Fonte: O Globo
A discussão sobre quem é o culpado pelo aumento dos preços da gasolina no Brasil para os consumidores chegou à publicidade. A briga, que coloca Petrobras, postos e distribuidoras de um lado e o governo do outro, ganhará novo capítulo com uma campanha publicitária milionária promovida pela Associação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, a Plural (ex-Sindicom). Os comerciais — que serão veiculados a partir desta sexta-feira em TV, mídia impressa, internet e outdoors — vão atribuir a alta dos preços à carga tributária, que representa cerca de 45% do valor total.
A ideia da campanha surgiu em fevereiro, após o governo questionar os motivos de as reduções dos preços feitas pela Petrobras nas refinarias não estarem chegando ao posto. Na ocasião, o governo indicou que iria acionar o órgão de defesa da concorrência, o Cade, e o Ministério Público para investigar se os postos e as distribuidoras estariam praticando cartel.
A Petrobras adotou nova política de preços com revisões quase que diárias em junho de 2017. De lá para cá, entre altas e baixas, o preço da gasolina na bomba subiu 18,3%, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). O governo federal ficou preocupado com as críticas e escalou Moreira Franco, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, para conversar com o presidente da Petrobras, Pedro Parente.
Lá fora, imposto cai quando preço sobe
Segundo Leonardo Gadotti, presidente executivo da Plural, a campanha, pensada em conjunto com os associados, como a BR Distribuidora e a Ipiranga, é uma forma de esclarecimento à população, após o “alvoroço” criado pelo governo. Os comerciais, que serão veiculados por três meses, têm como mote “Preço da gasolina. O problema não é o posto. É o imposto”.
— Em fevereiro, o governo fez um alvoroço falando sobre denúncias de cartel. Os preços não caíram não por uma questão de margem dos postos e, sim, por causa do imposto. A carga tributária é 45% do preço final, seguida de 28% do refino, 13% do etanol anidro e 14% da logística. Quando a Petrobras anuncia redução na refinaria, o valor do imposto não cai — disse Gadotti.
A campanha faz coro às declarações de Parente. Em fevereiro, ele destacou que o “preço da Petrobras é, em média, menos de um terço do que acontece nas bombas. Então, o problema não é da Petrobras”. Além de Moreira Franco, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, chegou a afirmar que a política de preços da Petrobras seria revista. Álvaro Rodrigues, da Fullpack, agência responsável pela campanha, lembrou que a ideia do comercial, que traz pessoas usando camisas com as palavras “posto” e “imposto”, é ser didático. Na peça, uma das atrizes diz “os ajustes no preço da gasolina não têm sido comunicados de forma adequada”.
— Falta aprofundar esse debate na sociedade — disse Rodrigues.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, a campanha de esclarecimento é bem-vinda. Ele afirmou que, se o país tem preços que acompanham os valores internacionais, é preciso rever a atual política tributária. Em países da Europa e nos EUA, afirmou, há redução de impostos quando os preços sobem muito:
— Nos EUA, os impostos já chegaram quase a 50% do preço da gasolina e, hoje, representam cerca de 18%. Na Europa, é da ordem de 30%.