Valor Econômico
Decisão ainda não está tomada, mas presidente teria dito a interlocutores que pode realizar a troca; Nelson Barbosa assumiria o BNDES
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já confidenciou a alguns interlocutores a disposição de demitir o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. No entorno presidencial, o nome mais cotado para a função é o do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, conforme informou o Pipeline, o site de negócios do Valor. Nesse cenário, um dos cotados para assumir a instituição de fomento é Nelson Barbosa, hoje diretor de Planejamento do banco.
Mercadante desfruta da confiança irrestrita do chefe do Executivo e mantém com ele um vínculo de mais de 40 anos, que remonta à fundação do PT. Mas a escolha do eventual sucessor de Prates não foi sacramentada nem quando a substituição ocorrerá.
A notícia veiculada nesta quinta-feira (4) no jornal “Folha de S. Paulo” de que Prates pediu uma audiência com Lula para discutir sua situação na empresa, em face das divergências públicas com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, não foi bem recebida no Palácio do Planalto. A percepção foi de que Prates contribuiu para tensionar ainda mais o ambiente, e de que até hoje não aprendeu “como Lula funciona” – ou seja, que o presidente não admite ser pressionado.
A assessoria de imprensa da Presidência da República negou que Lula tenha decidido substituir Prates. Acrescentou que não há previsão de reunião entre ambos nesta semana. Lula está em agenda de viagens pelo Nordeste.
Por sua vez, o presidente da Petrobras negou em seu perfil na rede social X (ex-Twitter) que vá deixar o cargo. Ele publicou uma resposta em tom de ironia à pergunta se ele sairia da empresa: “Acho que após as 20h02. Vai pra casa jantar. E amanhã às 7h09 estará de volta na Empresa, pois sempre tem a agenda cheia”.
Confortável” no BNDES, Mercadante por ser “forçado” a aceitar mudança
Nos bastidores, entretanto, auxiliares de Lula e fontes do PT ouvidos pelo Valor confirmam a intenção do presidente de afastar Prates. Mas ressalvaram que Lula pode mudar de ideia, o que já ocorreu em outras situações.
Neste caso, todavia, veem o líder petista mais inclinado a substituir Prates, sobretudo porque tem mantido uma relação de sintonia fina com Alexandre Silveira, que, em meio ao pacote de divergências, se tornou algoz do presidente da estatal.
A relação entre Lula e Prates começou a estremecer ainda em 2023, em meio à elaboração do plano de investimentos da Petrobras, que destinava dezenas de bilhões de dólares à instalação de parques eólicos offshore. Lula, por sua vez, via como prioridade a retomada de investimentos em refinarias.
Em janeiro, Lula anunciou, em grande evento, a retomada das obras da refinaria Abreu e Lima, que foi alvo da Lava-Jato, em Ipojuca (PE). O plano de investimentos acabou destinando US$ 17 bilhões até 2028 para dobrar a capacidade de refino de petróleo e produção de óleo diesel no país.
O impasse mais recente envolveu a decisão da companhia de adiar o pagamento de R$ 43,9 bilhões em dividendos extraordinários aos acionistas, ao qual Prates se opunha. Ele acabou se abstendo na votação sobre a matéria na assembleia de acionistas.
Dias depois, diante da má repercussão do gesto, Prates publicou nota na rede social X afirmando ser legítimo que o conselho de administração se posicione “orientado pelo Presidente da República e pelos seus auxiliares diretos que são os ministros”. Foi uma tentativa de se reabilitar com Lula.
O episódio é considerado um exemplo de que o comportamento “independente” do executivo, como se o cargo não tivesse ligação com o governo, o fez perder pontos com Lula, observaram fontes palacianas. Apesar de ter a União como acionista controlador, no entanto, a Petrobras é uma empresa de capital aberto, com outros acionistas, e precisa seguir regras de governança.
O Valor apurou que o calcula o impacto de uma troca de comando na estatal, diante da recente desvalorização da companhia em meio ao impasse dos dividendos. A avaliação, por ora, é que a eventual substituição de Prates seria melhor absorvida com a confirmação de que os dividendos extras serão pagos, total ou parcialmente.
Embora seja o nome mais forte para a função no entorno de Lula Mercadante, afirma a interlocutores que está satisfeito no comando do BNDES. No entanto, se o convite vier a ser formalizado, sobretudo, como “missão”, auxiliares de Lula dizem que ele não teria como recusar.
Outros nomes que ainda aparecem na bolsa de apostas para a Petrobras são os de Magda Chambriard, funcionária de carreira da Petrobras e ex-diretora geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP); Rafael Dubeux, secretário-executivo adjunto do Ministério da Fazenda, indicado pelo ministro Fernando Haddad, para o conselho de administração da Petrobras; e Ricardo Savini, fundador da 3R Petroleum.
Procurado, Rafael Dubeux disse, por meio de sua assessoria, que seu nome não está cotado para a presidência da Petrobras. O Valor não conseguiu contato com os demais citados.