Folha de S.Paulo
Caminhoneiros de vários estados tentam emplacar uma nova greve, a começar no domingo (25), para protestar contra os sucessivos aumentos do diesel e reivindicar outras pautas da categoria, como fiscalização no preço de frete.
Lideranças buscam mobilização, mas parte dos motoristas diz que irá aguardar para ver se o ato ganha tração. Algumas tentativas de paralisação em 2019, um ano após a histórica greve de maio de 2018, reuniram motoristas de localidades específicas, sem abrangência nacional ou grandes congestionamentos.
Desta vez, quem encabeçou a organização foi o CNTRC (Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas), sediado no Paraná, que pede o fim da PPI (Política de Preço de Paridade de Importação) aplicado pela Petrobras e a garantia do piso mínimo de frete, instituído por lei após a paralisação de 2018.
“A PPI atinge muitos setores, estamos pagando gás de cozinha, óleo diesel e gasolina em dólar. Não tem mais condição para trabalhar”, afirma Plínio Dias, diretor-presidente da entidade. A ideia é que os caminhoneiros parem em postos de combustível e ergam faixas para chamar a atenção da população.
Dias foi candidato a deputado federal pelo Patriota em 2018.
Ainda sem conseguir dimensionar a adesão de motoristas, José Roberto, presidente da ANTB (Associação Nacional de Transporte no Brasil Liberdade e Trabalho), que também apoia o ato, afirma que a pauta deve ser abraçada por outros setores do transporte, como os motoboys.
“Se acontecer da forma que estamos vendo nos grupos, a população vai se mobilizar pelo preço dos combustíveis, e vamos reunir o pessoal do aplicativo”, diz. Alguns motoristas de Uber também se manifestam nos grupos de WhatsApp.
As lideranças querem que o protesto inicie no domingo, Dia de São Cristóvão, considerado o padroeiro dos motoristas, e continue nos dias seguintes.
Alguns caminhoneiros que participaram de outros manifestos pontuais da categoria nos últimos anos afirmam que irão aguardar a movimentação no domingo para decidir se param as atividades. Marconi França, caminhoneiro de Recife (PE) que já puxou a mobilização em seu estado, diz que o protesto precisa iniciar forte em São Paulo. Do contrário, é impossível garantir mobilização de outras regiões.
“Dessa vez eu vou esperar acontecer. Se não começar por São Paulo, pela Baixada Santista, não pega força”, afirma.
O autônomo apoia a paralisação e diz que a parte mais difícil já foi adquirida —referindo-se à política de preço do frete—, mas que não há vontade política do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) em ouvir a categoria e fiscalizar a lei.
A maior parte dos caminhoneiros “fez de seus caminhões carros de propagandas ambulante” para Bolsonaro, que “virou as costas para a categoria”, segundo ele.
Daniel de Oliveira, conhecido como Queixada e de um grupo ativo em 2018, que conseguiu interlocução com o governo na época, afirma que ainda não topou a mobilização porque é persona non grata nos grupos em que tentou entrar. Também deve esperar o ritmo das paradas para tomar uma decisão.
“Pode ocorrer greve, estou vendo mobilização, mas [como a de] 2018, não acontece mais. Tem muita politicagem, gente que só quer tirar o governo, mas tem que conversar com com quem para conseguir conquistar as coisas?”, diz.
Já a Abrava (Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores), comandada por Wallace Landim, conhecido como Chorão, uma figura política da categoria, vai se manifestar sobre a adesão à greve na sexta-feira (23). A entidade se reuniu com líderes classistas nesta quarta para deliberar sobre o apoio.
A pauta, para ele, precisa envolver mais segmentos da economia, como comércio, construção civil, motoristas e metalúrgicos. Além do fim da PPI, Chorão diz que é preciso fiscalização sobre preços de frete e pede que Bolsonaro “ouça o Brasil”.
Em nota, O Ministério da Infraestrutura diz que CNTRC “não é entidade de classe representativa para falar em nome do setor do transporte rodoviário de cargas autônomo e que qualquer declaração feita em relação à categoria corresponde apenas à posição isolada de seus dirigentes”.
A pasta acrescenta que é preciso entender o “caráter difuso e fragmentado” de representatividade do setor e que “nenhuma associação isolada pode reivindicar para si falar em nome do transportador rodoviário de cargas autônomo”.