Fonte: Valor Econômico
As distribuidoras estão ampliando suas operações de hedge de preços de combustíveis neste ano diante da forte volatilidade provocada pela pandemia da covid-19. Já há procura de distribuidoras por contratos futuros de etanol na B3 e por operações com petróleo e gasolina no mercado internacional, que desde 2017 têm mais correlação com o biocombustível.
A consultoria StoneX estima que a procura das distribuidoras por esse tipo de proteção com combustíveis em geral cresceu 20% em volume neste ano entre as empresas de maior porte e 80% entre as menores, afirma o analista Fábio Rezende. Apenas em diesel, gasolina e querosene de aviação, a consultoria estima um volume hedgeado neste ano de 25 bilhões de litros.
Na B3, as negociações de contratos futuros de etanol hidratado (que não têm liquidação física, apenas financeira) ainda é feito majoritariamente pelas usinas, mas a consultoria já vê a entrada de distribuidoras nas negociações.
Desde o início do ano até o fim de setembro, foram fechados 43.595 contratos futuros de etanol na bolsa, mais que o dobro do total registrado no mesmo período de 2019. Essa quantidade equivale a 1,3 bilhão de litros de etanol, ou cerca de 6% da produção mensal no Centro-Sul.
As distribuidoras também estão aumentando sua procura por hedge de gasolina e diesel. Segundo Rezende, as distribuidoras não buscavam proteção porque entendiam que havia um “hedge natural” em seu modelo de negócios. Porém, a volatilidade dos preços após a debacle do petróleo, em março, e o desaparecimento da demanda com a pandemia, afetaram o valor dos produtos que elas tinham em estoque na época e levou muitas a realizarem baixas contábeis relevantes.
“Elas compram um grande volume e vendem aos poucos, e correm o risco de ter uma perda contábil com estoques se a Petrobras faz algum reajuste. Então temos feito hedge desses estoques”, diz.
No caso do etanol, também há riscos, contra os quais as distribuidoras começam a buscar proteção até no mercado internacional de gasolina. “Elas tomam uma posição vendida e, se o preço cai, elas ganham com a posição financeira.”
Rezende acredita que o choque de preços observado no início da pandemia não deve se repetir, mesmo com a segunda onda de casos de coronavírus na Europa e com um eventual aumento do número de casos também no Brasil. Porém, ele acredita que a retomada do consumo será lenta, com impactos de mudanças mais perenes no comportamento dos consumidores.
O mercado de petróleo vem espelhando esse ritmo lento, com níveis de demanda globais 7% abaixo de um ano atrás. No próximo mês, a Opep+ avaliará se reduz ou não os cortes de produção.
A StoneX estima que os preços de petróleo devem permanecer entre US$ 40 e US$ 45 o barril no médio prazo – ontem, o Brent fechou em US$ 41,73 o barril, patamar em que vem se mantendo no último mês.