O Estado de S.Paulo
Na composição do Ibovespa, as duas ações da Petrobrás (PETR4 e PETR3) têm um peso enorme para o sobe e desce da bolsa de valores. Em valor de mercado, a empresa supera os R$ 360 bilhões. Mesmo com esse tamanho, a petroleira sofreu durante o ano de 2020 com as restrições impostas pelo coronavírus, que diminuíram a demanda por combustível no mundo todo. A queda nos preços do petróleo também foi um desafio para a gigante brasileira e para o mercado de óleo e gás.
No recorte anual, os papéis da companhia PETR4 e PETR3 ainda estavam em queda de, respectivamente, de 8,78% e 11,30%, a R$ 27,53 e R$ 28,10, até o fechamento da sexta-feira. Contudo, com o caminho mais claro em relação ao curso da pandemia e os ajustes no preço da commodity, a Petrobrás já entra em ritmo rápido de recuperação: só nos últimos 30 dias, as ações subiram mais de 30% e estão entre as mais recomendadas para o mês de dezembro.
Além de superação da crise do coronavírus, o futuro da estatal também está cheio de metas e reestruturações. Depois de um ano tão atípico, a Petrobrás lançou na segunda-feira, 30 de novembro, seu plano estratégico para o perído 2021-2025.
“Comparando o histórico, a companhia nunca teve um plano estratégico tão realista. Isso é positivo não só para a própria Petrobrás, mas para os acionistas”, afirma Paloma Brum, analista da Toro Investimentos. “Esse relatório também traz a visão de que a estatal está sendo usada com foco em gerar valor, e não para fins políticos.”
A seguir, os três principais pontos de atenção que definirão o caminho de empresa nos próximos cinco anos.
1 – Endividamento: equilíbrio financeiro. No plano estratégico, a Petrobrás deixou clara a preocupação com a gestão da dívida bruta, um dos problemas mais sensíveis da estatal. A meta é reduzir o endividamento para US$ 67 bilhões até o final de 2021 e chegar aos US$ 60 bilhões em 2022. “Isso é muito positivo porque mostra que a companhia segue comprometida com essa linha para melhorar o fôlego, ou seja, a saúde financeira do negócio”, diz Brum.
Para Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, outro ponto positivo foi a transparência em relação ao tempo para que a dívida diminua. “Eles foram claros sobre o patamar de dívida, já tinham o objetivo de ter um endividamento bruto de US$ 60 bilhões no plano passado. Isso se manteve, mas foram mais claros nesse alcance, para 2022”, explica ele.
O especialista lembra que, pelas novas regras, a maior distribuição de dividendos pela companhia acontecerá quando o endividamento bruto for inferior à meta de US$ 60 bilhões.
2 – Desinvestimentos: redução de custos. Outro grande fator descrito no plano estratégico da estatal é a venda de operações que não são centrais para a companhia. Com isso, o investimento mais pesado passa a ser em operações de maior retorno, como a exploração do pré-sal.
“Em vez de estar preocupada em fazer uma produção em larga escala de várias coisas, a Petrobrás se mostra focada no produto de maior retorno, que tem baixo custo de exploração e traz margens mais altas”, diz Brum.
Durante 2020, por exemplo, a Petrobrás conseguiu fazer caixa com a venda de US$ 1 bilhão em ativos. Ano passado, esse número chegou a US$ 16 bilhões. “Mas temos mais de 50 ativos à venda, muitas transações já chegando ao seu estágio final, ou para a assinatura do acordo de compra e venda, ou para o fechamento, e teremos ainda bons resultados a mostrar nos próximos seis, sete meses”, disse Roberto Castello Branco, presidente da estatal, durante apresentação.
Na visão de Paloma Brum, esse segundo aspecto é bastante positivo, apesar do mercado ter ficado receoso quando a Petrobrás divulgou a estimativa de produção abaixo do esperado, em função dos cortes de custos. “Olhando agora para o ano de 2025, vemos uma produção total de 3,3 milhões antes de desinvestimentos e uma produção de 2,7 milhões após os desinvestimentos”, explicou Castello Branco.
3 – Sustentabilidade ambiental: confiança. A terceira questão relevante dentro das metas para os próximos cinco anos e que também chamou positivamente a atenção do mercado é a preocupação em reduzir o impacto da exploração no meio ambiente. A remuneração dos principais executivos, além de ser variável, será atrelada a métricas sustentáveis.
“Todos os executivos da companhia têm uma meta de topo de emissão de gases de efeito estufa, que é uma média ponderada das emissões da exploração e produção de petróleo e refino”, afirmou Castello Branco.
Segundo os especialistas, essa preocupação torna a companhia mais longeva e converge com as novas exigências do mercado. “Tende a gerar valor para os acionistas no longo prazo”, afirma Brum. “Fora que evita que os investidores tenham surpresas desagradáveis, como uma multa por dano ambiental ou algum acidente grave.”
Arbetman concorda. “É claro que a indústria de óleo e gás tem muitas preocupações nesse ponto, mas é muito positivo esse compromisso. A Petrobrás faz o que pode”, explica.
Recomendações. As recomendações dos dois analistas de mercado são de compra para os papéis da Petrobrás. “Acreditamos que, diferentemente de outros tempos, a empresa formulou um plano mais enxuto, mas mais possível de ser feito”, afirma o analista da Ativa de Investimentos.