Fonte: O Estado de S.Paulo
Dificuldades na produção de duas das maiores empresas nacionais, Vale e Petrobrás, devem reduzir significativamente o crescimento do País neste ano. O mau desempenho da indústria extrativa no primeiro semestre diminuirá em 0,2 ponto porcentual a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de 2019, apesar da melhora esperada até o fim do ano, aponta estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a pedido do ‘Estadão/Broadcast’. O montante equivale a uma perda de R$ 13,7 bilhões, a preços de 2018.
O PIB já mostra pouco fôlego este ano, com crescimento previsto de 0,82%, conforme analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central no último boletim Focus. O levantamento do Ipea foi feito com base nos relatórios de produção da Vale e da Petrobrás, divulgados na semana passada, além de dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e do Sistema de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“O desempenho negativo da extrativa nesses seis primeiros meses carrega uma perda para o restante do ano. Na queda de 1,6% do total da indústria, o setor extrativo sozinho contribuiu com 1,78 ponto porcentual. Ou seja, se essa contribuição fosse zerada, o avanço da indústria seria de 0,2%”, diz André Macedo, gerente da Coordenação do IBGE.
Tendo ainda como cenário as consequências do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, que deixou 248 mortos e 22 desaparecidos, o PIB das indústrias extrativas recuou 18,8% no segundo trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2018, de acordo com o Ipea. No PIB do período, o prejuízo equivalerá a um corte de 0,5 ponto porcentual na taxa de crescimento, ou R$ 8,4 bilhões, a preços de 2018.
“O impacto pode ser ainda maior se contabilizar os impactos indiretos, porque esses eventos podem ter afetado alguma indústria ou setor da etapa seguinte da cadeia produtiva. Nas regiões que pararam de produzir, o impacto é enorme. A economia local tem uma dependência muito grande dessas empresas”, explica José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea e um dos autores do estudo.
Macedo, do IBGE, lembra que várias outras minas tiveram a produção paralisada ou reduzida após a tragédia por preocupações com a segurança após a tragédia de Brumadinho. Houve mudanças na legislação ou endurecimento nos procedimentos de segurança, diz o pesquisador do IBGE. Além do acidente, condições climáticas desfavoráveis também afetaram negativamente as operações da Vale no Sistema Norte, especialmente no mês de abril.
Petróleo. Ao mesmo tempo em que a produção de minério era reduzida, a Petrobrás enfrentava problemas técnicos que atrasaram a entrada em operação de novas plataformas de petróleo, prejudicando o crescimento esperado para a extração de óleo e gás para 2019.
Há expectativa de alguma recuperação no segundo semestre, com a normalização da operação de plataformas de petróleo e da extração e exportação de minério no Pará, além do retorno gradual da operação em barragens que estavam paradas, especialmente no Estado de Minas Gerais.
Ainda assim o PIB do segmento das indústrias extrativas deve fechar 2019 com queda aproximada de 9,5%. O resultado retiraria 1,3 ponto porcentual do PIB da indústria e 0,2 ponto porcentual do PIB total brasileiro em 2019.
“Para que a Petrobrás feche o ano no zero a zero, vai ter crescimento na extração no segundo semestre”, justifica Souza Júnior, do Ipea. “E (na mineração) esperamos retorno paulatino de outras minas que estavam paradas. A questão da produção de minério vai estar equacionada parcialmente até o fim do ano”, completa. Fragilidades. O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) lembra que, embora o segmento extrativo tenha agravado a situação atual da indústria, o desempenho negativo da produção na primeira metade do ano confirma que falta robustez ao processo de retomada do setor industrial pós-crise.
“Por ser hoje uma recuperação muito frágil, a indústria está sujeita a fatores pontuais. Ora é greve de caminhoneiros, ora é problema nas extrativas, ora é crise na Argentina. A gente fica buscando fatores pontuais para explicar a falta de dinamismo na produção. Então há uma sucessão desses fatores pontuais”, lamenta Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi.