de abastecimento de combustível não é lavado? A recomendação é que o intervalo entre as lavagens não seja superior a dois anos, e o máximo de tempo que um tanque pode ficar sem ser limpo é de cinco anos. Portanto, se o seu tanque não vê limpeza há muito tempo (se é que um dia já foi limpo), eu digo: pare de ler esse artigo. Lave-o e só então passe para o próximo item. Em alguns países é possível fazer esse processo de forma química, sem ter de parar a operação além de algumas horas. No Brasil, essa prática não é regulamentada e a limpeza precisa ser mecânica. Procure saber quais empresas podem fazer esse serviço para você.
A segunda medida, simples, é a drenagem do tanque (limpo, de preferência). Se você não tem esse hábito e nem sequer lavou seu tanque, vai se surpreender com a quantidade de coisas estranhas que vai sair do dreno. Logo, drene seu tanque! Se estiver entupido, desentupa e drene até que saia toda a água e, a seguir, saia diesel puro.
A pior coisa no combustível é a água. Isso provoca corrosão, propicia desenvolvimento de microrganismos, reduz a vida do combustível e gera uma infinidade de problemas. A água deve ser eliminada a todo custo. Caso o diesel esteja turvo, pode ser sinal de água. Deixe-o descansar e a água decantará para o fundo do recipiente.
Uma vez drenado, repita a operação no dia seguinte. Se não sair água, faça o procedimento de dois em dois dias e aumente sucessivamente até descobrir o melhor intervalo para a sua operação. Claro, o dreno deve estar no local mais baixo do tanque (não me refiro a drenar o filtro, mas o tanque!) e, se possível, deve ser objeto de registro para que se verifique a qualquer momento a aplicação dessa prática.
A terceira dica, também básica, é assegurar que a sua instalação tenha um bom conjunto de filtros. São muitos no mercado. Observe o período de troca recomendado, mas fique atento: se o combustível estiver ruim, a troca será prematura. Não substitua seus filtros por outros que “duram mais”. A função do filtro é não deixar passar impurezas. Uma peça de maior durabilidade (se for de tamanho similar) pode não fazer a função corretamente. Normalmente, quando a vida recomendada é insuficiente em sua operação, é bem provável que os passos anteriores não tenham sido bem executados. Procure melhorias.
Muitos outros aspectos devem ser observados, como os cuidados com o caminhão de transporte de combustível, inspeção do combustível, condições da instalação do tanque de abastecimento etc. mas asseguro que, se seguirem essas práticas citadas – limpeza do tanque em periodicidade não superior a dois anos, drenagem apropriada da água e filtragem do combustível – os problemas vão diminuir sensivelmente.
Apesar de simples, essas medidas não são, via de regra, realizadas. As explicações são as mais variadas: desconhecimento, utilização de filtros inadequados, tanques sem dreno ou com dreno trancado (o proprietário teme que ao drenar, possa ser roubado e prefere deixar trancado). Os tanques subterrâneos são mais difíceis de drenar, mas também requerem esse procedimento. Colhendo resultados, verifique as outras medidas recomendáveis para aprimoramento de sua operação.
Visito muitas localidades com tanques grandes de combustível. Fico feliz quando vejo técnicas simples como essas sendo adotadas, mas não é o comum. Se tem um funcionário responsável por essa tarefa (algo altamente recomendável), este não ficará confortável se encontrar borra no tanque, nas tubulações ou em outro lugar. Ele vai chegar à conclusão de que alguma coisa errada está acontecendo e deve buscar ações. Há combustíveis sem qualidade? Pode até ser que sim, mas se as condições de tancagem são precárias e se as práticas mínimas de manuseio não estão sendo empregadas, como assegurar que o problema é do diesel? A parte que cabe ao usuário deve ser feita, nem que seja como premissa para poder reclamar.
O diesel tem peso importante nas contas de qualquer operação. Cuidar bem dele é primordial para atingir os requisitos de custo. Lembre-se, existem várias maneiras de se fazer as coisas. Opte sempre pela correta!
Vicente Pimenta – Consultor Técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove)

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