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Gestão Novo presidente da Petrobras disse que quer conciliar interesses de consumidores e acionistas

Valor Econômico

O novo presidente da Petrobras, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, disse ontem que a companhia vai buscar reduzir a volatilidade dos preços de combustíveis sem desrespeitar a paridade com os preços internacionais, mas não deu detalhes sobre como vai perseguir essa estratégia. Em seu discurso de posse, Silva e Luna afirmou ainda que quer conciliar interesses de consumidores e acionistas, estratégia que especialistas dizem ser de difícil execução.

“Quem chega deve chegar ouvindo mais e falando menos. Confesso que me sinto honrado pela confiança e impactado pela responsabilidade. Entendo que essa sensação me mantém num ponto de equilíbrio entre a ousadia e a prudência”, disse Silva e Luna ao agradecer ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, pela indicação ao cargo.

“Quem chega deve chegar ouvindo mais e falando menos. Objetivo é equilíbrio entre ousadia e prudência”

O novo presidente da estatal foi indicado após críticas de Bolsonaro à gestão de Roberto Castello Branco à frente da companhia, sobretudo no tema do repasse dos preços internacionais de combustíveis no mercado interno. O receio do mercado é que, com a troca, a Petrobras abandone a paridade de importação para compensar pressões inflacionárias.

Os temores se refletem nas ações da estatal, que ainda não conseguiram recuperar os patamares que registravam em 18 de fevereiro, quando Bolsonaro indicou pela primeira vez que poderia promover mudanças na companhia. Apesar do aumento de 5,03% ontem, as ações ordinárias da Petrobras fecharam a R$ 23,79, cotação ainda 4,67% menor do que em 18 fevereiro. Os papéis preferenciais tiveram alta de 5,8% ontem, para R$ 24,28, valor 4,04% abaixo do que antes das falas do presidente da República, em fevereiro.

Silva e Luna disse ontem que a estrutura de governança da empresa e seu normativo de “compliance” (conformidade) “impedem riscos de aventuras” e dão segurança aos acionistas. “Credibilidade não é fruto de uma percepção momentânea, é o somatório de uma longa coerência de atitudes. Numa mudança há sempre um expressivo estoque de especulações e expectativas. É natural. Particularmente nesses tempos de tantos conflitos de narrativas.”

O Goldman Sachs disse, em relatório, que, apesar de um primeiro discurso “amigável”, Silva e Luna ainda precisar detalhar a execução da política de preços. Para o coordenador-técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), William Nozaki, a companhia deve trabalhar alinhada ao governo federal, mas não há sinais de ruptura com os acionistas minoritários.

Segundo Nozaki, uma das formas de dar maior previsibilidade aos preços pode incluir a adoção de uma periodicidade mínima para os reajustes, mecanismo testado na gestão de Ivan Monteiro, em 2018. “É possível amortecer e dar mais previsibilidade aos reajustes sem criar tantos sobressaltos”, afirmou Nozaki. O Ineep é ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP).

Outros mecanismos que poderiam suavizar preços no mercado interno são a criação de um fundo de amortecimento ou o anúncio de mudanças fiscais, aponta o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman. “Transformações no dinamismo de preços e a manutenção da paridade tendem a apresentar antagonismo e vão requerer do novo presidente decisões que, corretamente, serão tomadas após se ambientar”, disse.

Silva e Luna tomou posse com os novos integrantes da diretoria da companhia, após serem eleitos pelo conselho de administração da estatal, na sexta-feira. A cerimônia de posse ontem no Rio foi presencial, mas restrita a poucos convidados, devido à pandemia. O evento também contou com a presença do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, do presidente do conselho de administração da Petrobras, Eduardo Bacellar, e do diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Rodolfo Saboia, os três também militares. Com isso, a posse de Silva e Luna consolida a presença militar no comando da indústria de petróleo no país.

Também foram empossados ontem os diretores Cláudio Mastella (logística e comercialização), Fernando Borges (exploração e produção), João Henrique Rittershaussen (desenvolvimento da produção) e Rodrigo Araújo (financeiro). Já Roberto Ardenghy (relacionamento institucional e sustentabilidade), Nicolás Simone (transformação digital e inovação) e Rodrigo Costa Lima e Silva (refino e gás) foram reconduzidos, enquanto Salvador Dahan (governança e conformidade) assume em maio, pois está fora do país.

O presidente do conselho de administração da companhia destacou que a indicação da nova diretoria reforça compromisso da empresa com a meritocracia, já que os diretores foram escolhidos entre os quadros técnicos da empresa.

Um sinal apontando como positivo pelo mercado foi o reforço, por Silva e Luna, do compromisso com a execução do plano estratégico da estatal, focado em ativos de águas profundas, além da busca por custos baixos e eficiência. Em seu discurso, o ministro de Minas e Energia também mencionou a necessidade de a companhia continuar com os processos de venda de ativos: “Destaco os projetos de desinvestimentos que têm contribuído para que a empresa reduza sua dívida e aumente sua capacidade de investimentos”, pontuou.

Para o presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, a fala de Silva e Luna de que tentará reduzir a volatilidade de preços pode indicar intervenção estatal. “O que determina os preços de combustíveis são variáveis exógenas à Petrobras, que são o preço do barril de petróleo e o câmbio. O papel do presidente da empresa é atender ao acionista, não ao consumidor. Quem tem que agradar aos consumidores é o governo federal, se quiser, por meio de políticas públicas.”

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