O Globo
Mesmo num país como o Brasil, que há décadas já utiliza o etanol como combustível limpo, capaz de reduzir as emissões de CO2, o carro do futuro será elétrico. Não há dúvidas sobre essa tendência entre os especialistas do setor, o que muda por aqui é a velocidade da transformação.
O etanol pode funcionar como ponte para os carros elétricos. Já existe uma tecnologia de célula de combustível que poderia acelerar a produção desses veículos no país. Empresas como Bosch, Nissan e Volkswagen já desenvolveram protótipos dessa novidade.
— O sistema transforma o etanol em hidrogênio para alimentar a bateria elétrica e emite apenas vapor d’água. Se essa tecnologia ganhar força, o Brasil na verdade poderia ser o primeiro em uso de células bicombustível — avalia Marcus Ayres, sócio-diretor da consultoria Roland Berger.
Montadoras se reinventam
A indústria automobilística global vive atualmente uma de suas maiores revoluções e dá os primeiros passos para produzir carros elétricos em massa.
Isso implica uma reinvenção das montadoras numa indústria totalmente diferente do que elas foram até agora com os motores a combustão para fazer frente às empresas que já nasceram plugadas, como a Tesla, do bilionário Elon Musk.
O carro do futuro será uma espécie de celular sobre rodas, com chips, conectividade e um grau crescente de digitalização rumo à direção autônoma.
Além de agradáveis aos ouvidos, essas máquinas silenciosas são menos poluentes e mais eficientes no aproveitamento da energia elétrica, o que favorece o abastecimento por fontes renováveis.
— É um movimento global e irreversível estimulado por pressões sociais, ambientais, tecnológicas e até econômicas. As montadoras terão que se reinventar — diz Ayres.
Neste ano, a General Motors (GM) anunciou que pretende encerrar a produção de caminhões e carros a gasolina e diesel até 2035 no âmbito de seu plano emissão zero até 2040. Vai investir US$ 27 bilhões nessa jornada. Outras montadoras também estão fixando datas para virar a chave.
A japonesa Nissan anunciou que todos os seus veículos lançados nos EUA, Japão e China serão elétricos ou híbridos a partir de 2030. A Volvo, controlada pelos chineses da Geely, fez a mesma promessa.
A Stellantis, fruto da fusão entre Fiat Chrysler Automobiles (FCA) e PSA (Citröen e Peugeot) terá 39 modelos elétricos até o fim de 2021. A Volks acaba de lançar uma linha de SUVs elétricos em seu plano de liderar o segmento no longo prazo.
Na semana passada, o presidente dos EUA, Joe Biden, — que estuda até subsidiar descontos para americanos comprarem carros elétricos — testou a primeira picape elétrica da Ford.
Para concretizar essa transformação, as montadoras foram buscar tecnologias no Vale do Silício. A GM já trabalha com a Microsoft. A Hyundai teve conversas com a Apple, em 2020, para o desenvolvimento de um carro elétrico, mas esfriaram com o avanço do Projeto Titan, da fabricante do iPhone, que prevê o lançamento de um carro elétrico da marca.
O mercado espera um produto premium para competir com carros da Tesla, que bateu recorde de vendas no ano passado: 499.550 veículos.
Ainda 1% das vendas no país
A Geely se juntou às big techs da China Baidu e Tencent, empresas de tecnologia da China, que não esconde o interesse em assumir a liderança desse mercado. O país quer produzir 8 milhões de carros elétricos por ano a partir de 2028.
— Não há alternativa para o setor automotivo que não sejam essas parcerias com empresas de tecnologia para os carros conectados do futuro — diz Antônio Jorge Martins, coordenador dos cursos automotivos da FGV.
A consultoria britânica IDTechEx estima que veículos elétricos (inclusive híbridos) serão 20% do mercado global até 2030 e 80% até 2040.
A Roland Berger prevê que, até 2027, pelo menos um quarto das vendas globais de veículos será de elétricos. Hoje, em mercados como EUA e Europa, esse percentual é de 10%.
No Brasil, os elétricos ainda representam 1% das vendas. Mas a consultoria MegaDealer vem notando o aumento do interesse. Em 2017, foram vendidos 3.296 veículos elétricos.
Em 2020, mesmo com a crise da pandemia, foram 19.745, alta de 499% em relação a três anos atrás. O preço ainda é um limitador. Um elétrico importado custa entre R$ 200 mil e R$ 300 mil.