Valor Econômico
Ao mesmo tempo em que se preparam para fornecer componentes para as futuras linhas de montagem de modernos veículos híbridos e elétricos, os fabricantes de autopeças percebem a oportunidade de aproveitar o conhecimento brasileiro em carros e motores a combustão para fazer do país um polo exportador para mercados que ainda usarão esse tipo de veículo, como vizinhos da América Latina e países do Oriente Médio e África.
Essa chance se tornou ainda mais real com a recente regulamentação do Mover, programa de incentivos do governo federal para o setor automotivo. O Mover permite a importação de linhas de montagem com impostos reduzidos.
Para Claudio Sahad, presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes (Sindipeças), o benefício traz a oportunidade de o Brasil trazer da Europa e Estados Unidos linhas que começam a ser desativadas para dar lugar às que produzem carros elétricos.
Segundo ele, isso não significa deixar de investir nos projetos dos carros mais modernos. “São ações paralelas, que podem ajudar a incrementar as exportações”, afirma o dirigente.
“O mundo produz 80 milhões de veículos por ano. Desse total, cerca de 30 milhões são modelos a combustão ainda fabricados nos Estados Unidos e Europa. Se o Brasil pegar 10% disso estamos bem”, destaca Sahad.
Há poucas semanas, representantes do setor automotivo encaminharam ao governo um estudo mostrando que o Brasil não está sozinho nessa disputa. Outros sete grandes produtores de veículos estão de olho nesse filão: Índia, China, Tailândia, Turquia, República Tcheca, Japão e México.
O objetivo de compartilhar essas informações com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além de outros órgãos do Executivo, é levar as preocupações do setor em relação à desvantagem brasileira em custos de produção.
Segundo Sahad, o estudo, organizado pela McKinsey, fez uma análise de competitividade. Entre os oito países com potencial para disputar o fornecimento global de veículos a combustão, o Brasil fica no sétimo lugar na comparação de custos, no sexto em incentivos fiscais e aparece em último lugar no quesito acordos comerciais. “Temos um bom campo para evoluir. Por isso estamos conversando tanto com o governo”, destaca o dirigente.
Nas conversas, os fabricantes de autopeças têm pedido medidas que os ajudem a vencer a concorrência externa, como facilidades na exportação.
O mesmo estudo, destaca Sahad, mostrou o risco de perda de participação no mercado externo. Em 2022, a receita obtida com exportações da indústria de veículos mais a de componentes alcançou US$ 15 bilhões.
Segundo Sahad, o estudo mostrou que se o atual quadro de competitividade for mantido a exportação anual do setor tende a cair para US$ 10 bilhões em 2035.
Por outro lado, se o Brasil alcançar pelo menos a média da competitividade de seus concorrentes, destaca Sahad, as vendas anuais do setor ao mercado externo poderão chegar a US$ 56 bilhões em pouco mais de dez anos.
“Se isso der resultado haverá aumento de volume e um resultado que será a força motriz de investimentos em novas tecnologias”, afirma Sahad.