O Globo
Do Oiapoque ao Chuí. A máxima já conhecida pela maioria dos brasileiros é a nova meta que está sendo perseguida pela indústria do petróleo. Se no extremo Norte do país, a exploração na Foz do Amazonas ainda depende de aval ambiental do Ibama, as petroleiras, lideradas pela Petrobras, já iniciaram investimentos para desbravar o Sul do Brasil com a pouco conhecida Bacia de Pelotas.
No Sul, Pelotas foi leiloada em dezembro de 2023 pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), quando a Petrobras, que já havia perfurado em águas rasas na região no início dos anos 2000, adquiriu 29 blocos na bacia.
Do total, formou dois consórcios, um com a Shell (com fatia de 30%) e a chinesa CNOOC (20%) — a estatal tem os 50% restantes; e outro só com a Shell (30%) — nesse caso, a Petrobras tem 70%. A Chevron adquiriu sozinha 15 blocos em Pelotas.
Passados dez meses, Pelotas vem chamando a atenção das companhias, após os bons resultados que vêm sendo registrados na Namíbia, na costa da África, onde são estimadas reservas de até 13 bilhões de barris de petróleo com as descobertas feitas por empresas como Galp, Chevron, TotalEnergies, Shell e outras.
Risco de voltar a importar
A indicação é que Pelotas tenha a mesma formação geológica desde os tempos de Gondwana, quando um supercontinente incluía os territórios atuais da América do Sul e África, por exemplo. O geólogo Pedro Zalan explica que os reservatórios e as rochas geradoras na região dos dois continentes podem ter formação semelhante.
— A semelhança é total. E Pelotas é maior e mais profundo em relação à Namíbia. Pelotas pode ter uma reserva entre 10 bilhões a 15 bilhões de barris. Por isso, vimos uma procura enorme das petroleiras pela região. O Brasil precisa de novas reservas, já que o pré-sal vai atingir o pico em 2030. E o atraso na Margem Equatorial preocupa. Sem isso, podemos ser importadores de petróleo já em meados da próxima década — afirma Zalan.
As reservas provadas do Brasil são da ordem de 15,9 bilhões de barris.
Roberto Ardenghi, presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), compartilha uma avaliação semelhante. Para ele, sem novas áreas, o país corre o risco de ter de importar petróleo. Segundo ele, as empresas que arremataram as áreas no fim de 2023 já estão se preparando para contratar sísmicas para explorar Pelotas, mas lembra que o início de produção levará tempo.
— A sísmica deve levar de três a quatro anos. Depois, é preciso perfurar um poço para encontrar petróleo. Em seguida, são necessários novos poços para comprovar a viabilidade econômica, e a ANP precisa aprovar o plano de desenvolvimento. Podemos levar ao todo um período de 12 anos até iniciar a produção. Mas, antes disso, é preciso comprovar a tese geológica — diz Ardenghi.
Diferente do Norte do Brasil, onde já há uma mobilização de cidades e de ambientalistas com a produção, o Sul ainda espera o início das primeiras atividades do setor. Para ele, devem servir de base cidades como Porto Alegre, Rio Grande, Chuí e Pelotas, todas no Rio Grande do Sul.
— Essas devem ser as cidades afetadas. Mas é preciso estudar. É diferente da Foz do Amazonas, na Margem Equatorial, onde Suriname e Guiana já fizeram descobertas na mesma bacia. Em Pelotas ainda não temos isso.
Segundo a Petrobras, os blocos em Pelotas vão elevar a área de exploração da estatal dos atuais 30 mil para 50 mil quilômetros quadrados. Entre os planos da companhia está o desenvolvimento de projetos conjuntos de energia eólica em alto-mar.