Fonte: Valor Econômico
Primeira petroleira estrangeira a se tornar operadora de um campo no pré-sal, após concluir este ano a aquisição do campo de Lapa, a francesa Total pretende investir cerca de US$ 1 bilhão por ano em seus ativos no Brasil, nos próximos cinco anos. O presidente global da multinacional de origem francesa, Patrick Pouyanné, acredita que, depois dos mais de US$ 5 bilhões investidos pela companhia no país, desde 2010, a empresa possui hoje uma “base forte de ativos” no mercado brasileiro, mas que ainda há espaço para novos negócios, incluindo os setores de gás natural e energias renováveis.
“Temos uma posição robusta, mas a intenção não é dormir. E não perder oportunidades. Tem muito por vir”, disse Pouyanné, em entrevista exclusiva ao Valor, durante rápida visita ao Rio, para participar de encontro sobre transição energética com o Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e executivos do setor de óleo e gás.
Segundo o executivo, a Total não mira apenas oportunidades em exploração e produção de petróleo. “[Vamos investir em] exploração e produção, com certeza, mas também em GNL [gás natural liquefeito]. E também estamos olhando renováveis, olhando oportunidades para desenvolver a marca Total no Brasil”, disse.
Com um faturamento anual de US$ 150 bilhões, a petroleira francesa tem um plano de investimentos globais de US$ 13 bilhões a US$ 15 bilhões por ano até 2020, com foco em três eixos: produção de petróleo em águas profundas com baixo custo de extração, expansão na cadeia do gás natural e expansão rentável em renováveis.
Para Pouyanné, a entrada no mercado brasileiro de geração de energia pode ser “uma opção de monetização” do gás que a companhia irá produzir, no futuro, no pré-sal. Ele conta, no entanto, que a companhia também avalia oportunidades para entrar como supridora de GNL para o mercado brasileiro. Em 2016, a Total assinou um acordo de cooperação com a Petrobras e assumiu a opção de compra de 50% da Termobahia (que opera as termelétricas Rômulo de Almeida e Celso Furtado) e de compartilhamento do terminal de GNL da Baía de Todos os Santos.
“A aliança estratégica [com a Petrobras] inclui [o setor de] energia. Estamos trabalhando para implementar isso. A Petrobras tem ambição em renováveis. Nós também. Nós somos uma companhia solar. Queremos investir”, comentou ele, ressaltando que a empresa já possui cerca de 50 megawatts (MW) de capacidade em projetos solares no país, através da Total Eren.
Questionado se a empresa tem interesse no programa de parcerias da Petrobras em refino, ele, contudo, descartou a possibilidade de aquisições no segmento.
Companhia planeja investir em exploração e produção de óleo e gás, GNL e renováveis, mas descarta refinarias
A Total produz atualmente, no Brasil, cerca de 20 mil barris diários de óleo equivalente (boe/dia), algo em torno de 1% da produção global de óleo e gás da empresa. O executivo, contudo, explica que o Brasil é, hoje, um mercado estratégico para a petroleira francesa, que possui forte presença na costa da África, Oriente Médio e Mar do Norte, onde reforçou recentemente sua presença por meio da compra da dinamarquesa Maersk Oil.
Nos últimos anos, a Total construiu, por meio de aquisições, uma base de ativos que promete elevar a produção da empresa no Brasil para mais de 100 mil boe/dia em 2022, segundo informações divulgadas ao mercado pela petroleira em fevereiro.
Esse volume seria suficiente para gerar um fluxo de caixa superior a US$ 1 bilhão.
Entre os principais projetos da companhia no país, Pouyanné classifica o megacampo de Mero (ex-Libra), no pré-sal da Bacia de Santos, como “uma joia do portfólio” da Total. A francesa é sócia da Petrobras, com uma fatia de 20%, no projeto, que começou a produzir em fase de testes em novembro.
Ainda no pré-sal, a petroleira possui também 20% do projeto de Gato do Mato, operado pela Shell, e, em janeiro, concluiu a compra de uma fatia de 22,5% da Petrobras na concessão de Iara, prevista para começar a produzir ainda este ano, e uma participação de 35% (e a operação) do campo de Lapa.
A aquisição de Lapa e Iara, por US$ 1,95 bilhão, foi o principal movimento da companhia no Brasil desde 2013, quando a empresa participou do leilão de Libra e da 11ª Rodada de concessões de blocos exploratórios. A multinacional chegou a
participar, sem sucesso, das licitações de 2017 e da 15ª Rodada, da semana passada, e continuará em busca de novos ativos exploratórios. “Com certeza vamos participar [dos próximos leilões do pré-sal]”, afirmou Pouyanné.
O presidente da Total também ressaltou avanços regulatórios do setor de óleo e gás no Brasil. Ele destacou como um “debate positivo” a flexibilização da política de conteúdo local e a regulamentação do ‘waiver’ [pedido de perdão pelo não cumprimento dos compromissos de nacionalização]. “Acredito que houve uma grande evolução no último ano”.
Sobre o processo de licenciamento ambiental da campanha exploratória da empresa na Bacia da Foz do Amazonas, que já se estende por anos, Pouyanné acredita que a empresa e o Ibama encontrarão uma solução.
“Acho que não há problema com os debates [no processo de licenciamento]. É bom para o país e o ambiente. Nós da Total decidimos, por exemplo, não perfurar mais no Ártico porque consideramos que era caro e ecologicamente arriscado. Na Foz do Amazonas, estamos olhando com cuidado”, comentou. “Temos que ir passo a passo, vamos achar caminhos. Respeitamos as leis”, completou.
Questionado sobre a eleição presidencial brasileira este ano, o executivo disse que o processo é normal e faz parte das democracias. Com relação à situação econômica do país, ele comentou que o Brasil passou por anos difíceis, mas que enxerga melhoria do crescimento econômico. “Sou otimista sobre o potencial do país”, afirmou. “Mas estabilidade é o mais importante para o futuro”.