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O primeiro veículo nacional movido a eletricidade e produzido em larga escala é um caminhão. A VWCO (Volkswagen Caminhões e Ônibus) lançou o e-Delivery oficialmente nesta terça (13), modelo voltado para o transporte urbano de cargas.
Há duas versões, com capacidade para 11 ou 14 toneladas. O sistema de tração é localizado na traseira e o motor tem o equivalente a 408 cv de potência. As baterias de íon de lítio permitem rodar até 250 quilômetros com uma carga completa nas versões mais caras.
O modelo se encaixa na estratégia de empresas que buscam neutralizar o carbono em suas operações. A Ambev foi a primeira a avaliar o e-Delivery e terá 100 caminhões elétricos até outubro. A Coca-Cola Femsa Brasil receberá 20 unidades ainda em 2021, enquanto a JBS também já fez seus pedidos.
O preço, contudo, é bem mais alto em comparação aos modelos a diesel e varia de acordo com as configurações de produto e autonomia.
A versão 4Ã-2 com 110 quilômetros de autonomia parte de R$ 780 mil. Um Delivery com motor a combustão e PBT (peso bruto total) de 11 toneladas custa a partir de R$ 275,7 mil.
A opção elétrica mais completa, 6Ã-2 e com autonomia de até 250 quilômetros, é comercializada por R$ 980 mil. A VWCO diz que o custo será diluído por meio da redução de gastos com manutenção e combustível.
Fatores como a desvalorização do real e o encarecimento dos insumos influenciam, mas com o ganho de escala, a Volks avalia que os preços podem cair. A empresa precisa lidar ainda com a escassez global de componentes, principalmente semicondutores.
‘Como o e-Delivery começa a ser fabricado agora e haverá um aumento gradual da produção, com pedidos feitos há muito tempo, não contemplamos esse problema dos semicondutores. Estamos gerenciando e tentando não parar’, diz Roberto Cortes, presidente da Volkswagen Caminhões e Ônibus.
Cortes afirma que o aumento da demanda no segmento de veículos pesados surpreendeu, e houve problemas de fornecimento no primeiro semestre. ‘Tivemos dificuldades com pneus e aço, mas os problemas foram diminuindo.’
Apesar dos valores envolvidos, a utilização de caminhões elétricos de pequeno porte no lugar dos veículos a diesel é uma das soluções para melhorar a qualidade do ar nas grandes cidades. Outra vantagem é a redução do ruído.
A menor necessidade de infraestrutura -grande problema dos modelos elétricos em países emergentes- justifica a escolha por um caminhão urbano. Como a autonomia é suficiente para atender a um dia de trabalho, é possível concentrar a recarga nas garagens no período da noite, por exemplo.
A depender da configuração do veículo e da capacidade do carregador, é possível recuperar 80% da energia em 45 minutos.
O e-Delivery é produzido por meio do e-Consórcio, que reúne fornecedores como Weg, Meritor, Siemens e ABB. A Moura será responsável pela montagem e reciclagem das baterias.
O veículo é montado na linha de produção da VWCO em Resende (RJ) e as baterias são instaladas em um novo galpão anexo, chamado e-Shop.
Um protótipo com capacidade de 14 toneladas foi avaliado em um espaço fechado durante a Fenatran 2019, maior evento nacional do setor de transportes.
Com carga máxima, o veículo surpreendeu pela capacidade de partida em rampa. O motorista só ouve um zunido distante ao acelerar, bem diferente do ruído típico dos caminhões a diesel.
O painel tem velocímetro digital e mostradores analógicos que exibem informações sobre o consumo de energia e a regeneração que ocorre nas frenagens.
A complexidade é baixa: ou se vai para frente, ou para trás. O motorista pode ter ar-condicionado à disposição, mas seu uso constante reduz a autonomia.
O lançamento de um caminhão elétrico em meio à crise hídrica gera preocupação com a viabilidade do projeto, mas a empresa afirma oferecer alternativas para contornar o problema.
‘Estamos oferecendo soluções sob medida, que vão desde um sistema de recarga mais simples à alternativa de colocar uma estação por energia solar na garagem ou oficina do cliente’, diz Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e pós-vendas da VWCO?.