Mercado de biodiesel no Brasil cresce 20,4% em 2024 e clima continua influenciando preços

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DE OLHO NO BIODIESEL – BOLETIM SEMANAL DE MERCADO DA SCA BRASIL (27 a 31/01/2025)

A produção de biodiesel no Brasil cresceu 20,4% em 2024, atingindo 9,07 milhões de m³ contra 7,52 milhões de m³ em 2023, segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Já o mercado de diesel subiu 2,57% em 2024, atingindo 67,2 milhões de m³. No entanto, o mês de dezembro apresentou forte retração de 7,0% nas vendas e uma redução na participação de mercado das três maiores distribuidoras do país, saindo de 63,2% para 60,2%, em relação ao mesmo período do ano anterior.

O Banco Central do Brasil (BC) elevou a taxa básica de juros de 12,25% para 13,25% em placar unânime e anunciou mais uma alta da mesma magnitude para a próxima reunião do dia 18 de março. A surpresa para o mercado foi a falta de sinalização para as reuniões seguintes, onde o BC ressalta que o aumento da inflação poderá trazer uma desaceleração da economia mais forte do que a esperada.

Nos Estados Unidos, o FED (Federal Reserve, o banco central americano) decidiu manter o intervalo da taxa básica de juros no patamar de 4,25% a 4,50% ao ano, o que já era esperado. No entanto, o que trouxe volatilidade ao mercado de câmbio na semana foi a confirmação do aumento das tarifas de importação dos Estados Unidos para México, Canadá e China. No Brasil, o dólar recuou 1,4% em relação ao real, fechando em R$ 5,8370 na sexta-feira.

Segundo a Assessoria de Comercialização em Commodities Agrícolas (AgRural), a colheita da safra 2024-2025 de soja no Brasil atingiu 9,3% da área cultivada até 30 de janeiro, com avanço significativo, de 3,9%, em relação à semana anterior. Mato Grosso melhorou seu ritmo após trégua nas chuvas, alcançando 14,8% da área colhida, enquanto o Paraná lidera com 25% da área já colhida. A produtividade varia conforme a região, com destaque para bons resultados em MT (65-68 sacas/ha) e preocupações no RS ocasionadas pelo estresse hídrico. No Paraná, segundo maior produtor, o rendimento ficou entre 58-60 sacas por hectare.

As previsões climáticas para a primeira quinzena de fevereiro de 2025 indicam o retorno das chuvas para a região central do Brasil, o que deve impactar negativamente o ritmo da colheita da soja. Na região Sul, as precipitações se concentrarão principalmente no Paraná e Santa Catarina, enquanto o Rio Grande do Sul enfrentará, junto com Paraguai e Argentina, condições mais quentes e secas, com temperaturas podendo alcançar 40°C, aumentando o risco de perdas nas lavouras de soja e milho.

Uma nova frente fria é esperada por volta de 10 de fevereiro, trazendo alívio para o Rio Grande do Sul. A perspectiva para o final do mês é de precipitações generalizadas pelo Brasil, o que continuará prejudicando tanto a colheita da soja quanto o avanço do plantio do milho safrinha. Para a Argentina, a manutenção do clima seco e quente pode resultar em nova revisão negativa das estimativas de produção de ambas as culturas.

Na Argentina, o governo implementou uma redução temporária nas retenciones (impostos de exportação) válida até junho de 2025. A tarifa sobre a soja caiu de 33% para 26%, enquanto para farelo e óleo de soja a redução foi de 31% para 24,5%. A medida visa estimular o farmer selling, que está em 73% para a safra velha e apenas 2,2% para a nova safra. No entanto, o mercado permaneceu relativamente parado, com produtores pedindo preços acima da paridade de exportação, retendo parte do benefício fiscal, trazendo um impacto moderado nos prêmios no óleo de soja. O contrato de março/25 de óleo de soja negociado na Bolsa de Chicago (CBOT) fechou em 46,11 cents/libra na sexta-feira (31/01), um aumento de 2,0% na semana, enquanto os prêmios do óleo de soja em Paranaguá fecharam a semana em -0,70 cents/libra, com uma variação semanal de 0,80 cents/libra. Apesar dessa oscilação nos prêmios, o flat price do óleo de soja FOB Paranaguá ficou praticamente estável (0,2%), fechando a semana a US$ 1.001/ton.


Segundo levantamento da SCA Brasil, o mercado spot de biodiesel continuou com baixa liquidez, apesar de alguma melhoria em relação à semana anterior, com muitos relatos de atraso nas retiradas por parte das usinas, distribuidores reclamando de vendas muito fracas e aumento das irregularidades na mistura de biodiesel no diesel. O volume apurado foi de 5.550 m³, com um preço médio de R$ 5.616 /m³, com PIS/Cofins e sem ICMS, leve redução de 2% em relação à semana passada.  


Segundo o Instituto Combustível Legal (ICL), cerca de 6% do mercado brasileiro de diesel operam irregularmente, não cumprindo o teor obrigatório de 14% de biodiesel, especialmente nos estados de Alagoas, São Paulo, Bahia e Amapá. A fraude gera prejuízo de R$ 0,37 por litro para distribuidoras que seguem as normas, enquanto a fiscalização é prejudicada por restrições orçamentárias e falta de pessoal na ANP, cujo recurso para despesas caiu 82% entre 2013 e 2024. A situação é agravada pela demora nos testes de verificação do combustível.

A Petrobras anunciou um aumento de R$ 0,22 no preço do diesel para as distribuidoras, que passou a vigorar a partir de 1º de fevereiro de 2025, elevando o preço médio para R$ 3,72 por litro nas refinarias. Este é o primeiro aumento do diesel desde outubro de 2023, mas a empresa destacou que, desde dezembro de 2022, houve uma redução acumulada de R$ 0,77 por litro (-17,1%). Simultaneamente, os estados aumentaram o ICMS sobre o diesel em R$ 0,06, totalizando R$ 1,12 por litro. A decisão do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) foi tomada em outubro do ano passado, com validade a partir do começo de fevereiro.

No último dia 30/01, a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Biocombustíveis (Brasilcom), Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) e Sindicato Nacional Transportador Revendedor Retalhista (SindTRR) enviaram uma carta ao Ministério de Minas e Energia (MME) expressando preocupação com as discussões sobre o aumento da mistura de biodiesel para B25. Os signatários enfatizaram a necessidade de testes rigorosos, transparentes e abrangentes antes de qualquer aumento no teor de biodiesel, destacando que a mera conformidade com especificações não garante adequação a diferentes tipos de veículos. Solicitaram que o MME realize testes de bancada e campo, inclua possíveis atualizações das especificações da ANP, e promova um debate inclusivo com todos os stakeholders para garantir uma política de biocombustíveis tecnicamente embasada e benéfica para toda a sociedade.

De acordo com a atualização mais recente nos preços semanais realizada pela ANP, o preço médio que foi negociado entre usinas e distribuidores no período entre os dias 20 e 26 de janeiro ficou em R$ 6.025,62, com uma alta de 1,1% comparado à semana anterior. Os preços subiram em todas as regiões brasileiras com destaque para o Sul, com aumento de 2,5%. Apesar desse aumento, o mercado já acumula no ano uma redução de 4,8%.

Para a próxima semana, o mercado deverá ficar atento ao impacto do aumento do ICMS e do reajuste da Petrobras nos preços do diesel. Além disso, a possibilidade de uma escalada na guerra comercial iniciada pelo Governo Trump, o progresso da safra da soja e as condições climáticas no Brasil e na Argentina poderão trazer volatilidade para o mercado de commodities.

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