Fonte: Financial Times / novaCana.com
Por Alexander Landia*
A transição para os veículos elétricos é vista muitas vezes como decorrência de esforços governamentais para reduzir as emissões de gás carbônico. Em breve, porém, eles serão a opção mais barata à disposição dos consumidores, independentemente de considerações ambientais.
O que deve determinar a adoção em massa dos elétricos é o fator custo, e não as políticas de carbono. Alguns mercados emergentes já estão puxando a fila, e o restante do mundo seguirá na mesma trilha.
Era corrente na visão de muitos analistas a ideia de que os mercados emergentes ficariam para trás de Europa e América do Norte nesse quesito. Na realidade, devem ser os motoristas de países como a China que farão a transição mais cedo. Veículos elétricos pequenos e de baixo consumo, como motos e minivans de três rodas, são ideais para a modalidade elétrica, por serem leves e poderem operar com baterias relativamente baratas.
A China nunca chegou a ter uma indústria automobilística competitiva em termos globais na era dos motores a combustão. Com o atual foco do governo chinês na redução da poluição urbana, a aposta nos elétricos passa a ser uma alternativa perfeita para ganhar a dianteira num novo mercado.
As montadoras chinesas já trabalham ativamente nesse sentido. A Geely, por exemplo, é controladora da Volvo e da London Taxi Company. E enquanto no Ocidente apenas a Daimler parece em condições de produzir vans elétricas em 2018, várias empresas chinesas já puseram seus modelos de ônibus e vans elétricas no mercado. Em 2015, o gigante asiático ultrapassou os Estados Unidos, tornando-se o maior mercado para carros elétricos do mundo.
Veículos elétricos com alta milhagem, como é o caso dos táxis, já são capazes de proporcionar grandes economias para seus proprietários.
Para um taxista de Londres, por exemplo, chega a ser 30% mais barato comprar um carro elétrico hoje do que operar com um carro a diesel comprado em 2017. À medida que novas soluções de recarga de bateria forem sendo implementadas, essa disparidade de custos será ainda maior.
Mesmo os motoristas que rodam pequenas distâncias logo se darão conta da equivalência entre os modelos a diesel e os híbridos. Na expectativa da maioria dos analistas, o custo total de aquisição de um híbrido novo deve se igualar ao de um carro a diesel em meados da próxima década. Montadoras como Volvo e Peugeot trabalham para colocar no mercado versões híbridas de todos os seus modelos. Volkswagen e BMW focam esforços na criação de carros 100% elétricos, tentando equiparar custos.
No entanto, poucos analistas se deram conta da importância dos financiamentos de automóveis para facilitar a transição para os elétricos.
Ao longo da última década, a explosão de “planos de contrato pessoal” permitiu que muitos motoristas europeus e norte-americanos adquirissem carros que antes não poderiam bancar. Na verdade, eles não chegaram a adquirir seus carros — ao menos num primeiro momento. Trata-se antes de um leasing com opção de compra a preço fixo ao final do contrato.
Ao invés de anunciar preços, as montadoras competem para oferecer as menores taxas mensais de leasing. Para funcionar, porém, esse sistema precisa ser capaz de avaliar com precisão o valor futuro de cada modelo na condição de usado. Caso este seja menor que o valor da opção de compra, o melhor para os clientes será devolver o veículo ao término do contrato, e as empresas terão de amargar prejuízos.
Eis aí um fator novo, capaz de mudar o cenário. O valor dos carros a diesel usados está sob forte pressão: o sucesso do sistema de leasing inundou o mercado de seminovos. Além disso, o escândalo dos testes de emissões fraudados pela Volks ajudou a reduzir a demanda por modelos a diesel de segunda mão. À medida que mais elétricos chegam às ruas, o valor residual dos modelos tradicionais deve cair ainda mais.
Para compensar, as taxas mensais de leasing para carros a diesel já começaram a subir. Segundo um levantamento da revendedora online Parkers, com sede no Reino Unido, desde 2016 houve um aumento de 57% nas taxas para um Audi A3, por exemplo. Paralelamente, as taxas para veículos elétricos devem cair — em parte devido ao barateamento das baterias.
Outro fator, ainda mais importante, é que os elétricos sofrerão cada vez menos depreciação que os modelos tradicionais. O site americano Autolist apontou o Tesla Modelo S como o melhor colocado num ranking de manutenção do valor de venda nos Estados Unidos. Com isso em mente, as concessionárias podem estipular preços maiores para a opção de venda no caso dos elétricos, reduzindo proporcionalmente os custos mensais de leasing.
Os modelos mais populares da Tesla, o Chevrolet Bolt e o Nissan Leaf vêm todos com garantia de oito anos para as baterias. Baterias usadas retêm um valor considerável mesmo depois de vencidas. Elas podem ser utilizadas por pelo menos mais dez anos em estações de armazenamento, fornecendo energia para redes elétricas em momentos de desequilíbrio causados pela geração de energia renovável. É muito mais vantajoso reaproveitar uma bateria velha do que desmontá-la para reciclar os componentes.
Serão os fatores econômicos, e não os ambientais sozinhos, que vão nos levar a adotar os modelos elétricos num prazo mais curto. Já é possível constatar isso em países como a China, onde a preocupação com o meio ambiente existe, mas são os baixos custos que vêm impulsionando a transição.
* Alexander Landia é presidente da The Mobility House, empresa especializada em soluções de recarga e armazenamento de energia
Financial Times
Tradução e adaptação novaCana.com