Fonte: Correio da Bahia
Com postos de combustível sem gasolina e etanol, só quem conseguiu abastecer nas últimas horas em Salvador foi quem tinha o carro adaptado para tocar com Gás Natural Veicular (GNV).
O taxista Raimundo Rocha, 58 anos, foi um dos que se preveniu cedo. Mesmo rodando com GNV, encheu o tanque de gasolina ao longo da semana. Neste sábado (26), pouco antes das 9h, ele aproveitou para completar o abastecimento do gás no Posto Chaminé, no Rio Vermelho.
O pedreiro Joilson dos Santos, 34, também não está passando aperto. Ele só roda com GNV. “Consigo completar com R$ 33, 34. Por isso, minha rotina está normal, não deixei de fazer nada. Quem deixou foi justamente pela dificuldade de transporte”.
Taxista há pouco mais de 10 anos, Jailton Ribeiro, 52, tinha feito três corridas antes das 9h. Ele aproveitou para completar o GNV no Posto Gasoline, em Amaralina. Diferentemente do colega Raimundo, porém, ele não conseguiu encher o tanque de gasolina – para rodar com o GNV, é preciso ter pelo menos uma quantidade mínima de gasolina ou etanol.
“A minha gasolina já acendeu a luz da reserva, porque não consegui ontem mesmo. Mas, pela minha experiência, dá pra rodar uma semana com GNV e essa quantidade de gasolina. Isso só porque meu carro tem possibilidade de GNV de fábrica. Se fosse alguém que instalou depois, não conseguia”.
Já o taxista Francisco Souza, 52, tinha pelo menos metade do tanque cheio de etanol. Com isso, ele estima ter tranquilidade para dirigir por até um mês, usando o GNV. Neste sábado, ele também completou o gás para se precaver.
“Me dou ao luxo de não trabalhar no fim de semana, mas sei que esses dias vai ter muito trabalho para táxi, porque a tarifa dinâmica do Uber está alta. Para mim, estou tranquilo. Mudei alguns trajetos, mas para evitar engarrafamentos mesmo, por conta das filas do pessoal tentando abastecer”, explica.
O taxista Roberval Santana estima que vai faturar neste final de semana. “Só ontem eu fiz mais corridas do que em toda semana passada. “Pelo menos nessa situação nossa vida está um pouco melhor”, garante.
Mesmo com GNV, taxistas precisam de gasolina ou etanol
De acordo com o presidente da Associação Geral dos Taxistas, Ademilton Paim, 90% dos sete mil táxis de Salvador são adaptados para rodar com Gás Natural Veicular (GNV). No entanto, mesmo para usar o GNV, é preciso ter alguma quantidade de gasolina ou etanol.
“Uma parte da categoria já está sofrendo sem combustível. Tem que ter, no mínimo, uns R$ 20 para manter o gás e bater a chave. Aproximadamente mil taxistas estão passando com essa dificuldade para o gás”, afirmou.
Assim, ele estima que, se a greve não acabar, nos próximos dias, até 30% dos taxistas podem não conseguir colocar os carros na rua.
Para Ademilton, esse seria o momento de os taxistas – que passam por uma crise no mercado, desde a chegada de aplicativos como o Uber e 99POP – conseguirem algum lucro ou recuperação.
“Queríamos que alguns postos se sensibilizassem para ajudar os taxistas. Seria a oportunidade de os taxistas conseguirem fazer uma corrida a mais, já que não precisamos de tanta gasolina”.
No entanto, o Sindicato do Comércio de Combustíveis e Energias Alternativas e Lojas de Conveniência do Estado da Bahia (Sindicombustíveis Bahia) informou na manhã deste sábado (26) que os 2,8 mil postos do estado estão sem combustível.
“Acabou e não temos perspectiva de reabastecimento. Acredito que nenhum posto de Salvador e da Bahia tenha mais produtos para vender. Em Salvador apenas o posto Petrobras do Stiep tem, mas o combustível de lá está separado para reserva técnica da Polícia Militar para situações de emergências. O agravante é que há serviços essenciais que estão em situação crítica. A Coelba, por exemplo, já está sem produto e não podemos fazer nada”, afirmou Walter Tannus, presidente do Sindicombustíveis.
Sufoco
O diretor de escola Luciano Eloy, 46, passou por um aperto. Com o carro na reserva, já tinha passado por seis postos de gasolina até às 8h30 da manhã, até chegar no Posto Chaminé, no Rio Vermelho. Foi salvo por um amigo que está em Porto Alegre (RS).
“Ele foi passear e o carro dele está na garagem, aqui no Rio Vermelho, sem usar. Vou deixar o meu aqui para ir lá tentar pegar um pouco e usar no meu. Ontem não consegui abastecer de jeito nenhum. Parei em vários e ainda fiquei na fila no Posto Escola”, lamentou.
A funcionária pública Maíse Freitas também veio de uma peregrinação – de Piatã, onde mora, até Brotas, para deixar o filho na Escola Bahiana de Medicina, onde ia fazer uma prova.
“A Bahiana não teve compreensão para cancelar a prova e eu não vou para casa para economizar o que tenho. Vou esperar na casa de minha mãe, na Pituba, que é um percurso menor. De Piatã para cá, estavam todos fechados, menos o Posto Escola”, disse, quando chegou no Posto Chaminé.