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A cada dólar que o barril vai avançando, novos projetos de energia limpa vão surgindo; ou seja, há uma relação inversa. Assim, se os preços firmarem acima de U$ 100 irão sair das gavetas uma penca de projetos de investimentos ‘green’ substitutos, que são prejudiciais para quem produz a commodity

Valor Investe

Na segunda-feira passada, os preços do barril do petróleo caíram 7%, após a Opep+ ter anunciado, em sua reunião do fim de semana, que iria aumentar a produção em mais de quatrocentos mil barris/dia, a partir de agosto. Ao longo da semana, os preços se recuperaram parcialmente, para acima de U$ 70, após terem despencado, numa velocidade impressionante, para faixa dos U$ 67.
Não faz muitos dias, alguns analistas apontavam que o barril da commodity deverá encerrar o ano além dos U$ 100, quiçá U$ 120/barril. Segundo eles, é questão de tempo.
Existe uma enorme incoerência aqui. Se o Fed (o banco central americano), e os principais bancos centrais, advogam, com unhas e dentes, que a inflação que vem emergindo nos últimos meses é transitória, ou seja, retornará em breve (nos EUA) dos atuais 5,4% ao ano para 2%, como acreditar em preços do óleo explodindo? Historicamente, a inflação nos países ricos está associada a preços de energia nos píncaros.
Desde 2015 e 2016 que os preços do barril de petróleo não ficam em patamares acima de U$ 80. Existe uma lenda, em Washington, que os presidentes americanos têm pavor do galão de gasolina acima dos U$ 3. Os estudos apontam que há uma relação histórica de 30 vezes entre preço/galão, ou seja, U$ 90/barril corresponderia a U$ 3/galão.
Assim, se o preço for para o nível que aqueles analistas sugerem, de U$ 120/barril, o galão da gasolina iria para impressionantes U$ 4. Faço aqui uma observação importante: o preço médio nos principais estados americanos do galão de gasolina comum está em U$ 3,15, atualmente, segundo o site https://gasprices.aaa.com.
Particularmente, tenho dúvidas de preços consistentes(!) nos patamares aventados pelos meus colegas e vou explicar melhor meu ponto de vista.
Com o mundo se tornando mais “verde”, afinal Biden foi eleito com a plataforma de ser o “green president”, o uso de combustíveis fósseis vem sendo desestimulado. É só olharmos ao redor que veremos defesa de energia limpa em todos os lugares.
O ícone, aqui, é a Tesla e seus carros elétricos. Mas não é só. Aumentou em muito, de uns tempos para cá, a relevância do mercado de créditos de carbono, que é uma forma de compensação entre agentes que poluem a atmosfera com gás carbônico e aqueles que fortificam ações de compensação, como o cultivo de florestas. Nesse mercado, uma tonelada de CO2 equivale a um crédito de carbono que pode ser negociado no mercado internacional.
Meu principal argumento, contudo, para que os preços não avancem demais, viria da própria Opep. Apesar de, para ela, ser supostamente bom os preços estarem elevados, por ser um cartel, na prática não é. Por quê?
A cada dólar que o barril vai avançando, novos projetos de energia limpa vão surgindo; ou seja, há uma relação inversa. Assim, se os preços firmarem acima de U$ 100, minha percepção é que irão sair das gavetas uma penca de projetos de investimentos “green” substitutos, que são prejudiciais para quem produz a commodity.
Em outras palavras, se meu raciocínio faz sentido, a própria Opep não deseja preços muito elevados, pois, economicamente falando, os agentes vão buscando alternativas; inelásticos para mais elásticos. Assim, em meu entendimento, a Opep precisa de um “petróleo verde”, que se consubstanciaria em preços mais acessíveis.
É claro que, pontualmente, os preços podem subir para níveis acima de U$ 80/barril. Minha expectativa, entretanto, é que se acomodem, a médio prazo, no intervalo entre U$ 50 e U$ 60, onde continua interessante para o cartel e não afeta fortemente a inflação central.
Se aqueles analistas estiverem certos, é possível que tenhamos problemas geopolíticos mais à frente, pois os americanos irão pressionar os países do Oriente Médio a agirem, com consequências imprevisíveis, pois a região é tradicionalmente um barril.
Alexandre Espirito Santo, Economista-Chefe da Órama e prof. IBMEC-RJ

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