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Na discussão da transição energética, se fala muito dos carros elétricos.
Mas o Brasil tem uma alternativa mais barata (e mais rápida) para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa: o etanol, que já é amplamente usado no País desde os anos 70.
De 2003 até 2023, quando a tecnologia flex foi introduzida, o etanol já evitou que 660 milhões de toneladas de CO2 fossem lançadas na atmosfera, se comparado a um cenário de 100% de veículos movidos a gasolina, segundo um estudo da Unica, a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia.
Isso é equivalente a plantar quase 5 bilhões de árvores nativas e mantê-las em pé no período de 20 anos.
Para além do meio ambiente, o etanol também faz bem para o motor do carro — diferente do que algumas pessoas ainda acreditam — e, tão importante quanto, para o bolso dos consumidores.
Faz bem pro motor
Lucas Fontana, piloto da AMG Cup, economista e um entusiasta do setor automotivo há décadas, diz que “quem gosta de performance automotiva escolhe o etanol.”
Segundo ele, o etanol garante menos manutenções no carro no longo prazo.
“O motor são peças mecânicas girando e tendo atrito. Para mitigar o atrito tem o óleo lubrificante, que é como se fosse o sangue do motor. E quanto menos contaminação esse óleo tiver, mais longevidade vai ter o motor,” disse ele.
O grande ponto é que a gasolina leva carbono em sua composição, então quando há a explosão da combustão “essa é uma explosão suja, que contamina o óleo lubrificante.”
“Tanto que quando você troca o óleo de um carro que roda a gasolina é um óleo escuro, espesso, e cheio de contaminantes.”
No etanol, isso não acontece, já que o biocombustível não tem carbono em sua composição. “A explosão do etanol é mais forte, mas ela não suja e não contamina o óleo.”
Outra vantagem, segundo Fontana, tem a ver com o cabeçote do motor. “As válvulas do motor têm que ter um isolamento perfeito, para não entrar e não sair ar. Quando você usa gasolina, ela cria uma borra de carbono na válvula, que acarreta numa perda de eficiência,” disse ele.
Por fim, a potência do carro rodando com etanol também é maior. O Fiat Strada 1.4, por exemplo, tem uma potência declarada de 88 cavalos abastecido com etanol e de 85 cavalos com gasolina. No Jeep Renegade, é a mesma coisa: 139 cavalos com etanol, e 135 com gasolina.
“No torque, também há uma diferença parecida, de uns 5%, que você consegue sentir na prática,” disse Lucas.
Faz bem pro bolso
Para quem está mais preocupado com o bolso, o etanol também é a melhor opção.
Considerando também o Fiat Strada 1.4 – o carro mais vendido no Brasil ano passado, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) – o uso do etanol em vez da gasolina pode gerar uma economia de mais de R$ 8,8 mil por ano.
Na análise, foi considerado um preço de etanol de R$ 3,19, de gasolina de R$ 5,99 e um motorista que rode 5.000 quilômetros por mês, uma faixa factível para um motorista de Uber, por exemplo.
“Com essa economia que ele vai ter, daria para rodar mais 2 mil quilômetros com etanol,” disse Fontana.
“É claro que isso varia muito de carro para carro, de praça para praça e dependendo do preço da gasolina e do etanol. Mas hoje, em São Paulo, está valendo muito a pena financeiramente usar o etanol.”
Faz bem pro País
O etanol também beneficia o País.
Além dos postos de trabalho criados no setor, um estudo da ESALQ/USP mostra que em cada município onde uma usina é instalada, a renda per capita aumenta em US$ 1.028 por ano.
“Já nos municípios vizinhos, o aumento é de US$ 324 dólares”, disse Evandro Gussi, presidente da Unica. “É um grande incremento na economia local.”
Os números do setor são superlativos. A cadeia sucroenergética movimenta mais de US$ 100 bilhões por ano, com um PIB aproximado de US$ 40 bilhões – o equivalente a cerca de 2% do PIB brasileiro.
“A primeira fonte de energia renovável do País é a cana-de-açúcar, responsável por 15,4% da matriz nacional ou 33% de toda a energia renovável ofertada internamente”, destacou Gussi. “Este percentual [47,4%] já posiciona o Brasil acima da média mundial [14,1%] e dos países da OCDE [11,5%] no uso de energias limpas e renováveis.”
UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia
Fonte: Brazil Journal