Fonte: DCI
Contrariando a tendência global de grandes petroleiras, que estão fazendo investimentos significativos em fontes de energia renováveis, a Petrobras segue priorizando o petróleo em razão do momento econômico enfrentado pela companhia nos últimos anos.
“A nossa empresa é de energia, não de petróleo. Mas devido à crise, focamos no que somos melhores, que é a operação em águas profundas. Por questão de sobrevivência, tivemos que investir no que dá retorno”, declarou a gerente executiva de relacionamento com investidores da Petrobras, Isabela Rocha, em evento para acionistas em São Paulo, no final de março.
Em dezembro, a estatal aprovou seu plano de negócios e gestão para 2018-22, em que anunciou planos de investir US$ 74,5 bilhões no período. Desse total, 81% serão destinados à exploração e produção, 18% para refino e gás natural e 1% para todas as demais áreas.
Em resposta a questionamento do DCI, a estatal declarou que “a orientação da Petrobras de focar suas atividades no setor de petróleo e gás preserva as competências tecnológicas desenvolvidas pela companhia em outras áreas com potencial de desenvolvimento” e que “tem como uma de suas estratégias se preparar para um futuro baseado em economia de baixo carbono”.
O analista de mercado da Safira Energia, Lucas Rodrigues, aponta que além da questão econômica, o fato da Petrobras ser uma estatal torna qualquer mudança de foco mais lenta.
“Toda operação é mais burocrática em comparação a um fundo de investimento, por exemplo. Ainda mais pelo processo recente que a petroleira tem passado. A Petrobras tem buscado um portfólio de energia alternativa, mas ainda são iniciativas pequenas. Não ocorre no mesmo ritmo de outras empresas”, avalia.
A professora de finanças do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais de São Paulo (Ibmec/SP), Rina Pereira, acredita que a estatal ainda quer aproveitar o potencial de petróleo e gás do País por um bom tempo.
“O cerne da Petrobras é esse. A empresa não é tradicionalmente uma companhia inovadora, mas deveria mudar o foco. Não sabemos se está preparada para essa mudança de estratégia.”
A Petrobras planeja a construção de uma planta piloto eólica offshore (alto-mar) para obter informações para subsidiar decisões futuras de empreendimentos no setor. A previsão é de que o projeto seja implantado até meados de 2021.
Atualmente, a empresa tem em operação uma usina piloto de geração de energia fotovoltaica. Instalada no Rio Grande do Norte, tem capacidade de 1 megawatt (MW) e, de acordo com a estatal, busca um maior desenvolvimento deste tipo de sistema de geração de energia.
Diversificação de fontes
Alinhado aos objetivos do Acordo de Paris, o Banco Mundial anunciou em dezembro do ano passado que não irá mais financiar a exploração e a extração de petróleo e gás depois de 2019.
Antes mesmo dessa decisão ser concretizada, já ocorria uma movimentação das principais empresas de petróleo do mundo de diversificar o portfólio e aumentar investimentos em fontes alternativas de energia.
Em julho de 2017, a Shell divulgou planos de investir até US$ 1 bilhão por ano em sua divisão de novas energias. No Brasil, a companhia atua na produção de biocombustíveis através da Raízen, uma joint venture com a Cosan.
Em novembro do ano passado, a ExxonMobil anunciou investimentos no mesmo valor em projetos de energia alternativa, incluindo biocombustíveis de algas marinhas e biodiesel feito de resíduos agrícolas.
Para Rodrigues, além das metas estabelecidas pelo acordo, esses investimentos também representam uma diversificação estratégica das petroleiras.
“Os custos de produção de fontes de energia eólica e solar estão se reduzindo a ponto de grandes conglomerados considerarem estes projetos como oportunidades de investimentos”, pondera o analista.
Rina aponta que essa estratégia também considera a escassez de petróleo no longo prazo. “As empresas estão diversificando pensando no futuro. O petróleo é um recurso finito.”
Em fevereiro, a BP Energy publicou um panorama do setor de energia, prevendo que o crescimento de países em desenvolvimento aumentará em um terço a demanda global por energia e que o mix de fontes será cada vez mais diversificado, com petróleo, gás, carvão e combustíveis não fósseis representando 25% cada.
“Testemunhamos uma crescente concorrência entre diversas fontes, impulsionadas pela abundância na oferta de energia e pelas melhorias contínuas em eficiência. A demanda energética será atendida pelo mix mais diversificado”, declarou o economista-chefe da BP, Spencer Dale, em coletiva de imprensa. A britânica tem empreendimentos em energia eólica, solar e biocombustível. No Brasil, opera três usinas de biocombustível, que possuem capacidade de 900 milhões de litros de etanol equivalente por ano.
“A estratégia da companhia é investir onde possa construir negócios comercialmente viáveis, em escala” declarou a BP, em nota, ao DCI.