Valor Econômico
O Ultra confirmou que vai avaliar a venda da Oxiteno, revelando detalhes de uma estratégia de gestão de portfólio que ainda não estava tão clara para os investidores. Com interesse declarado em ficar com uma das refinarias da Petrobras, o grupo já indicou o tamanho da aposta em óleo e gás, num lance que tende a ser bilionário. Fez outros movimentos em novas áreas de negócio, como a de serviços financeiros, e indicou que adotaria uma postura mais ativa de gestão de portfólio. Mas ainda não havia falado publicamente sobre desinvestimentos.
São grandes as sinergias do refino com três dos demais negócios da Ultrapar: a distribuidora de combustíveis Ipiranga, a distribuidora de GLP Ultragaz e a Ultracargo, de armazenagem de granéis líquidos. Mas a operação de especialidades químicas (Oxiteno) e a de varejo farmacêutico (Extrafarma) não se conectam diretamente ao novo foco estratégico, tornando-se candidatas naturais ao desinvestimento.
De grupo de negócios diversificados, a Ultrapar caminha para ser uma holding de investimentos em óleo, gás e combustíveis.
A venda da Extrafarma, mesmo que não da totalidade de seu capital, é um passo previsível após as dificuldades para fazer decolar a operação – o Ultra anunciou a aquisição em outubro de 2013 e somente agora, sete anos depois, a casa parece arrumada. Mas o momento não é oportuno.
Após uma ampla reorganização, com revisão dos planos de expansão geográfica e fechamento de lojas, a rede ainda está começando a colher os frutos da arrumação. Portanto, entraria em posição de desvantagem em qualquer negociação, seja de venda, seja de combinação de ativos. Mais à frente, um potencial “M&A” e a saída do Ultra como sócio majoritário seriam viáveis – e o próprio grupo já fez esse tipo de avaliação, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
A Oxiteno, por outro lado, vive um momento excepcional, ajudada pelo câmbio e pela entrada em operação da nova fábrica de tensoativos em Pasadena, nos Estados Unidos. Além disso, está ligada umbilicalmente à história do grupo, em particular nas conquistas de inovação. Sob essa perspectiva, não seria uma venda óbvia. Mas, para financiar a aposta do grupo em óleo e gás, num momento em que a indústria química global se reorganiza rumo a portfólios menos variados ou em nichos de mercado com escala assegurada por aquisições ou fusões, a venda dessa operação passa a fazer sentido.
A Oxiteno cresceu por meio de pequenas aquisições e, nos últimos anos, fez seu maior investimento. Foram cerca de US$ 200 milhões, considerando-se aportes ao longo de seis anos, em uma nova unidade de alcoxilação com capacidade de 170 mil toneladas anuais, para fornecer tensoativos às indústrias de cuidados pessoais, óleo e gás, agroquímicos, limpeza doméstica e industrial e tintas e vernizes.
A fábrica entrou em operação no segundo semestre de 2018 e tem sido importante geradora de caixa para a Oxiteno, em especial com a desvalorização cambial.
Segundo a agência de notícias Bloomberg, a consultoria financeira para analisar a possível venda da Oxiteno avaliou-a em US$ 1 bilhão, o que traria conforto financeiro para a Ultrapar seguir, inclusive sozinha, na disputa por uma das refinarias da Petrobras no sul do país, a Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas) ou a Refap (Refinaria Alberto Pasqualini).
Em comunicado, a Ultrapar informou que “avalia continuamente seu portfólio de negócios” – desde que assumiu o posto, o presidente Frederico Curado tem reiterado a gestão ativa de portfólio como um dos pilares da estratégia do grupo – e tem direcionado seus investimentos para a cadeia de óleo e gás. Disse ainda que avalia alternativas que “assegurem a continuidade da expansão da Oxiteno”, incluindo sua venda.
Na semana passada, o grupo divulgou o orçamento de investimentos previstos para 2021. Do total de R$ 1,9 bilhão, a Extrafarma terá R$ 56 milhões e a Oxiteno, R$ 293 milhões. São as duas contas mais baixas, enquanto Ipiranga deve receber R$ 791 milhões, Ultracargo terá R$ 360 milhões e Ultragaz, R$ 349 milhões.