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Fonte: Valor Online

O maior desafio para o mercado de combustíveis é a economia brasileira deslanchar, diz Curado, presidente do Ultra, detalhando a reorganização da Ipiranga

Sob intenso escrutínio de analistas e investidores desde o fim de 2017, diante da piora do desempenho da Ipiranga e, mais recentemente, da revisão das expectativas para a economia brasileira, o grupo Ultra promoveu uma série de mudanças dentro de casa e confia que as medidas vão recolocá-lo na rota histórica de crescimento. Um dos principais ajustes se deu justamente na distribuidora de combustíveis, cujo esforço segue concentrado em estreitar a relação de oito décadas com os donos de postos e conta com duas novas diretorias que no futuro poderão trazer receitas adicionais. "Acreditamos que a Ipiranga continuará aprimorando os resultados. O maior desafio é a economia brasileira deslanchar", disse ao Valor o presidente da Ultrapar, Frederico Curado, que assumiu o comando de um dos maiores conglomerados brasileiros há quase dois anos.

Com cinco negócios distintos, nas áreas de distribuição de combustíveis e de GLP, especialidades químicas, armazenamento de granéis líquidos e varejo farmacêutico, o grupo está bastante exposto às variações do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Assim, se a economia doméstica não vai bem, todas as empresas sentem em maior ou menor grau.

Para auxiliá-lo na condução desses negócios, o Ultra instituiu no início deste ano cinco conselhos consultivos, um para cada empresa, composto por quatro membros: Curado, o diretor financeiro e de relações com Investidores André Pires, e dois nomes escolhidos no mercado. Antes, o grupo já havia renovado seu conselho de administração. O colegiado passou a contar com dez membros, entre os quais José Gallo, por 20 anos presidente da Lojas Renner, e Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro Nacional, e ganhou dois novos comitês.

Responsável por mais de 80% da receita líquida do Ultra no ano passado, de R$ 90,7 bilhões, a Ipiranga tem como principal negócio a distribuição de combustíveis e se reorganizou para explorar melhor suas operações adjacentes, cujo foco estava limitado a atrair tráfego para o posto. "Queremos olhar isso como um negócio e gerenciar como negócio", explicou Curado, referindo-se à criação de uma diretoria voltada para gestão da rede de franquias am/pm e outra que abarca a plataforma digital de relacionamento com seus clientes.

Presente em cerca de 2,5 mil postos da bandeira, ou o equivalente a um terço da rede, as lojas am/pm geram vendas de R$ 2 bilhões por ano. Para tocar essa área, o grupo trouxe para dentro de casa, no início do ano, o ex-diretor-geral da Brazil Fast Food Corp (BFFC), da rede Bob's, Marcello Farrel. Em outra frente, o "Km de Vantagens", maior programa de fidelidade do país com uma base de 30 milhões de CPFs (pessoas) participantes, e o aplicativo "Abastece Aí" ficaram sob o guarda-chuva da nova diretoria liderada pelo executivo Jerônimo dos Santos.

Miguel Lacerda se concentrará na diretoria da rede de distribuição de combustíveis. Ele tinha sob sua gestão essas duas áreas.

Assim como Farrel, Santos se reporta ao diretor-superintendente da Ipiranga, Marcelo Araújo. "O combustível ainda é central, mas os outros negócios estavam na sombra", comentou Curado. Neste momento, está em discussão o modelo de negócios que poderá destravar valor dessas adjacências, ao mesmo tempo em que a Ipiranga dá continuidade à migração da rede para um novo modelo de bonificação (atrelado ao resultado da venda de combustíveis) e aos investimentos em infraestrutura logística, reforçados com a participação no consórcio com as rivais BR e Raízen que venceu leilões de terminais portuários em Vitória (ES) e Cabedelo (PB). Se considerado o investimento no terminal de Vila do Conde (PA), arrematado em leilão pela Ultracargo, o investimento total somente nesses projetos chega a R$ 1 bilhão.

Outro ponto de atenção dos analistas, a rede de varejo Extrafarma, comprada há cinco anos, já fez uma revisão de estratégia, diminuiu a velocidade de abertura de lojas e adotou a bandeira da seletividade, o que inclui avaliar com mais rigor o retorno de suas unidades - com isso, há maior depuração da rede. Com cerca de 430 lojas em 12 Estados, a Extrafarma tem hoje três vezes o tamanho de 2013 e tem registrado resultados operacionais negativos, atribuídos aos gastos elevados com novas unidades, atualização de sistemas de tecnologia e centros de distribuição.
O foco atual, diz Curado, está no adensamento das praças onde a drogaria está presente, e na preparação da empresa para a próxima rodada de consolidação de ativos desse segmento. "Vai haver um ciclo de consolidação pela frente e a Extrafarma está se preparando para isso", afirmou. O país tem 80 mil farmácias e menos de 10% respondem por 45% das vendas totais. Há muito espaço para aquisições de negócios, e até fusões, disse.

Apesar dos esforços para mostrar que a reorganização da Ipiranga trará resultados e da recuperação gradual da margem bruta da rede nos últimos trimestres, o mercado ainda é cauteloso no que se refere ao investimento em ações do Ultra. Entre o fim de 2018 e o começo deste ano, embalados pelo maior otimismo com o futuro da economia brasileira, os papéis da holding se afastaram do piso de R$ 18,10 em anos, atingido em setembro. Mas perderam fôlego e hoje são negociados em torno dos R$ 21 - bem longe dos R$ 38,95 marcados em fevereiro do ano passado, a maior cotação em pelo menos seis anos.

"O grupo está saudável operacional e financeiramente. O preço da ação reflete a expectativa de mercado", disse Curado. "Estamos investindo R$ 1,8 bilhão neste ano, pagando dividendos de 50% a 60% do lucro líquido e fazendo desalavancagem financeira que cresceu nos últimos anos, para duas vezes o Ebitda", acrescentou.

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