O Estado de São Paulo
Baixíssimo investimento e uma operação extremamente flexível foi a fórmula encontrada pelos sócios da SSOil, minirrefinaria concluída em 2022 no noroeste de São Paulo, para entrar em um mercado dominado pela Petrobras. O projeto nasceu após sinais dados pelo governo Bolsonaro, de que a estatal seguiria a política de paridade de importação (PPI). Mas, desde o último semestre do mesmo governo, os preços dos combustíveis se descolaram do mercado internacional, e o sinal amarelo foi acionado.
“Nós fizemos um projeto simples já imaginando que ia dar tudo errado”, disse ao Estadão/Broadcast o presidente da SSoil, Ricardo Moura Jr., também diretor da Refina Brasil, associação que reúne as refinarias privadas. “Eu queria ter um custo fixo baixíssimo, uma unidade com custo inicial de implantação muito baixo, para ter uma taxa de retorno mais rápida para os meus investidores”, explicou.
Desde o segundo semestre de 2022, a unidade luta para fechar as contas no azul. Os planos de dobrar a capacidade atual de processamento de 12,5 mil barris de petróleo por dia — atingida no segundo semestre do ano passado —, um investimento de R$ 270 milhões, foi colocado em modo de espera, apesar do processo de licenciamento ter sido iniciado.
A ideia de construir mais duas unidades do Rio Grande do Norte e Espírito Santo, além de uma biorrefinaria para HVO (diesel verde) e SAF (combustível de aviação sustentável, na sigla em inglês), também entrou em banho-maria.
A saída da Starboard Partners do capital da empresa, “por já prever o que estava por vir”, segundo Moura, foi outro fator que afetou os planos dos dois sócios remanescentes, Moura, com origem no setor sucrooalcoleiro, e Rafael Rocha Miranda, ex-Raízen e sócio da Mercúria Trading.
O lado positivo, afirmou Moura, é a agilidade que uma administração menos complexa permite, como a flexibilidade com fornecedores para aproveitar oportunidades do mercado. Ele conta ainda com a experiência dos chamados “cabeças brancas do setor de petróleo”, aposentados do setor, que integram sua equipe. “Eu tinha que ter uma comercialização onde eu trabalhasse no mercado spot (à vista), onde eu não fosse um garantidor de abastecimento, mas um segundo fornecedor, complementar, de nicho, de oportunidade”, disse, informando que com essa estrutura é possível tomar decisões diariamente.
Olho no agro
A SSoil compra petróleo da Argentina, Bolívia, Argélia, Houston e da própria Petrobras. Recentemente, recebeu um navio da Petrobras com o petróleo da província de Urucu, na Amazônia, e parte do diesel que vem da Rússia.
“Eu estou aqui na fronteira com Mato Grosso do Sul, na fronteira com o noroeste do Paraná, Triângulo Mineiro e Mato Grosso lá em cima. Então, nós estamos aí no grande crescimento da atividade agrícola. Produção de diesel, produção de produtos especiais como aguarrás para a indústria de tinta, gasolina, tudo isso você tem um consumo sempre crescente aqui na região, que é uma região de expansão agrícola”, informou.
Segundo Moura, a SSoil consegue ser competitiva, mas a margem de lucro desaparece quando a Petrobras começa a trabalhar com PPI muito abaixo do mercado internacional, como vem ocorrendo. O diesel da estatal ficou mais de um ano sem reajuste e mantém uma defasagem de cerca de 6%, apesar da alta do último dia 1º, o mesmo índice da gasolina, há 211 dias sem reajuste.
Para ele, o governo tem que definir uma política para o setor de uma forma clara, e não “ficar ordenando a Petrobras a empurrar o PIB”, disse, em referência à declaração feita esta semana pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard.
Segundo Moura, se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, conseguir reduzir o preço do petróleo a US$ 45 o barril, como vem apregoando, a Petrobras não teria mais capacidade financeira de vender petróleo a esse preço, e isso poderia beneficiar o refino privado. Mas Moura ressaltou que não tem como apostar que o governante norte-americano vai conseguir êxito nessa redução.
“O que a gente aposta é manter o nosso custo o mais baixo possível, sobreviver a essa agressão de mercado que a Petrobras está fazendo de operar constantemente a níveis muito abaixo do preço do mercado internacional”, avaliou.
Mas, se o preço cair, “a Petrobras não vai poder mais subsidiar preço aqui no mercado local e vai fazer exatamente o que aconteceu no final do governo Dilma (Rousseff) e no final do governo de (Michel) Temer. Ela vai operar acima do PPI (para recuperar margem), e não desejo isso. Eu gostaria que o mercado fosse baseado em um preço de mercado”, concluiu.