Valor Online
Querosene de aviação é a exceção, com as vendas impactadas pelo enfraquecimento do setor de transporte aéreo durante a pandemia.
O consumo de combustíveis fechou o primeiro semestre com sinais de recuperação no Brasil, em relação a igual período do ano passado, entre praticamente todos os derivados, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A exceção ficou por conta do querosene de aviação (QAV), cujas vendas ainda seguem impactadas pelo enfraquecimento da demanda por transporte aéreo na pandemia. A melhora do mercado doméstico, porém, ainda não significa uma plena retomada da comercialização de combustíveis, aos níveis pré-pandemia, para a maioria dos produtos.
Os números da ANP mostram que o diesel segue como o grande destaque positivo. O consumo do derivado cresceu 11% nos seis primeiros meses de 2021, frente à primeira metade do ano passado, para uma média de 4,94 bilhões de litros por mês. Na comparação com o primeiro semestre de 2019, houve um aumento de 8,1%.
“O carro-chefe é o agronegócio, mas também está havendo uma tendência muito forte de crescimento do transporte de produto industrializado, de carga seca no Brasil, diante de toda a transformação do consumidor neste momento [de pandemia], com o e-commerce, a venda online, o delivery”, afirmou o presidente da Ipiranga, Marcelo Araújo, em evento on-line, este mês.
A previsão da distribuidora, controlada pelo Grupo Ultra, é de que as vendas do diesel podem crescer até 8% este ano, na comparação com 2019 – em linha com o desempenho do primeiro semestre.
Araújo disse que a empresa reviu recentemente as suas projeções para 2021 e está mais otimista com o mercado brasileiro. A companhia estima um crescimento de cerca de 1% no consumo de combustíveis, no país, em relação a 2019, num movimento puxado justamente pelo diesel.
Segundo produto mais vendido nos postos brasileiros, a gasolina registrou, no primeiro semestre, um aumento de 8% em relação a igual período do ano passado, para uma média de 2,96 bilhões de litros por mês.
As vendas do derivado, porém, ainda não retomaram os patamares pré-Covid. Em relação aos seis primeiros meses de 2019, o mercado doméstico acumula em 2021 uma baixa de 3,9% na comercialização do combustível.
A mesma tendência é observada na venda do etanol hidratado – que, assim como a gasolina, é fortemente associado ao comportamento de consumo das famílias brasileiras. A comercialização do biocombustível subiu 2,7% ante janeiro e junho de 2020, mas acumula no ano uma retração de 14,5% em relação à primeira metade de 2019.
Outro derivado muito ligado ao consumo das famílias, o gás liquefeito de petróleo (GLP), conhecido como “gás de cozinha”, manteve vendas relativamente estáveis na comparação com o primeiro semestre de 2020, com uma ligeira alta de 0,3%. Ante os seis primeiros meses de 2019, a alta é de 4,3%.
Os números do mercado de GLP têm sido positivamente impactados pelas medidas de isolamento social na pandemia, já que se trata de um combustível massivamente usado nas residências, para fins de cocção.
A ANP contabiliza ainda uma alta de 50,7% nas vendas de óleo combustível entre janeiro e junho de 2021, ante igual período de 2020, e de 39,3% frente a primeira metade de 2019. O aumento é justificado pelo maior despacho das termelétricas no país, para fazer frente a crise hídrica que afeta o sistema elétrico nacional.
O setor aéreo, por outro lado, ainda está longe de recuperar os níveis de demanda pré-pandemia. O consumo de QAV acumula uma queda de 6,2% em 2021, ante o primeiro semestre de 2020, e de 47,3% frente a igual período de 2019.
Embora a primeira metade de 2020 tenha sido o período de auge das medidas de restrição à mobilidade, os números de 2020 se mantêm acima dos dados deste ano porque incorpora os volumes do primeiro bimestre do ano passado, período anterior à contração das atividades do setor aéreo.