Fonte: Valor Econômico
A Petrobras decidiu colocar a Liquigás à venda novamente, depois que a compra pela Ultragaz foi reprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência (Cade) no fim de fevereiro. A petroleira chegou a avaliar a alternativa de fazer uma oferta inicial de ações (IPO) na bolsa, mas optou por um novo processo de venda de 100% da empresa. Desta vez, para evitar problemas com o Cade, a ideia é procurar interessados entre grupos estratégicos estrangeiros e investidores financeiros, de acordo com duas fontes.
Bancos de investimento começaram a ser avisados da decisão na semana passada. Houve uma avaliação de que uma oferta de ações teria um desconto grande em relação aos R$ 2,8 bilhões que o grupo Ultra se dispôs a pagar. Além disso, num IPO, a Petrobras receberia apenas uma fatia do valor da distribuidora de gás GLP (cozinha), uma vez que não seriam vendidas 100% das ações.
Para uma terceira pessoa, a decisão do Cade, em 28 de fevereiro, sinalizou que a autoridade antitruste não aprovaria a compra por nenhuma outra empresa relevante do setor em operação no país, o que deixou poucas opções para a Petrobras no mercado local.
A venda da Liquigás faz parte do plano de desinvestimento da estatal, que busca reduzir seu endividamento e colocar o foco em sua atividade principal, de exploração de petróleo em águas profundas.
O primeiro processo de venda da Liquigás aconteceu no segundo semestre de 2016, com o anúncio da venda para a Ultragaz em novembro daquele ano. A distribuidora atraiu o interesse de empresas como a turca Aygaz e a Gávea Investimentos, de Armínio Frag, e de empresas estabelecidas no setor, como a holandesa SHV (Supergasbras), Nacional Gás, Copagaz e Consigaz. Mas a proposta da Ultragaz foi muito superior às demais, porque embutia um prêmio pela liderança deste mercado.
Por causa da reprovação pelo Cade, a Petrobras recebeu no mês passada R$ 286 milhões da Ultragaz, multa que estava prevista em contrato em caso de a venda ser barrada pelos reguladores.
As empresas chegaram a propor ao Cade a venda de um pacote de ativos equivalente a 45% da Liquigás, mas não houve acordo. A relatora do caso, a conselheira Cristiane Alkmin, disse que teriam que ser vendidos 65% da Liquigás. Ela sugeriu que a Petrobras buscasse uma compradora com participação inferior a 10% do mercado. De acordo com ela, a empresa resultante da união entre Ultragaz e Liquigás teria 46% do mercado de gás de cozinha residencial. Hoje, as quatro maiores empresas detêm 85% desse mercado, bastante concentrado.
Durante o julgamento no Cade, o advogado da Petrobrás, Alex Messeder, chegou a dizer que no processo de venda foram procurados mais de 40 potenciais interessados, mas que poucos se interessaram de fato.