Fonte: O Estado de S. Paulo
Fernanda Nunes, Eduardo Rodrigues, Idiana Tomazelli, Daiene Cardoso e Beth Moreira
Coube ao presidente Michel Temer, em período de rejeição popular, anunciar ontem o investimento de US$ 74,5 bilhões da Petrobrás nos próximos cinco anos. Pela primeira vez, o plano de negócios da empresa foi anunciado no Palácio do Planalto. O orçamento para o período de cinco anos é praticamente o mesmo do divulgado em 2016 e está entre os menores da história da petroleira. Ao frear o investimento, porém, a empresa vislumbra que terá um caixa completamente saudável até 2022.
“Conseguimos reerguer a Petrobrás e cuidaremos para que permaneça como referência de profissionalismo e excelência”, disse Temer durante a solenidade. Para o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, a Petrobrás simboliza “a retomada e capacidade de resiliência da economia”.
Já o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, argumentou que foi a Brasília prestar contas ao acionista majoritário e disse que não vê “como isso pode arranhar a credibilidade” da companhia. Mas para o diretor do Centro Brasileiro de InfraEstrutura (CBIE), Adriano Pires, a cerimônia de ontem “acendeu uma luzinha amarela no mercado financeiro”, porque, em sua opinião, demonstra ingerência política sobre a empresa.
A Petrobrás, ao divulgar o plano de negócios, mostra que permanecerá em busca do pré-sal e da redução da dívida. As premissas são praticamente as mesmas do planejamento anterior: chegar ao fim de 2018 com uma relação entre geração de caixa e endividamento dentro da meta de 2,5 vezes. No fim do terceiro trimestre, último período divulgado, a relação era de 3,16 vezes.
Caixa. A expectativa da companhia é de que, à medida que o barril do petróleo se valorize, nos próximos anos, o compromisso do caixa com o pagamento de dívida caia. “O objetivo é que o indicador seja declinante e convergente, até 2022, com a média mundial das principais empresas do setor”, diz o texto do o plano de negócios, numa demonstração de que a petroleira vislumbra retomar completamente a sua saúde financeira no horizonte do plano, dos próximos cinco anos. Segundo Parente, essa média será uma relação entre geração de caixa e endividamento de 1,5 a 1,6 vez.
O segmento de exploração e produção, que sempre dominou os investimentos, daqui para frente vai ganhar ainda mais espaço. A área, na qual o pré-sal está inserido, vai ficar com 81% do orçamento de US$ 74,5 bilhões. O setor de refino e gás natural perdeu importância, responderá por 18% do total e, dentro dela, a de distribuição de combustíveis, ficou com 6% dos investimentos, um reflexo da abertura de capital da BR Distribuidora, na avaliação do ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn. A leitura é que, com menos participação na subsidiária, cai também o investimento na BR.
Venda. A meta de vender US$ 21 bilhões dos ativos neste e no próximo ano está mantida. “A Petrobrás está demonstrando que vai deixar o investimento em refino para parceiras”, acrescentou o diretor do CBIE.
Em entrevista, Parente ressaltou que a prioridade é buscar novos reservatórios e ampliar a produção nos já descobertos, em linha com a prática internacional. A entrada de oito plataformas apenas no próximo ano vai contribuir para isso. Em 2022, a Petrobrás espera estar produzindo 3,5 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boe/d) de petróleo e gás natural no Brasil e no exterior. Para o próximo ano, a marca é de 2,7 milhões de boe/d.
“Na nossa opinião, a meta de produção da Petrobrás é consistente com os investimentos da empresa”, informou o JP Morgan aos seus clientes, em relatório. Já os analistas do Santander Christian Audi e Gustavo Allevato avaliaram que o plano de negócios veio dentro do esperado e sem grandes modificações em relação ao plano anterior divulgado pela estatal.
A ação preferencial da petroleira fechou em alta de 4% e analistas atribuíram o bom desempenho ao fato de o documento ter vindo sem surpresas, em linha com a expectativa do mercado.