Monopólio mantém risco de ingerência política

Após diesel, governo lança ações de olho em caminhoneiros
16/04/2019
Valor do etanol sobe em 14 Estados e no DF; preço médio recua 0,34% no Brasil, diz ANP
16/04/2019
Mostrar tudo

Fonte: DCI

O monopólio da Petrobras na produção de combustíveis sempre deixará a precificação vulnerável a interferência política. Para especialistas, apenas um mercado mais aberto pode alterar cenário, independentemente da orientação do governou ou da estatal.
“O que o País realmente precisa é de vários produtores e que o governo não tenha alçada sobre o preço.

Caso contrário, sempre haverá pressão política para que, de uma forma ou outra, exista interferência”, avalia o analista da Planner Corretora, Luiz Francisco Caetano. “No caso de outras commodities, onde não há um produtor tão majoritário, esse tipo de pressão não é possível.”
A Petrobras detém mais de 90% de participação no mercado de diesel. Na última sexta-feira (12), a estatal desistiu de elevar o preço do combustível após interferência do presidente Jair Bolsonaro junto ao presidente da companhia, Roberto Castello Branco. A petroleira perdeu R$ 32,4 bilhões em valor de mercado por conta da ingerência.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, o incidente representa um risco para a política de preços alinhada ao mercado internacional, adotada em 2016. “Foi uma mudança que gerou uma visão positiva sobre as perspectivas da empresa. O mercado vai levar em consideração qualquer alteração nessa política.”

Em maio do ano passado, a política de reajustes diários sofreu o primeiro revés, com a interferência do governo Michel Temer em reação à greve dos caminhoneiros. Após o fim do programa de subvenção ao diesel, a estatal adotou um modelo de hegde para se proteger de variações abruptas e os reajustes passaram a ocorrer em um intervalo mínimo de quinze dias.

Desde então, o preço do diesel voltou a subir, provocando temor de uma nova greve. Silveira aponta que o mecanismo de hedge não é sustentável no longo prazo. "Ele funciona em um ciclo, mas em algum momento esse efeito passa.”
Consequências

Caetano explica que, além do impacto do combustível vendido abaixo do preço, o prejuízo também foi formado por conta das importações. "A Petrobras tinha que comprar diesel de fora para atender a demanda do mercado interno e este produto termina sendo vendido por um valor abaixo do preço de compra.”

O presidente da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti qualifica como desastrosa do ponto de vista empresarial, a interferência do presidente da República. "A mensagem que se passou para os investidores foi de que o governo, como controlador da empresa, não tomou a decisão em benefício da empresa, mas por razões políticas, e que a Petrobras continua sob forte risco desse tipo influência.”

Ele destaca que além da desvalorização nas ações, a atitude pode prejudicar futuros desinvestimentos da empresa. "Em um momento em que se discute a possibilidade de reduzir a estrutura da empresa, inclusive no monopólio de refino, investidores podem ter a visão de que o preço do petróleo seguirá controlado por razões de cunho político.”

Silveira entende que é necessário esperar para saber qual será o futuro da política de precificação da companhia. "Veremos o que será anunciado pelo ministério da Economia e pela diretoria da Petrobras, se vai haver ou não mudanças. O mercado vai responder a isso.”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *