Brasil Agro
A propósito do acordo de cooperação comercial assinado nesta segunda (19) entre Brasil e Estados Unidos, vale lembrar que o possível fisco do acordo do “fio do bigode” para que o governo de Donald Trump libere maior cota ao açúcar brasileiro vai ser vantajoso para o setor sucroenergético. Especialmente sob Joe Biden na presidência do país, derreterão chances de acerto entre o adoçante brasileiro e o etanol importado de lá.
Haveria uma boa chance de o governo Bolsonaro, portanto, acabar de vez com a cota de etanol , livre de taxas, e com as desvantagens que o biocombustível daqui, sobretudo do Nordeste, em razão dos subsídios aos produtores americanos, começando pela cadeia do milho.
Após o vencimento da cota de 750 milhões de litros, em setembro, o governo Bolsonaro deu mais 187,5 milhões de litros até dezembro, na esperança de que os americanos sentassem e negociassem maior volume de entrada ao adoçante do Brasil.
Reivindicação unânime dos produtores brasileiros.
A única maneira de os produtores brasileiros não seguirem mais em desvantagem na competição com o etanol de milho americano é com o fim da cota definitivamente, sem uma nova dada às cegas a partir de janeiro.
Em um cenário de dificuldade da reeleição de Donald Trump, em 3 de novembro, com Biden aumentado a distância nas pesquisas populares e nos principais colégios eleitorais, não vai ser o novo gabinete em Washington a negociar essa contrapartida.
Ainda mais pelas relações já indigestas com o Brasil do candidato Democrata, crítico do governo brasileiro sobretudo pela questão ambiental.
É muito pouco provável, ainda, que o candidato Democrata, se eleito, ceda à pressão dos produtores de milho e de etanol para que o mercado brasileiro não se feche, dada a rejeição explícita que o setor tem por ele. Pelo menos no curto e médios prazos não deve acontecer nenhuma retomada de negociações.
Fica aberta a porta para o Brasil dar por encerrado a pendência, deixando qualquer quantidade de biocombustível importado pagando 20% de imposto. Seria o princípio da retaliação, mais ainda porque o presidente Jair Bolsonaro e seu Ministério de Relações Exteriores também rejeitam, até agora, a candidatura oposicionista a Trump.
E se Biden ainda avançar e acabar com a cota atual do açúcar brasileiro, pouco efeito terá na balança exportadora do setor. São apenas 150 mil toneladas atuais, performadas pelo Nordeste, que serão compensadas pelo ganho nas vendas de etanol sem concorrência.
Nada aconteceu desde setembro de 2019, no vencimento da cota de 600 milhões de litros, quando o País ainda acrescentou mais 150 milhões para 750 milhões/l.
E Donald Trump sabe que não precisaria ceder um naco de mercado ao Brasil, porque o Brasil do governo atual não vai contrariá-lo, dado o alinhamento sem condicionantes.
Certamente os Estados Unidos poderiam esperar uma nova cota de etanol, a partir de 2021, sem dar nada em troca, ou um pouquinho mais de açúcar, que seja (Money Times, 20/10/20)