Valor Econômico
O petróleo pode ser, de novo, o principal item da pauta de exportações do Brasil em 2025. A expectativa é do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP). No ano passado, o produto superou a soja, que até então ocupava a primeira posição; e se tornou líder entre principais exportações brasileiras. E, para o segmento de óleo e gás, o bom desempenho nas vendas externas pode se repetir neste ano, de acordo com Roberto Ardenghy, presidente do instituto.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), compilados pelo IBP, indicam exportações de petróleo no ano passado de US$ 44,8 bilhões. O montante foi 5,4% superior aos US$ 42,5 bilhões de 2023. Quanto ao volume físico, foram exportados 640 milhões de barris em 2024, 10% a mais do que em 2023.
Isso ocorreu em cenário de baixa das compras externas, do mesmo produto, informou ainda o IBP, no mesmo mapeamento. As importações de petróleo caíram 4,4% no ano passado frente a 2023, passando de US$ 9,1 bilhões para US$ 8,7 bilhões.
Assim, no saldo da balança comercial, resultado das exportações frente às importações, o petróleo apurou US$ 36,2 bilhões, 8% acima do verificado em 2023, quando obteve US$ 33,5 bilhões.
Ardenghy completou ainda que, em cinco anos até 2024, o petróleo produziu uma receita total de US$ 145,8 bilhões. Considerando o saldo final da balança comercial, o superávit foi da ordem de US$ 111 bilhões.
“Isso é uma amostra da pujança do setor”, disse Ardenghy.
Em média, afirmou o executivo, o país tem exportado 2,5 milhões de barris de petróleo por dia (barris/dia), o que corresponde a cerca de 1 bilhão de barris em um ano. Para este ano, continuou ele, a tendência é que esse comportamento se repita.
No entendimento do executivo, o petróleo brasileiro tem condições de aumentar oferta para o mercado externo. Segundo projeções de Ardenghy, o Brasil pode subir da oitava para a quinta posição entre maiores exportadores do mundo, até 2032.
Ele justificou sua posição ao citar o atual contexto global. Há, no momento, busca por alternativas de suprimento de petróleo, em substituição à Rússia e ao Oriente Médio. Nessas duas regiões, lembrou, conflitos elevaram riscos de interrupção de fornecimento de petróleo. Assim, o Brasil, na análise dele, poderia elevar a oferta do produto no mercado externo, a aproveitar esse contexto, notou.
“A Europa está substituindo o petróleo que era comprado da Rússia, comprando esse petróleo do Brasil”, disse.
Outro aspecto que favorece maior demanda pelo produto do país, na avaliação dele, é a qualidade do óleo brasileiro, que tem baixa emissão de gás carbônico em relação à média mundial. O óleo brasileiro tem emissão média da ordem de 11 quilos de CO2 equivalente por barril (kgCO2eq/barril), menos da metade da média mundial. Para o executivo, esse aspecto tende, ainda, a tornar o produto mais vantajoso em horizonte de médio prazo. Isso porque se prevê, nos próximos anos, consolidação de mercado internacional de carbono.
O presidente do IBP salientou, também que o mundo ainda vai comprar e consumir petróleo em larga escala nas próximas décadas – ainda que em volumes menores do que o atual nível de 100 milhões de barris por dia. Projeções citadas por ele apontam para demanda entre 60 milhões de barris/dia e 65 milhões de barris/dia em 2050.
Mas Ardenghy fez uma ressalva. A manutenção do petróleo na primeira posição na lista de principais exportações também depende da evolução, em 2025, de duas commodities “concorrentes” do produto: o minério de ferro e a soja. Ou seja, podem ocorrer vendas externas muito fortes desses dois itens em 2025, e eles podem superar o ritmo de exportações de petróleo.
Por outro lado, no segmento de derivados de petróleo o cenário é bem diferente do óleo cru. Em 2024, o país exportou o equivalente a US$ 11,7 bilhões e importou US$ 17 bilhões em combustíveis. No saldo da balança comercial, o déficit dos derivados foi de US$ 5,3 bilhões. De acordo com o levantamento do IBP, o óleo diesel seguiu como principal derivado importado, respondendo por quase 50% do total trazido do exterior, grande parte da Rússia.
Para Ardenghy, no entanto, o déficit na balança comercial de derivados tenderia a mudar em horizonte de longo prazo. Isso porque, segundo ele, há investimentos previstos em novas refinarias, que elaboram derivados nesse período, recordou. Ardenghy afirmou, no entanto, que esse cenário positivo para a balança comercial do petróleo pode ser comprometido com um possível aumento da carga tributária sobre o setor de óleo e gás.
O presidente do IBP lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a regulamentação da reforma tributária. E vetou artigo que isentava exportações de petróleo da incidência do imposto seletivo – algo que vinha sendo questionado pela indústria. Segundo Ardenghy, a expectativa é que o Congresso derrube o veto. Caso não consiga, o IBP não descarta recorrer ao Judiciário para derrubar a medida, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).