Fonte:Valor Online
Os resultados ainda são incipientes, mas as reformas de Previdência e tributária são essenciais e devem permanecer como prioridade na agenda governamental, segundo empresários que representam as maiores companhias do Brasil, homenageadas ontem no prêmio “Valor 1000”. As incertezas em relação à economia global e seus reflexos para o Brasil, que não conseguiu engrenar uma retomada prevista para este ano, reforçam a importância dessas mudanças, na visão dos executivos.
As reformas estruturais atualmente em discussão são um passo importante para o país voltar a crescer de modo sustentado, diz Benedito Braga, diretor presidente da Sabesp. “Elas poderão trazer estabilidade para as contas públicas e segurança, abrindo a possibilidade de novos investimentos.” Sua avaliação coincide com a de Flavio Silva, presidente da Atlas Schindler, que defende o avanço de reformas que melhorem o ambiente de negócios como estímulo ao crescimento: “Estou otimista, pois com a reforma da Previdência encaminhada acredito que criamos as condições de contorno necessárias para agirmos em outras frentes, como a reforma tributária”.
Existe, porém, uma questão de ritmo para os ajustes. A equipe econômica do governo tem falado das ações que são necessárias, como a redução dos gastos públicos, a realização das reformas, a abertura da economia e a redução do sistema tributário. “As ações que precisam ser tomadas já são conhecidas, a grande questão é quando elas serão realizadas. O quanto mais rápido ocorrer, mais cedo o país voltará a crescer de forma sustentável, que é o desejo de todos", afirma Heráclito Brito, presidente da Rede D'Or, escolhida como Empresa de Valor.
Uma vez que já se trabalha em uma agenda macroeconômica favorável à retomada, o país deve encaminhar outras medidas para garantir o crescimento de modo sustentado, diz Fernando Musa, presidente da Braskem. "É preciso agora um esforço para endereçar a reforma tributária e outras reformas importantes para termos um maior dinamismo na economia e destravar investimentos em infraestrutura que são cruciais para viabilizar esta nova fase de crescimento", diz.
Mauricio Harger, diretor-geral da CMPC no Brasil, defende também a ampliação da pauta: "Investir em medidas como desestatização, por meio de concessões, privatizações e parcerias público-privadas, para estimular a economia e atrair investimentos em infraestrutura de áreas como transporte hidroviário, energia e saneamento". Ele também enfatiza a importância da simplificação tributária e da modernização da legislação, para promover segurança jurídica e diminuir custos e burocracia.
O investimento em infraestrutura é central para a retomada, avalia Eduardo Augusto Ayroza Galvão Ribeiro, presidente da CBMM. "A infraestrutura gera emprego e é o que o Brasil está precisando. Dentro de infraestrutura, temos o setor de saneamento, que é fundamental para a saúde. Depois disso, fica faltando só educação."
Pensando no longo prazo, investimentos em educação devem ser prioridade, afirma Lucinaldo Jerônimo Ângelo, diretor geral da Baterias Moura. "A reforma da Previdência já foi aprovada, acho que vai ser bom para o país, e temos a reforma fiscal também, que pode ser boa. Mas importante mesmo é a reforma da educação."
Os executivos consideram fundamental ter um quadro claro e estável para a retomada dos investimentos. Especialmente nas áreas ligadas à infraestrutura. "Em um setor regulado, como o de transmissão de energia elétrica, quaisquer reformas que possam gerar mais estabilidade e previsibilidade são importantes. Tudo o que o governo empreender nesse sentido pode contribuir para o crescimento sustentado", diz César Ramirez, presidente interino da ISA Cteep.
O presidente da Copersucar, uma das maiores comercializadoras de açúcar e etanol do mundo, João Roberto Teixeira, avalia que "a sustentabilidade do equilíbrio das contas públicas" é um dos fatores que deve levar o Brasil a crescer de forma sustentada. Ele defende também que o segundo fator de crescimento e de geração de empregos deve ser um "amplo programa de concessões nos setores de infraestrutura".
Stephane Dezaunay, presidente da PGS do Brasil, afirma que, no setor de óleo e gás, "o Brasil precisa manter a previsibilidade no negócio: estabilidade na questão tributária, manter os calendários de rodadas do ANP que prevê previsibilidade de até três anos. Assim as empresas podem montar plano de negócio no futuro com estabilidade".
Além das reformas estruturais, o Brasil precisa ampliar a oferta de crédito e retomar a geração de emprego, afirma Ricardo Cons, presidente da Electrolux. "No nosso setor, a retomada de oferta de crédito é essencial." Para ele, a recuperação do mercado de construção civil também é fundamental. "Não só pela questão do déficit habitacional, mas pensando em oferta de emprego. O importante para o otimismo é a retomada de emprego."
Embora em um ritmo mais lento que o desejado, é possível identificar avanços na economia. Eduardo Parente, presidente da Yduqs, antiga Estácio Participações, vê passos relevantes dados nos últimos anos para viabilizar uma trajetória de crescimento sustentado. "Esse é um processo que não traz resultados imediatos", ressalta o executivo. "O cenário com inflação baixa e juros em queda dá confiança numa retomada."